Escrito e dirigido por Justin Lin, estrelado por Vin Diesel, Michelle Rodriguez, John Cena, Thue Ersted Rasmussen, Tyrese Gibson, o rapper Ludacris, Nathalie Emmanuel, Jordana Brewster e Sung Kang - com participações especiais de Charlize Theron, Kurt Russell, Michael Rooker, Helen Mirren e da rapper Cardi B (!) - "Velozes e Furiosos 9" deve agradar o público certo mas pelos motivos mais errados da História do cinema.


Brincadeira de criança (ou "O reverso da representatividade")
Os fãs da saga "Velozes e Furiosos" que não me ouçam mas a franquia sempre foi uma grande... novela. Se retirássemos a ação desenfreada e os feitos impossíveis, todos os elementos de um grandioso dramalhão estão lá: segredos do passado que vêm à tona nos momentos mais inoportunos, personagens que a audiência achava que estavam mortos mas retornam com a explicação menos plausível possível, amores perdidos que são reatados depois de um tempo, o eterno debate sobre honra (entre ladrôes ou coisa que o valha), parentes que não se dão bem por algum motivo escuso e a velha insistência de que os protagonistas fazem o que fazem não por dinheiro ou poder mas sim porque são uma... família. E no nono filme não poderia ser diferente.


Na trama, Dom Toretto (Diesel), está levando uma vida tranquila fora das pistas com Letty (Rodriguez) e seu filho, o pequeno Brian (Isaac Holtane e Immanuel Holtane) quando recebem um chamado de sua outra "família" contra uma ameaça que o forçará a confrontar os pecados de seu passado e salvar aqueles que ele mais ama. Sua equipe se une contra uma trama mundial liderada por um assassino e motorista de alto desempenho: um homem que também é o irmão abandonado de Dom, Jakob (Cena). A ação e os desafios percorrem o mundo — de Londres a Tóquio, da América Central a Edimburgo, e de um bunker secreto no Azerbaijão até as ruas de Tblisi, na Geórgia. E o tempo se esgota para salvar o planeta, levando parte da equipe onde ninguém jamais esteve...


Se, no início dos anos 2000, o primeiro filme da saga ainda trazia algum tipo de coerência (mesmo sendo uma cópia descarada de "Caçadores de Emoção"), as sequências deixaram de representar parte do público com seus carros tunados e tramas repetitivas sobre roubos de automóveis, envolvimentos com bandidos ligados à mega corporações secretas e outros derivados para tornarem-se algo distante, escapista e até pueril sob certo aspecto, como o são, hoje, a grande maioria dos filmes baseados em quadrinhos de super-heróis. Se o olhar era para os lados, agora olha-se para cima, como quem reverencia deuses num pedestal inalcançável.


Citando o que eu disse quando assisti o oitavo filme, "a) Existe o mundo real e b) Existe o mundo de 'Velozes e Furiosos'". Isso deve ser levado em consideração quando se assiste a qualquer filme da saga - principalmente após o terceiro exemplar. A ~"síndrome da galhofagem adquirida" aumenta exponencialmente a ponto do espectador comum - aquele que não acompanha a saga e só quer um filme com tiros e explosóes - não acreditar no que está vendo. Bem, a lógica dos produtores da saga devem pensar que, se os Vingadores ou a Liga da Justiça pode realizar feitos extraordinários, bem, Toretto e sua "família" também são capazes de tal façanha, certo? Afinal, no ~"mundo" de Toretto e companhia, tudo é possível - até carros voarem.


Lin - que dirigiu do terceiro ao sexto filme da franquia - retorna com a ingrata missão de coordenar feitos ainda mais absurdos, uma vez que o roteiro (onde ele também assina, ao lado de Daniel Casey) nem se preocupa com um mínimo de coerência em relação ao fiapo de história mostrado aqui. Pra não dizer que é tudo irrelevante, todas as cenas de flashback relacionados à família Toretto original traz um pouco de novidade ao mesmo tempo de volta às origens que os críticos sempre reclamavam - inclusive, é interessante ver que Vincent Sinclair Diesel (que interpreta o jovem Dom) é melhor ator que o próprio Vin Diesel, que deve ter esquecido tudo sobre atuação depois de sua inspirada participação em "O Resgate do Soldado Ryan"... Talvez estejam pensando em revisitar o passado dos personagens quando a franquia no cinema terminar, vai saber.


(Para não cometer injustiças, existem alguns diálogos entre as personagens de Gibson e Ludacris que tenta explicar a lógica por trás de saírem ilesos a cada aventura. Chega-se a cogitar que todos tem super-poderes mas chegam à conclusão racional de que a equipe de Dom tem... muita sorte. Sério!)

As fantabulosas cenas de ação são enérgicas para quem é fã da saga e completamente hilárias se o espectador tentar buscar algum nexo em quaisquer dessas sequências. É um dilema, eu sei. Se no sétimo filme "carros voam", no oitavo "carros chovem", no novo "carros são armas" destruindo tudo em seu caminho - mas humanos são, virtualmente, indestrutíveis. Só assistindo para entender. Não duvide se, no último filme da franquia, for revelado que toda a trama da saga inteira é, na verdade, uma criança brincando com seus carrinhos (uma dica sobre essa possibilidade foi dada no sétimo filme e no nono há algo que relembra essa opção).


E lembra que alguém disse nas redes sociais que a única coisa que faltava acontecer na saga "Velozes e Furiosos" ir para o espaço? Pois é, não falta mais. O "meme" virou realidade. Como? Assista, se tiver coragem - os fãs vão curtir, com certeza...


A franquia tornou-se um fast-food barato quando teria potencial para ser um hambúrguer artesanal feito no capricho. Com trama estapafúrdia e total desperdício dos talentos de nomes como Charlize Theron, Kurt Russell, Michael Rooker, Helen Mirren em pontas de luxo (até porque a rapper Cardi B só aparece para ser mais uma personagem do passado de Dom - e, claro, para fazer uma piada sobre a formosura de seu ~"derrière"), "Velozes e Furiosos 9" agradará em cheio quem necessita de diversão escapista e sem cérebro. É seu tipo de diversão? Então, mergulhe de cabeça, sem medo...



Kal J. Moon assistiria um seriado de TV chamado "The Torettos", sobre a juventude de Dom e sua família. Em tempo: alguém tem que dar um soco na boca de Vin Diesel se ele falar "família" mais uma vez...


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