Recheado de estrelas e visual incrível, novo longa dos Irmãos Coen não empolga
A Balada de Buster Scruggs está disponível para streaming através do serviço Netflix a cerca de um mês e vem causando muito burburinho nas redes sociais. Bem, isso não seria novidade, afinal os filmes dos diretores Ethan e Joel Coen são do tipo ame-os ou odeie-os.
Isso se dá pela visão sarcástica, bem-humorada e sombria dos irmãos que já dava os ares de sua graça em seu segundo longa, Arizona Nunca Mais de 1987, o primeiro que assisti, na distante década de 90 em uma fita suja da locadora do meu bairro. Este filme serviu para chamar minha atenção e, desde então, venho acompanhando sua trajetória pelas telonas.
Além deste, eles emplacaram clássicos modernos como Fargo: Uma Comédia de Erros (1996) e Inside Llewyn Davis: Balada de um Homem Comum (2013). O primeiro rendeu uma série de TV (que tem sua quarta temporada prevista para 2020) e o segundo revelou astros como Oscar Isaac e Adam Driver, que atualmente atuam no elenco da nova trilogia Star Wars.
Eles também são responsáveis por filmes muito legais e que fizeram a cabeça da galera mais ligada em cinema autoral como Onde os Fracos Não Têm Vez e Queime Depois de Ler, de 2007 e 2008, respectivamente. Vale ressaltar que, entre seus filmes mais obscuros temos Matadores de Velhinhas (2004) e Bravura Indômita (2010), duas refilmagens que estão entre as minhas favoritas da dupla.
Mas por trás dos clássicos instantâneos e dos refilmagens de filmes cults, os Irmãos Coen apresentaram alguns filmes bem ruins como seu penúltimo longa Ave César, de 2016, e Um Homem Sério (2009).
Deixando de lado minha opinião sobre os filmes acima, pois estes despertaram paixões e ódio por onde foram exibidos, colecionando defensores e detratores, é bom que fique claro que, seja lá qual for sua opinião sobre o trabalho deles, quando uma produção da dupla é lançada é vale sua atenção. Seja para falar bem ou mal, pois sempre são filmes interessantes, até mesmo os que acho ruins.
Seu novo longa, A Balada de Buster Scruggs, é daqueles que são ruins. Pronto, falei. Mas, apesar do roteiro que peca por sua previsibilidade e diálogos insossos, o trabalho do elenco é fenomenal. Aliás, isso já é de se esperar, pois é impossível ver um ator se saindo mal nos filmes dos Coen. Eles conseguem "espremer o sumo" do talento de qualquer um. Sim, acredite em mim, até mesmo de Marlon Wayans em Matadores de Velhinhas eles conseguiram isso. Pasmem.
Por isso já vale a atenção.
Todos os atores estão muito bem no longa, que é divido em esquetes. Na primeira, homônima ao título e estrelada por Tim Blake Nelson, temos mais uma das clássicas cenas de morte bizarras que assinatura da dupla. A história é bobinha, mas as canções e presença de Clancy Brown (o Kurgan de Highlander: O Guerreiro Imortal) salvam os primeiros minutos do longa.
A segunda esquete, "Near Algodonoes", traz de volta James Franco, após os episódios machistas em que se envolveu recentemente e queimaram um pouco seu filme. De todas é a esquete que tem o final menos previsível. É bacana.
Liam Neeson e Harry Melling estrelam "Meal Ticket". Mr. Neeson dispensa apresentações, mas vale relembrá-lo sobre quem é esse tal Harry Melling. Ele interpretou o primo chato de Harry Potter, na saga do bruxinho mais querido do mundo. Pois é, ele cresceu, estudou, aprendeu e agora brilha ao lado de um dos maiores atores de cinema do mundo. Nossa, fiquei realmente impressionado com sua performance. Pena que a trama é manjada e o final fica na cara nos minutos finais da esquete.
"All Gold Canyon" é a terceira esquete e traz apenas Tom Waits e Sam Dillon. Legal, mas novamente não traz nada de novo.
O quarto segmento parecia que ia agradar mais que os anteriores, com a história de um caravaneiro e uma de suas clientes. Bill Heck e Zoe Kazan são os protagonistas de "The Gal Who Got Rattled" e, mais uma vez, a falta de originalidade do roteiro desperdiça interpretações maravilhosas. Uma pena.
E fechando o filme temos a esquete "The Mortal Remains". Eu acreditei que esta iria unir todas as esquetes anteriores, me fazendo pular da poltrona (POP, é claro... a original, kkkk) e apontar para a TV gritando "É disto que estou falando!". Mas, mais uma vez, temos apenas uma história que até é original, mas foi mal desenvolvida. Em cena, numa carruagem, temos Jonjo O'Neill, Brendan Gleeson, Saul Rubinek, Tyne Daly e Chelcie Ross. A ideia é boa (pois parece com aquelas piadas que envolvem um português, um brasileiro e um americano, sabe qual é?), mas é ruim demais e os diálogos interessantes (finalmente) se perdem em um desfecho que coloca tudo a perder.
Não fosse o pecado do roteiro, A Balada de Buster Scruggs seria um grande longa metragem, pois é bem realizado, interpretado e conta com direção de arte e fotografia impecáveis. A trilha sonora é ótima e, se não fosse por estas qualidades, ganharia uma nota zero.
Marlo George assistiu, escreveu e já leu muita revistinha de faroeste na vida