Dirigido por Julia Solomonoff e estrelado por Guillermo Pfening (foto), "Ninguém Está Olhando"
mostra a luta de um viciado contra a droga mais destrutiva de todas.
Ciclos indefinidos
Tem quem defenda, com unhas e dentes, o tipo de cinema feito
pelos argentinos. Sua produção é esmerada, econômica mas criativa, competente direção
de fotografia, atuações acima da média e direção geral rígida. Mas seus filmes geralmente
fogem do entretenimento barato que Hollywood entrega e suas histórias acabam fazendo
o espectador refletir sobre a vida. "Ninguém Está Olhando" é mais um desses
filmes com temas reflexivos. Mas não passa disso.
Na trama, Nico (Pfening), um ator argentino de televisão de sucesso em seu país, tenta sorte em Nova York, mas logo descobre que não encaixa no clichê do ator latino. Sua boa aparência o ajuda a esconder a solidão e a vida precária. Ele sobrevive de bicos e trabalhando como baby-sitter, cuidando do menino Theo enquanto continua a insistir em testes de elenco, buscando uma oportunidade de voltar à carreira dramática.
O ator Guillermo Pfening merece todo destaque - ganhou o prêmio de Melhor Ator no Festival de Tribeca de Nova York 2017, onde o filme foi exibido na abertura do evento - por se esforçar para mostrar
o outro lado de ser um estrangeiro numa Nova York com zero glamour, onde realiza trabalhos
temporários para sobreviver, consome ~"substitutos amorosos" enquanto tenta
esquecer quem partiu seu coração, mesmo que esteja afundando cada vez mais num caminho
tortuoso que até tem volta mas depende dele acordar.
Mas o roteiro - escrito por Christina Lazaridi e pela própria Julia Solomonoff - insiste em mostrar a rotina do protagonista repetir-se 'ad nauseam', que não é
a melhor e mais eficiente forma de mostrar que ele está correndo em círculos atrás
de um sonho que pode não vir a acontecer como gostaria - assim como na vida real. O grande problema é que tudo o que se vê na telona não emociona
ou cativa o espectador. Os personagens não tem nada de especial - mesmo que haja
curiosidade em saber como terminará essa dolorosa saga. Por três ou quatro vezes no filme é dita a sentença "Ninguém Está Olhando", em contextos diferentes mas inteiramente válidos. Mas a derradeira
é justamente quando se define o cerne dessa história e o protagonista descobre a
necessária solução para seus problemas, mesmo que a longo prazo: livrar-se de sua
paixão e obsessão, que mais parece uma droga mais potente que qualquer psicotrópico...
Mesmo que "Ninguém Está Olhando" tenha sido o grande vencedor do Cine Ceará 2017 e recentemente esteve na Mostra Latina do Festival do Rio 2017, o filme só é válido por mostrar um lado mais realista dos estrangeiros na Terra da Liberdade - liberdade essa só se você continuar sendo serviçal e não cometer qualquer deslize - e por maturar um entendimento de que "nenhum lugar é melhor do que o nosso lar" (e lar é onde nos sentimos bem, seja onde for).
Kal J. Moon ainda não entende por que as pessoas demoram tanto a aprender com seus erros...