Dirigido por Bob Persichetti, Peter Ramsey e Rodney Rothman, com as vozes originais de Chris Pine, Nicolas Cage, Hailee Steinfeld, Mahershala Ali, Liev Schreiber com participação especial de Oscar Isaac e Lily Tomlin, "Homem-Aranha no Aranhaverso" é o novo filme de um Homem-Aranha bem diferente do que conhecemos...

"O que aconteceria se...
...fizessem um longa-metragem de animação que, na verdade fosse um gibi em movimento?" Deve ter sido está a proposta para convencer a produção que "Homem-Aranha no Aranhaverso" deveria existir um dia.

A verdade é que a distribuidora Sony Pictures tem os direitos do super-herói Homem-Aranha e sua imensa galeria de personagens mas há algum tempo que não emplaca um sucesso de crítica e público com filmes neste ~"universo" desde a saída do cineasta Sam Raimi após o lamentável filme "Homem-Aranha 3" - sim, aquele com o "Emo-Aranha".

Mas 2018 parece ter sido o ano da segunda chance para a Sony, uma vez que o filme live-action "Venom" tornou-se um grande (e inesperado) sucesso de bilheteria e público - mesmo que grande parte da crítica especializada (menos nós!) tenha descido a lenha no filme estrelado pelo vilão do Amigão da Vizinhança. E o que dizer dessa animação "Homem-Aranha no Aranhaverso"? Que bom que perguntou.

Na trama, Miles Morales é um jovem afrodescendente, filho de um policial, que é mordido por uma aranha radioativa e acaba presenciando a morte do Homem-Aranha. Por conta de um esquema engendrado pelo Rei do Crime - sim, aquele vilão do seriado "Demolidor" (Netflix) foi criado originalmente para ser arqui-inimigo do Aranhoso -, acaba abrindo um portal onde várias versões do Homem-Aranha acabam indo parar neste universo. O problema é que o plano do Rei do Crime pode destruir toda a cidade onde vivem, caso a máquina utilizada não seja destruída a tempo...

Pra começar, é uma das animações com o visual mais elaborado que se tem notícia nos últimos 20 anos. Tudo funciona, organicamente, como se utilizasse efeitos de rotoscopia - técnica que consiste em fotografar os movimentos do elenco para emular maior fluidez no processo de animação -, criando algo único e, ainda assim, lembrando muito o que se vê numa história em quadrinhos. Inclusive alguns ângulos nada usuais em animações mas bem familiar para quem lê aquele gibi maroto. É um filme bem moderno e arrojado, com uma cinematografia coerente e ousada. Cada personagem tem um tipo de movimentação diferente - repare na Spider Gwen! Que visual LINDO!

Pra completar, o elenco original de dubladores dá um show: Chris Pine como um Peter Parker loiro (?), Jake Johnson como Peter B. Parker (um Homem-Aranha de 40 anos e com uma vida bem enrolada), Shameik Moore como um esperto Miles Morales, o ganhador do Oscar Mahershala Ali como o Aaron (tio de Miles - e um pouco mais), Nicolas Cage está hilário como o Homem-Aranha Noir (uma versão anos 1940 do Escalador de Paredes), igualmente hilário (e bizarro) está John Mulaney como o Porco-AranhaHailee Steinfeld está bacana como Gwen Stacy (ou Spider Gwen ou Spider Woman, como é chamada no filme), Lily Tomlin é uma Tia May badass bem interessante, Liev Schreiber (que já foi o vilão Dentes de Sabre na trilogia original dos X-men nos cinemas) interpreta um convincente e obcecado Rei do Crime e Oscar Isaac, bem, ele interpreta algo hilário mas que seria um senhor spoiler dizer, uma vez que faz parte da cena pós-crédito, que literalmente dá vida a um famoso meme do Homem-Aranha e fará todo mundo rir...

Além disso, tem a (talvez) mais emocionante participação de Stan Lee - roteirista cocriador do Homem-Aranha original -, sua fala tem um peso diferente ainda mais agora que ele não está mais entre nós. Também tem uma certeira homenagem a Steve Ditko (cocriador do Homem-Aranha original, que também nos deixou em 2018).

A animação ainda possui um bilhão de referências para fãs de todas as idades - os mais ardorosos vão certamente se emocionar. Isso sem contar que o roteiro escrito por Phil Lord e Rodney Rothman reserva espaço para cenas dramáticas que reinventam o mito do Escalador de Paredes de forma adequada para os novos tempos. E é bem curioso que uma animação com personagens da Marvel Comics se utilize tão bem do conceito de múltiplos universos - algo que é uma característica do universo da DC Comics e está sendo utilizado com sucesso absoluto na TV...

(Devo dizer que, infelizmente, algumas cenas dramáticas são um tanto repetitivas e o roteiro ainda se permite, erroneamente, em criar seu próprio "com grandes poderes vêm grandes responsabilidades", martelando a nova frase de impacto a cada 15 minutos durante a projeção, atrasando, em muitos momentos, a progressão da história)

O longa também possui uma vigorosa trilha sonora composta por Daniel Pemberton, misturada a clássicos do funk, rap e novas batidas hip-hop.

"Homem-Aranha no Aranhaverso" é diversão para toda família e porta de entrada para novos fãs, com valores apropriados que todo mundo deveria seguir. Obrigado, Sony, por mostrar novamente como se faz um bom filme de super-heróis. Em uma palavra? Espetacular!




Kal J. Moon assistiu com olhos marejados, pensando em como seria bacana assistir um filme do Super-Choque..
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