Mike Flanagan volta a acertar a mão na direção de filmes de suspense. O diretor, que nos surpreendeu em 2014 com o O Espelho, mas que decepcionou, duplamente em 2016, com Hush: A Morte OuveOuija: Origem do Mal, comandou a mais nova adaptação de uma obra de Stephen King, Jogo Perigoso, filme original Netflix que já está disponível no serviço de streaming, e não decepcionou.

Recheado de referências ao universo de King, que certamente farão os fãs do escritor delirarem, Jogo Perigoso é tenso na medida certa e conta a história de um advogado que tenta renovar a relação com sua mulher, que anda abalada, propondo uma fantasia sexual curriqueira: Algemá-la na cama. Ocorre que, por conta de um acidente de, digamos, "percurso", tudo dá errado e de repente a mulher se vê sozinha, algemada na cama e na companhia de alguns "espectadores" inconvenientes.

O filme tem poucas locações e, salvo algumas externas, passa-se praticamente num quarto de uma casa de campo. A estonteante Carla Gugino, mais conhecida como Sally Jupiter de Watchmen, e Bruce Greenwood, o audacioso Capitão Pike do Universo Kelvin de Star Trek, interpretam o casal e dão um show de química, entrosamento e dramaticidade. Foi muito legal ver um filme no qual o diretor exige de uma atriz, mais conhecida por sua beleza, e ela corresponde, provando pra Deus e o mundo que é muito mais que um mulherão e sim uma atriz com A maiúsculo. Greenwood também me convenceu. Assisti pouca coisa com ele, mas em Jogo Perigoso pude ver que trata-se de um bom ator, especialmente porque o papel lhe caiu como uma luva.


Do restante do elenco, destacam-se Henry ThomasChiara Aurelia. Ele interpreta o pai de Jessie (Carla Gugino) e ela a própria Jessie adolescente. A relação destas personagens tem importância na trama e foi legal assistir aquele garotinho, que emocionou o mundo em E.T.: O Extraterrestre, agora adulto, em um novo contexto e dividindo tela com uma atriz-mirim da nova geração.

Apesar da ótima direção e do elenco de primeira, o telefilme tem alguns probleminhas. Em uma das cenas principais do longa, toda a tensão, provocada pelos angustiantes infortúnios passados pela protagonista até aquele momento, é desperdiçada pelos exagerados efeitos visuais. O que ocorre é tão espalhafatoso que ficou difícil encarar a trama com seriedade à partir daquele ponto. Outro problema é o final estilo Charles Perrault. A "moral da história" foi totalmente desnecessária e o longa poderia ter tido uma conclusão mais digna de seu primeiro ato.

Porém, num ano repleto de adaptações ruins de livros de S.K., como A Torre Negra e IT: A Coisa, vale a pena conferir esse.




Marlo George assistiu, escreveu e já teve problemas com comprimidos, quando se engasgou com dois tic-tac´s no metrô.