No dia 17/05/2018 chega às salas de cinema 'Tungstênio', dirigido pelo cineasta Heitor Dhalia. O longa é baseado no quadrinho homônimo do autor brasileiro Marcello Quintanilha (foto), que venceu com a obra o Festival Internacional de Quadrinhos de Angoulême, na França, na categoria thriller. Ambientada em Salvador (BA), a narrativa é transportada agora numa adaptação que surpreendeu o quadrinista: “Eu fiquei maravilhado com o resultado. A maior surpresa, dentre tantas maravilhosas, talvez seja a fidelidade à obra original”, afirma Quintanilha.

'Tungstênio' explora as tensões que permeiam as relações humanas, em que ações aparentemente banais são capazes de refletir consequências absolutamente imprevisíveis. Inspirada numa notícia de rádio, a história em quadrinhos de Quintanilha tem como fio condutor o crime ambiental cometido por dois pescadores, que promoviam a pesca ilegal com utilização de bombas no Forte de Monte Serrat. A situação foi capaz de efervescer a cabeça do quadrinista, que partiu desse fato isolado para apresentar quatro histórias: Richard, um policial movido por seus instintos; Keira, esposa, presa na empreitada de tentar abandonar o seu intempestivo marido; Caju, pequeno traficante de drogas, que só pensa em como sobreviver mais um dia; e Seu Ney, um ex-sargento saudosista, preso nas memórias do passado num quartel. Munidas de tensão, as trajetórias individuais dos personagens se cruzam em uma história de ritmo eletrizante.

O autor, que havia recusado ofertas anteriores para transformar sua obra em filme, se sentiu seguro para permitir que Heitor Dhalia transportasse o universo de 'Tungstênio' para as telonas: “Não houve nenhuma outra razão a não ser a admiração que já nutria pelo trabalho do Heitor e receber sua proposta foi extremamente gratificante”. Segundo ele ainda “é fantástico quando você tem a experiência de que atores agreguem elementos de sua mitologia pessoal para dar vida a personagens que anteriormente estavam concebidos para existirem somente no papel’’. Sucesso da crítica, o quadrinho 'Tungstênio', agora como obra cinematográfica, aparece como uma experiência “viva” e “mutável’’, de acordo o autor. As expectativas de Quintanilha em relação a obra são positivas, já que segundo ele “tudo contribuiu para que se obtivesse a melhor atmosfera daquilo que estava concebido como quadrinho’’.

>>> Clique AQUI para assistir a entrevista com Marcello Quintanilha ou leia a íntegra abaixo:

1. Como surgiu 'Tungstênio' em sua vida?
Marcello Quintanilha: 'Tungstênio' surgiu do meu interesse por explorar as relações interpessoais mediadas pela subjetividade que as determinam. Muitas vezes em um sentido que ultrapassa a mera urbanidade, derivando em episódios de violência explícita.

2. Por que Salvador como cenário para essa história e qual o peso que as paisagens têm em suas criações?
Quintanilha: Salvador sempre esteve no meu imaginário, especialmente por sua importância no que se refere ao amálgama de elementos que nos configuraram como nação. Ter a oportunidade de abraçar seu chão pela primeira vez em 2003, me marcou imensamente. Desde então, a cidade reapareceu em outras histórias, mas nunca apenas como elemento cenográfico e sim, como um personagem, exercendo papel chave na elaboração dos enredos.

3. Como foi o processo criativo que o fez chegar na conclusão dos personagens Richard, Keira, Seu Ney e Cajú?
Quintanilha: Tudo começou com uma notícia de rádio. Em 2003, fui convidado para elaborar um livro sobre a cidade de Salvador e, durante o processo, adquiri o hábito de ouvir a rádio local baiana — AM — que em determinado momento noticiou a prisão, efetuada por um policial à paisana, de dois indivíduos que pescavam utilizando bombas nas imediações do Forte Monte Serrat. Nenhum dado a mais foi transmitido e antes que pudesse perceber estava imaginando uma vida, uma teia de acontecimentos por trás do ocorrido. Assim, foram surgindo as personagens e suas peculiares formas de proceder.

4. A obra levanta discussões muito presentes em nossa sociedade e, quando juntos, esses temas provocam uma explosão e tensão social. Esse é o tema central da obra?
Quintanilha: A tensão que permeia as relações humanas é o verdadeiro tema da obra, dentro de uma dinâmica na qual ações aparentemente banais podem gerar consequências absolutamente imprevisíveis.

5. Você recusou diversas propostas de adaptação de Tungstênio para os cinemas. O que o levou a aceitar a proposta do Heitor Dhalia? O que o motivou tal escolha?
Quintanilha: Na verdade, não houve nenhuma outra razão a não ser a admiração que já nutria pelo trabalho do Heitor e receber sua proposta foi extremamente gratificante.

6. Você participou de importantes etapas desta produção. Desde o roteiro as filmagens. O que mais te marcou nesse projeto?
Quintanilha: Sem dúvida nenhuma, a entrega de todas as pessoas envolvidas.

7. Você também participou da escolha do elenco? Para você, como foi a experiência de materializar seus personagens?
Quintanilha: Não participei da busca pelo elenco, mas fiquei encantado com as escolhas. Foi maravilhoso observar como cada ator é capaz de agregar elementos de sua mitologia pessoal para compor personagens que antes só existiam no papel, sem subtrair-lhes nada da essência que os consolida como indivíduos na trama. Fascinante.

8. Os personagens são intensos e compartilham a violência (seja física ou verbal) como reação às suas fraquezas, gerando uma explosão de caos e sentimentos. Visivelmente, são personagens contemporâneos. Como você enxerga a relação 'Tungstênio' x sociedade atual?
Quintanilha: Como um reflexo dos caminhos que se estabeleceram para as relações dentro e fora dos círculos de poder, por meio de mecanismos de autopreservação e indulgência que ditaram as normas mais comezinhas de convivência em nossa sociedade.

9. Você ficou satisfeito com o resultado? O que mais te surpreendeu nessa adaptação?
Quintanilha: Eu fiquei maravilhado com o resultado. A maior surpresa, dentre tantas maravilhosas, talvez seja a fidelidade à obra original.

10. Pensa em adaptar outras obras para o cinema?
Quintanilha: Todas as portas estão abertas, muito embora jamais conceba um trabalho pensando em desdobramentos futuros, como pode ocorrer no caso de uma adaptação.


O filme 'Tungstênio' tem produção da Paranoid, com coprodução da Globo Filmes e Canal Brasil, e distribuição da Pagu Pictures.

Fonte: Globo Filmes (via press-release)