Escrito e dirigido por Sébastien Betbeder, estrelado por Vincent Macaigne, Maud Wyler e Bastien Bouillon, "2 Outonos e 3 Invernos" fala de, bem, ah, sei lá, mil coisas, viu...


Pompa e circunstância
Não dá para dizer com exatidão quem ou que filme marcou a chancela de que, para um roteiro ser original, necessita basear-se na vida real de fio a pavio, com todas as suas idiossincrasias, vicissitudes e pilhérias mil. Nem precisa necessariamente ser bem escrito ou com boas atuações por parte do elenco. E pronto: o cineasta automaticamente ganhará status de cult, muitos tecerão loas em seu nome e prêmios serão entregues a fim de atestar a genialidade da obra.

Não quem inventou tal ~"regra" - afinal, a vida real não tem a menor graça e, por isso mesmo, nos apegamos tanto à ficção - mas gostaria de gritar "TEU C*!" a plenos pulmões na cara estupefata desta pessoa.

"2 Outonos e 3 Invernos" bebe fervorosamente dessa fonte pseudo-cult como se adaptasse um livro de inspiração beatnik ipsis-literis. O filme é uma espécie de releitura barata e preguiçosa de "A Salamandra", dirigido por Alain Tanner - que inclusive é citado verbal e visualmente na película -, dando voz a cada "protagonista" em capítulos curtos, todos falando sobre as dificuldades da convivência humana, relacionamentos bem sucedidos e/ou fracassados, tentativas frustradas de suicídio, honestidade no mundo moderno, amizades improváveis.... Porém sem a menor preocupação em ter um propósito narrativo. Aqui, a discussão é mais importante que a trama - até porque não existe uma trama propriamente dita, somente gente enjoada falando pomposamente ad nauseaum.

O filme até inicia-se promissor, utilizando o conhecido recurso das personagens conversando com a câmera, como se falassem com o público - recurso este que lembra bastante a narrativa dos documentários - mesclando narração em off, dando agilidade ao que é mostrado na telona. Mas quando este recurso é utilizado à exaustão do início ao fim da exibição, temos um grave problema. E utilizar narração para dizer o que está sendo visto é um tremendo desperdício.

Nem mesmo as partes mais interessantes dessa fragmentada narrativa - um assalto frustrado que resulta num personagem levando uma facada e outro personagem sofrendo um AVC - são desenvolvidas a contento no desenrolar da história.

O grande destaque do elenco é mesmo Vincent Macaigne, que defende sua personagem Arman de forma adequada, fazendo o público acreditar em sua postura "poser-loser" com veemência e simpatia. É ele que nos faz querer saber o que acontece com o personagem no final - final aberto ~"como a vida" (AAAARGH!!!), vale salientar.

"Mas, tio Kal... O filme é bom?", pergunta você. Bem, vai depender de que tipo de experiência desejas. Se for um debate enfadonho de pouco mais de uma hora de duração que pode ser encontrado em qualquer literatura de baixo quilate e que faria até mesmo Paulo Coelho corar de vergonha alheia, vá em frente pois esse filme é pra você. Viva! Porém, se preferir um entretenimento pautado por começo, meio e fim muito bem estabelecido, bem, a vida é curta e talvez este filme não seja exatamente a sua praia, ok?

O filme ainda não possui uma cinematografia marcante que torne está narrativa mais atraente - não que fosse funcionar com este roteiro mas... - porém a edição e a montagem são eficientes e funcionais. Mas assista e tire suas próprias conclusões. Afinal, sua opinião é a mais importante de todas, certo?


Kal J. Moon quase perdeu a perna esquerda ao cair de um barranco durante a infância. Anda com dificuldade. Não ria...