Escrito e dirigido por Patty Jenkins, estrelado por Gal Gadot, Chris Pine, Kristen Wiig e Pedro Pascal, "Mulher-Maravilha 1984" traz um misto de sensações à nova aventura cinematográfica da amazona mais querida dos quadrinhos e da TV. Mas é superior ao primeiro filme? Bem...




Maior e...?

"A Warner Bros produziu o filme que o grande público queria assistir, não o filme que precisavam assistir." Essa foi uma das frases que utilizei para encerrar a crítica do filme "Mulher-Maravilha" (2017) e ainda alardeava que o filme provavelmente faria sucesso entre o público que não conhecia os quadrinhos originais. Dito e feito. O fato de não se gostar de um filme não quer dizer que o mesmo não terá êxito nas bilheterias pois isso depende de diversos fatores - estão aí os fracos filmes dos personagens da Marvel que não me fazem mentir...

Porém, uma das regras não-escritas de Hollywood é que, se algo fez muito sucesso (gastando pouco e arrecadando muito), faz-se uma nova leva, com mais orçamento que a versão anterior, porém repetindo o que outrora agradou e acrescentando novos elementos para angariar novos públicos - o famoso "maior e melhor". "Mulher-Maravilha 1984" parece seguir essa regra à risca, sem tirar nem pôr.



Na trama, um cristal mágico que realiza desejos é encontrado pela equipe de arqueologia formada por Barbara Minerva (Kristen Wiig) e Diana Prince (Gal Gadot). Após Diana e Barbara terem seus desejos atendidos, o cristal vai parar nas mãos de Maxwell Lord (Pedro Pascal), que o utiliza para enriquecer ilicitamente e controlar o maior número de pessoas e companhias - incluindo a Presidência dos Estados Unidos. Cabe a Diana / Mulher-Maravilha, um ~"ressuscitado" Steve Trevor (Chris Pine) e Barbara juntarem esforços para deter o ambicioso Lord antes que o mundo acabe pagando por sua ganância.

Apesar do filme ter lá seus pontos positivos (algumas cenas de ação bem realizadas, uma caracterização de figurino e cenários dos anos 1980 mais próxima da realidade - nem tudo era berrante como imaginam os filmes e séries atuais, eu estava lá, eu sei... -, a trilha sonora instrumental adequada composta por Hans Zimmer, além de debates - ainda que superficiais - sobre práticas belicistas, sororidade versus a pedagogia do espancado e o tal do capitalismo desenfreado), alguns destaques negativos saltam aos olhos. O principal seria a duração. 



Mesmo que possua apenas 10 minutos a mais que o primeiro filme, o ritmo arrastado e claudicante - com um ótimo início na ilha Themyscera com uma espécie de Olimpíada das amazonas - deixa a desejar e faz com que o espectador mais atento se pergunte o motivo de algumas cenas meio que se repitam a cada meia hora de projeção. E não, não tem a ver com a trama. Não parece ser algo proposital. Parece ter sido o maior temor dos cineastas: o aval completo. Pois quando alguém diz "faça o que você quiser e assinaremos embaixo" é o mesmo que chegar numa aula de redação e a professora dizer "hoje, o tema é livre". Em ambos os casos, só existe duas alternativas: a liberdade pode fazer com que a criatividade flua a ponto de se criar uma obra-prima ou a falta de tino pode criar um produto equivocado e sem definição.

"Mulher-Maravilha 1984" dança à beira do precipício entre essas duas opções. Ora parece se encaminhar para se transformar numa das melhores produções envolvendo personagens saídos de páginas com quadradinhos coloridos, ora homenageia ícones sagrados da cultura POP (dá pra contar nos dedos menções visuais ao filme de 1978 do Superman, Indiana Jones e até mesmo ao cultuado filme "Corpo Fechado"), ora torna-se enfadonho e estranhamente lento, ora investe em cenas de ação demasiadamente longas e nada entusiasmantes, ora parece não saber quando terminar. Mas quando termina, o conjunto não parece ruim no fim das contas. O saldo é positivo como a nota daquele aluno que ficou de recuperação e por um mísero décimo tirou nota azul, garantindo-o passar de ano - mas foi por pouco, bem pouco.



Mas só ficará decepcionado quem esperava algo excepcional. Portanto, o segredo é assistir sem esperar nada e aceitar - com um bocado de suspensão de descrença - o que o filme lhe oferece, pois é "o que tem pra hoje", num ano em que a outra aventura baseada em quadrinhos talvez não tenha sido lá muito bem sucedida.

Cheio de furos no roteiro - e de continuidade -, alguns (poucos) easter-eggs para deixar os fãs mais atentos satisfeitos (tem referência à Shazam, Sandman e à própria mitologia da Mulher-Maravilha), este talvez não seja o filme que o grande público queria assistir. Mas diante de tanto sofrimento na vida real - aquela de tons acinzentados, sem graça ou sem perspectiva positiva -, provavelmente este seja o tipo de filme escapista, inocente e com a mensagem correta que precisávamos assistir.




Acredite: o elenco não tem culpa dos problemas desse filme. Apesar de participações bem equilibradas - com exceção de Chris Pine, cujo personagem é só uma peça para que a história avance -, o destaque vai mesmo para Pedro Pascal e seu gradualmente descontrolado vilão Maxwell Lord (um clichê até que bem utilizado).

Resumindo: "Mulher-Maravilha 1984" é, com certeza, maior que o primeiro, tanto em escopo quanto em realização. Mas é melhor? Diz você. Assista e tire suas próprias conclusões...




Kal J. Moon fez um pedido a uma estrela e não foi atendido. Agora, sofre as consequências como um cão...