Criada por Sarah-Violet Bliss, Charles Rogers e Michael Showalter, estrelada por Alia Shawkat, John Reynolds, John Early e Meredith Hagner, "Search Party" chega à quarta temporada - no ar em 12/04/2021, às 13h, no canal pago Warner Channel - pegando ainda mais pesado e dificultando ainda mais a vida de Dory e sua gang...


O que é, o que é?
É drama? É comédia de humor negro? É suspense? É policial? É cringe? É tudo isso? Ou será que não? É meio complicado descrever a que gênero o seriado "Search Party" pertence pois cada temporada parece uma miscelânea de variados estilos de narrativas presas num corpo híbrido. Provavelmente, a mistura deve fazer sucesso entre o público mais jovem - não adolescente mas aquele que passou dos vinte mas não chegou aos trinta (millenials e suas variáveis) - por conta do ritmo desse tipo de história.


Contextualizando quem nunca ouviu falar: a partir do momento em que Chantal Whiterbottom desapareceu, a vida de Dory Sief nunca mais foi a mesma. Ela poderia ter escolhido o caminho mais simples para ela e seu grupo de amigos, todos millennials e narcisistas, mas ela escolheu levar sua vida em uma rota complicada e comprometida, fora da zona de conforto. Obcecada em encontrá-la, seu trabalho como investigadora a levou a uma série de contratempos, conflitos e perseguições que a colocaram em perigo e levaram seu nome a um incômodo local de escárnio público.


As três primeiras temporadas mostraram Dory, Drew, Elliot e Portia em uma investigação privada para encontrar a desaparecida Chantal. Apesar de encontrá-la viva, todo o processo foi confuso e cheio de erros, levando a um assassinato acidental e um julgamento sensacional seguido por milhões de telespectadores. A terceira temporada parecia ter ter acabado com chave de ouro quando o júri considerou Dory e Drew inocentes da acusação de assassinato. Dory estava voltando para casa para desfrutar da liberdade, mas o destino tinha uma surpresa reservada para ela.


Na trama do primeiro episódio da quarta temporada, depois de descobrir que acabara de ser sequestrada, Dory (Alia Shawkat) se depara com seu captor, um fã obcecado chamado Chip (Cole Escola), que vive mergulhado em uma realidade aterrorizante. Trancada numa cela em condições precárias, ela logo percebe que foi sequestrada por alguém que diz querer o melhor para ela e que ele seria seu mais novo melhor amigo. Agora ela terá que encontrar uma maneira de escapar. Enquanto isso, Drew (Reynolds), Elliot (Early) e Portia (Hagner) dão uma festa em seu apartamento, encontram uma carta de Dory "rompendo" a amizade com eles e a coisa fica bem estranha.


E "estranho" é a palavra aqui. Por ser considerado um seriado de comédia, há bem pouco pra rir neste primeiro episódio. Afinal, ver uma mulher acorrentada e sofrendo abuso moral não é lá das coisas mais engraçadas para se ver na TV. O tom é próximo de clássicos como "O Que Terá Acontecido a Baby Jane?" e "Videodrome" com uma pitada de "Matadores de Velhinhas". Vemos duas situações: Dory tentando se livrar de seu raptor e seus amigos reagindo ao rompimento. A ideia principal dos primeiros episódios - pelos materiais de divulgação - é fazer com que o trio de amigos de Dory ajam sem sua liderança e muito provavelmente veremos momentos de humor constrangedor no decorrer da temporada.


O maior destaque do episódio é mesmo Cole Escola, interpretando adequadamente de forma afetada - quase como uma versão psicopata do veterano Sean Hayes ("Will & Grace") - mas sem resvalar na caricatura pela caricatura pois a intenção não é fazer rir mas sim dar medo. O personagem ganha tons alucinógenos e inspirados mas calca-se num pingo de realidade, revelando-se um estudioso de psicologia (o que o torna ainda mais perigoso). Já Alia Shawkat como sua vítima deixa a desejar em diversos momentos. Tem todo o auxílio do visual correto com seu cabelo cortado à máquina e o figurino de quem recebeu roupas enquanto estava desmaiada. Mas a interpretação não alcança o que deveria ser uma mulher bem desesperada equilibrando com seu calculismo característico. Talvez o real problema tenha sido a direção conflitante (dividida pela dupla de criadores Sarah-Violet Bliss e Charles Rogers) que não conseguiu equilibrar a comédia, o drama e o suspense. Há muito suspense, algum drama e nenhuma comédia. 


Há, claro, a tentativa. No início, vemos o raptor numa sinistra cena onde entendemos que ele colocou Dory no porta-malas para, em seguida, ele dirigindo ao som de "Groove Is in the Heart" (Deee-Lite) de forma bem descontraída. Em outra cena, a gang de Dory, todos bêbados, lamentam terem sido "dispensados" por ela e acabam dando um beijo triplo e uns leves amassos. De novo, nada engraçado. Só a constrangedora tentativa.


Mas nem tudo está perdido. A direção de fotografia de Jonathan Furmanski - aliada à esperta edição de Jon Higgins -, além de funcional, consegue manter o clima de suspense enquanto muda constantemente ao clima solar em dois ambientes. A trilha sonora de Daniel Wohl é competente e agrega às cenas do cativeiro, instigando pelo que possa vir em seguida. 


É um bom começo de temporada para acompanhar como a gang vai se virar sem Dory, perguntando-se o que a Dory faria e como ela vai conseguir se safar de mais essa enrascada que sua vida se tornou. Agora é aguardar os próximos capítulos.



Kal J. Moon é carioca e não gosta de sinais fechados nem de dias nublados...