O pouco que eu conhecia sobre "O Planeta dos Macacos", antes da leitura, não me agradava. Ainda que eu tenha uma certa afeição pelos filmes mais recentes, eu logo associei a obra com os filmes antigos que, na minha opinião, são um tanto chatos e esquisitos. Assim, foi muito fácil pensar que acharia o livro desinteressante, mas, por ser uma leitura obrigatória para qualquer fã de ficção-científica, achei que deveria lê-lo mesmo assim. Ainda bem que não me deixei levar pelas impressões ruins dos filmes antigos.

Pierre Boule nos coloca logo de início em uma nave espacial, em que astronautas encontram um papel escrito por Ulysse Mérou, que narra sua história de como foi parar em um planeta onde a espécia dominante não era o ser-humano, mas os primatas. Ao longo da trama, Ulysse mostra como a sua sociedade funciona, como as espécies de macaco interagem entre si e como são os humanos nesse planeta. Essa parte eu deixarei para o leitor descobrir durante a leitura do livro, para não alongar meu texto. 

Conforme já disse em minha crítica de "Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?", aquilo que mais me impressiona nas obras de sci-fi é a filosofia presente em suas histórias. Boule não para, em momento nenhum, de perguntar qual o papel do ser-humano em nosso planeta, o quão diferentes somos dos primatas nas atitudes que tomamos, o quanto o preconceito acaba nos cegando em relação aos outros em nossa volta. Essas são apenas poucas questões presentes ao longo desse livro, que aborda com maestria e delicadeza os olhares de um ser-humano em um mundo onde sua espécie não é o topo da cadeia intelectual. 


O livro é relativamente curto, mas as reflexões presentes em seu texto fazem com que sua experiência seja duradoura. Durante muitos momentos parei a leitura para refletir sobre os temas abordados, até mesmo discutindo com pessoas próximas acerca das questões trazidas por Boulle. Uma coisa é certa, a obra me impressionou e impactou muito mais do que qualquer adaptação já produzida desde então. Inclusive, já a considero minha obra preferida de ficção-científica, dentre as que li, batendo clássicos como "Eu, Robô", o próprio "Androides Sonha com Ovelhas Elétricas?" e "Guerra dos Mundos"

"O Planeta dos Macacos" é um livro que evidencia de modo objetivo o porquê obras de sci-fi serem especiais. Ao se analisarem temas, geralmente relacionados ao futuro, em que a humanidade é confrontada com problemas surreais, os autores findam por nos trazer à reflexão temas atuais que colocam nossa superioridade em jogo. Boulle nos coloca numa posição inferior a do senso comum. No livro, não somos mais os poderosos, não somos nós que controlamos o planeta, não somos nós os inteligentes. Como o Homo sapiens reagiria a esse mundo? Será que enfrentaríamos ele ou iríamos sucumbir ao colapso da espécie? Isso nós podemos até não saber, mas a ficção-científica nos permite imaginar. E é por isso que nós devemos respeitá-la.