Drew Pearce apresenta mais um novo universo criminoso do cinema com Hotel Artemis
Reconheço o talento de Drew Pearce de outros carnavais, melhor dizendo, de outros roteiros. Com sua caneta de tinta fortíssima, Pearce é responsável por pérolas como No Heroics, minissérie com 6 episódios sobre um bar que recebe super-heróis no fim do expediente, para aquele happy-hour de lei, e Homem de Ferro 3, filme que tem um roteiro bem amarrado e arrojado demais para ser entendido por qualquer um. Além desses títulos, Pearce também trabalhou em Missão: Impossível - Nação Secreta, de 2015, e foi anunciado recentemente como roteirista do próximo filme dos Caça-Fantasmas, ainda sem título ou previsão de lançamento.
É bom deixar claro que, apesar de bem sacada, a minissérie No Heroics não é muito conhecida, mesmo entre os fãs de filmes e séries de super-heróis. Além disso, Homem de Ferro 3 também não foi um longa bem recebido, especialmente pelo fato de Pearce ter modificado demais a personagem Mandarim, vilão clássico da Marvel. Ora, o que Pearce fez foi louvável, pois transformar um mero vilão de gibis arquetípico em uma personagem complexa e cheia de possibilidades dramáticas é ousadia que raramente se vê. Portanto, foi decepcionante assistir um longa dirigido por Pearce, tão fraco e sem brilho, nada imaginativo.
Outro problema foi a falta de desenvolvimento de personagens. Para um filme cujo um dos gêneros em que se enquadra é o suspense, é obrigatório criar personagens que sejam carismáticos o suficiente para que o espectador se importe com os seus destinos. Quando ocorre de não haver identificação deste com nenhuma das personagens da história, nem mesmo a melhor trama é capaz de fazer com que o filme funcione e cumpra sua função como entretenimento. Fica chato. O que foi o caso.
Pela falta de desenvolvimento de personagens, já citada, o elenco foi prejudicado. Com dois veteranos, Foster e Jeff Goldblum, e um elenco de estrelas emergentes como Sterling K. Brown (Pantera Negra), Sofia Boutella (A Múmia), Dave Bautista (Guardiões da Galáxia), Zachary Quinto (Star Trek) e Charlie Day (Círculo de Fogo), Hotel Artemis tem um elenco estelar que poderia ter sido melhor aproveitado.
Oriundo do pro-wrestling norte-americano, Dave Bautista vem chamando atenção ultimamente, especialmente pelo seu bom desempenho em Vingadores: Guerra Infinita, tornando-se meme na internet por causa da cena da "invisibilidade" e também por ter se insurgido contra a dispensa de James Gunn da direção de Guardiões da Galáxia 3, projeto que foi inclusive suspenso recentemente. Em Hotel Artemis o ator tenta ser engraçado, mas falha terrivelmente. Novamente por culpa do roteiro e suas piadas sem graça.
Zaquary Quinto, o Sr. Spock de Star Trek, filme de 2009 que inaugurou a linha do tempo Kelvin e que já conta com duas sequências, também está em Hotel Artemis, como o abobalhado Crosby Franklin. Com pouco tempo de tela, não foi capaz de mostrar muito, mas divide uma cena impagável com Jeff Goldblum, que é um dos personagens mais legais do longa. Goldblum é um monstro, dono de um talento dramático natural, mas não foi capaz de salvar o filme.
Quem literalmente salva, não o filme, mas seu arco, é o ator Charlie Day. Comediante talentosíssimo, bom de tempo e de marcação, é o único alento em meio ao caos. Seu personagem é, de longe, o mais bem explorado do longa.
E finalmente vou falar de Sterling K. Brown, hypado atualmente, justificadamente por ter ganhou o Emmy de Melhor Ator em Série Dramática por This Is Us, da FOX, pode servir como um chamariz de público para o filme, mas não teve boa atuação e foi mais um entre os prejudicados pela falta de ousadia do roteiro.
Uma pena ter de falar tão mal de um filme que eu tanto esperei. O que resta desta obra são possibilidades de que novas histórias deste universo ficcional sejam escritas, pois existe espaço pra isso, para que possamos saber um pouco mais sobre a Califórnia de 2028, a Pro-Shield e os demais hotéis do cenário criado por Pearce. Nos créditos foi pincelada uma dica de que isso pode vir à acontecer. Vamos aguardar a próxima. Se houver.