Dirigido por Susana Garcia, estrelado por Mônica Martelli e Paulo Gustavo, "Minha Vida em Marte" mostra que depois do fim do amor, só resta... O humor!

Transa louca...
Mesmo que exista um grande público interessado nas comédias produzidas pelo cinema brasileiro, parte da crítica e do público tem ojeriza somente de ouvir falar neste gênero sendo executado por artistas tupiniquins. A grande verdade é que esses filmes fazem parte do tripé que sustenta o cinema brasileiro desde os tempos de Oscarito, passando por Mazzaropi, Os Trapalhões e chegando à trupe atual de comediantes que permitem que uma grande parcela do público sinta vontade de assistir um filme produzido no país em que vive.

Dito isto, não se pode negar que "Minha Vida em Marte" - continuação de "Os Homens São de Marte", ambos baseado nas peças teatrais homônimas igualmente escritas por Mônica Martelli - tem seus méritos e também apelo junto ao público que aprecia este tipo de filme (mesmo com os muitos problemas que apresenta).

Na trama, Fernanda (Martelli) está casada com Tom (Marcos Palmeira) e tem com ele uma filha de 5 anos. O casal está em crise e vive os desgastes e as intolerâncias da rotina do casamento, mas Fernanda tem o apoio incondicional de Aníbal (Paulo Gustavo), seu sócio e companheiro inseparável que está ao seu lado durante toda a jornada para resgatar seu casamento - ou acabar de vez com ele. Aníbal é o ombro amigo para desabafos e um parceiro para todas as horas.

Primeiro, vamos falar dos acertos. Paulo Gustavo parece bem à vontade interpretando aquele tipo de personagem que ele adora interpretar - ele mesmo, claro! -, dividindo o protagonismo com Mônica Martelli, mesmo que ela - apesar de equilibrada numa personagem que tem muito mais oportunidades dramatúrgicas do que se espera numa comédia mas entregando exatamente o que se espera nessa experiência - pareça, em muitos momentos, coadjuvante num filme estrelado por Paulo Gustavo... A mistura de verves cômicas, no entanto, demora a se equilibrar mas funciona bem no conjunto geral.

A direção de fotografia - comandada por Rodrigo Carvalho - é funcional (mesmo que exagere no uso de dromedário para passar muitas tomadas aéreas) porém sem a menor ousadia (possivelmente fosse exatamente essa a intenção). A montagem também é ágil - a sequência inicial (que serve como atualização para quem não viu o filme anterior) é lúdica e explicativa na medida certa.

Agora, os problemas. O principal é o roteiro, escrito por CINCO pessoas - Mônica Martelli, Paulo Gustavo, Susana Garcia, Emanuel Aragão e Julia Lordello -, onde diversas situações e cenas parecem divididas entre o improviso e algo previamente planejado, resultando num texto pouco inspirado em diversos momentos e rendendo algumas oportunidades perdidas rumo ao bom humor.

(Existe uma cena bem específica, onde os protagonistas estão em Nova York preocupados com o valor que já gastaram na viagem, que serve apenas para fazer um comercial descarado de uma companhia aérea. OK, tudo bem colocar algo discreto em cena - como o avião da companhia, que aparece quando eles estão indo para os Estados Unidos - mas não precisa se vender por tão pouco, causando vergonha alheia no público, né?)

Mesmo sem dar spoiler, uma cena específica durante uma festa - que se revela, na verdade, um encontro de praticantes do "swing"- teria rendido ótimas piadas visuais e textuais se a protagonista resolvesse "encarar" com ousadia aquela nova experiência a despeito do desespero de seu melhor amigo. O que não se sabe é como foram parar lá pois o roteiro nem se preocupa em explicar...


O filme ainda conta com (rápidas) participações especiais de Ricardo Pereira, Fiorella Mattheis e Heitor Martinez - até mesmo Marcos Palmeira é apenas uma participação especial com um pouco mais de falas que o restante - que, se não acrescentam muito à trama, também não comprometem. Já todas as cenas com uma certa cantora brasileira - que faz muito sucesso entre o público jovem - são completamente descartáveis e não fariam a menor falta se fossem limadas da trama.

Ainda sobre esticar cenas desnecessariamente, o final parece ~"parar" umas boas três vezes até decidir encerrar de vez, como se esquecessem que havia mais uma cena - mesmo que totalmente dispensável a acrescentar.

Embora tenha a maior cara de ~"cinema de auto-ajuda" - linguagem herdada diretamente da peça teatral - e tenha como foco principal o público feminino (uma vez que vemos a história inteiramente sob o ponto de vista da protagonista), é uma diversão leve, saudável e que rende muitas boas risadas num fim de semana a dois.




Kal J Moon esbarra nas pessoas enquanto caminha e pede "I'm sorry". Todos o olham como se ele fosse retardado...