Um novo Chucky para uma nova audiência, remake de Brinquedo Assassino pode agradar e divertir millenials e amantes do filme clássico

Nada poderia ser mais apavorante que Chucky, o brinquedo assassino do título do filme do diretor Tom Holland (não confundir com o Homem-Aranha) de 1988. Nenhum dos personagens espalhafatosos dos filmes de terror da época davam mais medo que aquele bonequinho ruivo com cara de sapeca. Nem Jason Voorhees, Michael Myers e muito menos Freddy Krueger eram páreo, no quesito arrepiamento, a Chucky. Recentemente, todos os psicopatas assassinos acima mencionados tiveram remakes e nenhum deles agradou. Com exceção de Chucky, que retorna com toda pomposa tosquice e deselegante estranheza renovadas.

O novo filme, dirigido pelo novato norueguês Lars Klevberg, que debutou este ano no ofício com o desconhecido Morte Instantânea, não é uma mera homenagem ao filme original, como eu esperava. Trata-se de uma releitura, no sentido estrito da palavra. A trama, as personagens (que são as mesmas) e até mesmo o ritmo do novo filme relembra o longa de 88, mas o espírito é outro. O filme é melhor que o original em muitos aspectos. Talvez isso se deva ao fato de o primeiro filme, que rendeu uma série longeva de qualidade bem irregular, ter envelhecido mal e não ter passado no teste do tempo.

O interessante é que eu tenho a impressão de que o oposto ocorreu com os remakes de Sexta-Feira 13, A Hora do Pesadelo e Halloween, cujos longas originais são bem mais interessantes que as produções mais recentes. Brinquedo Assassino versão 2019 era exatamente o que a franquia precisava para se tornar novamente relevante e conquistar novos públicos.


A fotografia do filme é, realmente, inspirada. Os ângulos ousados, luz e sombras que variam nos momentos certos, e desfoques que foram usados com arrojo conferem ao filme um clima de tensão, medo e pavor real. Chucky continua tosco, um tanto quanto mais "realista" que em suas versões anteriores, mas os recursos utilizados pela cinematografia potencializam sua capacidade de assustar a audiência. Um trabalho muito bem feito.

Caprichada também é a montagem do filme que, como já citei acima, mantém o ritmo do filme original, e foi muito inteligente recriar o clima do clássico. Brinquedo Assassino continua divertido e assustador, como deve ser. A edição também ficou legal, ressaltando que trata-se de um filme com muitas cenas escuras e um erro sequer na hora de editá-las poderia comprometer o resultado final.

Porém, o filme peca no som. A edição de som é regular e não colabora para criar a imersão maior do espectador, especialmente nas cenas de suspense. A trilha sonora também não me agradou, mas salva alguns destes momentos, negligenciados pela sonoplastia.

A trama, escrita por Tyler Burton Smith, outro novato, é bobinha. Mas eu não esperava nada muito rebuscado. Pelo menos ela serve ao que se propõe e tem até algumas sacadas inteligentes, especialmente as referências esperta à Star Wars, E.T.: O Extraterrestre e Tolkien.


Aubrey Plaza é uma atriz que eu gosto bastante, especialmente em Legião, série do FX baseada na extinta franquia X-Men, da Fox. Novamente a atriz entrega uma personagem legal e bem interpretada. Os melhores momentos do filme envolvem Plaza e seu desempenho acima da média. Outro que também não surpreende pelas suas qualidades é Mark Hamill, o eterno Luke Skywalker, que tem bagagem suficiente dublando personagens para decepcionar à esta altura do campeonato. Vale lembrar que ele já tinha dublado Chucky anteriormente, porém, em uma paródia da animação Frango Robô.


Gabriel Bateman, que apesar da idade, já participou de outros filmes de terror, como Annabelle (2014) e Quando as Luzes se Apagam (2016) é um bom ator e promete. Como o novo Andy Barclay, o dono do boneco assassino, apresenta um bom trabalho e devemos ouvir falar dele muito em breve, até porque ele está escalado em quatro elencos de produções que estão prestes a serem lançadas.

Segundo filme do diretor, Brinquedo Assassino pode ser um trampolim para Lars Klevberg, pois é um filme muito bem realizado, com atenção aos detalhes e que destoa de outras produções do gênero, especialmente dos remakes recentes de outras franquias, já clássicas, que não conseguem fazer frente às mais novas, como a bem-sucedida Invocação do Mal.



Marlo George assistiu, escreveu e sempre temeu o boneco do Andy. E ele não está falando do Woody ou do Buzz