Escrito, produzido e dirigido por James Gunn, estrelado por Idris Elba, Margot Robbie, John Cena, Viola Davis e grande elenco (mesmo!), "O Esquadrão Suicida" é a nova chance de obscuros personagens da DC Comics na tela grande dos cinemas num filme de super-heróis para maiores de 18 anos... ou algo assim.
Uma das maiores "muletas" de roteiro quando se tem múltiplos personagens numa história que não terão serventia alguma é "mate a maioria e desenvolva quem restou". Tal artifício acontecia na era do rádio, na TV e, óbvio, acontece com frequência no cinema. "O Esquadrão Suicida" de James Gunn parece seguir essa "regra" à risca - mas de um jeito completamente equivocado.
É difícil ver tanto dinheiro e tanto talento desperdiçado num filme que, aparentemente, custou mais de 300 milhões de dólares. Tantos bons atores, tantas possibilidades... Tudo jogado no lixo só porque o diretor teve "total liberdade" (tá, sei) para fazer o que bem entendesse com personagens que a maioria do grande público nem ouviu falar. Não é estranho quando um diretor, que pode fazer o que quiser, resolva fazer... um filme ruim?
O roteiro de Gunn (sim, não dá pra defender pois ele escreveu tudo sozinho) é um pesadelo do ponto de vista narrativo. Trata-se apenas de um "leve os personagens do ponto A ao Z e vá matando a maioria pelo caminho" com alguns dos diálogos mais absurdos e menos inventivos da história do cinema - e piadas repetitivas que parecem retiradas da pior sitcom brasileira.
Como a principal reclamação do filme anterior foi o tal do desenvolvimento de personagens, aqui ninguém tem o direito de reclamar. Quer dizer, tem, porque cada personagem se explica a cada cena, se apresentando como se estivesse num filme onde vampiros brilham no escuro. Diálogos do tipo "ele é fulano e faz isso, isso e isso... Por isso, está na missão" são repetidos à exaustão durante a exibição. E piadinhas bem irritantes, de "tiozão do churrasco", são ditas a todo momento. As mais inspiradas, aparecem no trailer - aliás, o que o filme tem de melhor já foi visto nos trailers e vídeos de divulgação espalhados pela internet.
"Mas tem algo que salve, tio Kal?" Tem. Duas cenas iniciais de discussão entre o Sanguinário (Idris Elba) contra Amanda Waller (Viola Davis) e Tyla (Storm Reid), a filha dele, mostram que existia algum resquício de dramaticidade no roteiro - que deve ter sido limado em seguida pelos produtores em prol de enfiar a maior quantidade possível de piadas . E, claro, a tal cena de luta da Arlequina (Margot Robbie) que espirram flores de desenho animado é muito bem coreografada e fotografada. Dá gosto de ver.
Coronel Rick Flag (Joel Kinnaman) é o 'milico' operante que em algum momento entrará em conflito com os interesses da missão. O ator faz o que pode e está correto em cena. E o Pensador (Peter Capaldi) está bem parecido com sua contraparte originária dos quadrinhos, pena que (deixa pra lá)... Já o Tubarão-Rei dublado originalmente por Sylvester Stallone é uma tiração de sarro só, uma vez que ele reuniu sua própria equipe de 'dispensáveis' em três filmes de razoável sucesso - e o personagem não falar direito é a piada explicada de quem debochava do próprio Sly no início da carreira.
(E a ameaça central - que também está no trailer, PRA QUÊ MESMO?! - seria efetiva e assustadora se não fosse tão fácil de ser derrotada e se a cena fosse feita à noite emulando um filme de terror. E olhe que Gunn tem experiência no gênero...)
"O Esquadrão Suicida" parece uma história em quadrinhos. Só que uma história em quadrinhos muito mal escrita. O filme é raso, destrambelhado, incompleto e prepotente, como quem acha que está abafando usando calça jeans branca numa festa feita para dançar e suar.
Mas colocar os integrantes da Força-Tarefa X para ser alvo de piada, além de forçação de barra, é apelar para o mais profundo mal gosto. Mas, claro, tem quem goste de gracejos rasteiros e negação de inteligência. Fazer o que? Assista e tire suas próprias conclusões... Porém, quem avisa, amigo é.
Kal J. Moon odiaria viver na "horrivelmente bela" mente de James Gunn. O aluguel deve ser caro, o local deve ser barulhento e a vizinhança, detestável...