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CRÍTICA [CINEMA] | "Encanto", por Andreas César


Não é novidade que a Disney tem conseguido fazer animações incríveis sem a necessidade da colaboração do estúdio de animação Pixar. Detona Ralph, Raya e o Último Dragão, Moana e Zootopia são apenas alguns exemplos bem sucedidos que provam que a empresa realmente sabe como fazer obras incríveis sozinha. Com isso em mente, fui assistir "Encanto", nova animação da Disney, com uma expectativa que, sem dúvidas, era muito justa. 
O enredo do filme trata de uma família colombiana que, após a morte do avô, recebe magias que ajudam na construção de sua casa e proteção da vila que comandam. Tudo muda quando uma das netas da família não recebe o chamado "dom", colocando a magia em uma situação de fragilidade, assim como a própria família e o vilarejo. 

Esse plot simples se desenrola em poucos minutos a partir de músicas que destrincham o "poder" de cada membro da família, o fardo que carregam e o desenvolvimento de suas personalidades. As músicas do longa são divertidas, acrescentando à trama e tendo melodias muito boas. Além disso, a quantidade de canções é perfeita para o tempo do filme, não cansando o espectador com várias músicas desnecessárias, como outras animações fazem. 

A personagem principal, Mirabel, é carismática e nem um pouco genérica. Ao longo da trama conseguimos nos sentir como se fôssemos irmãos dela, querendo protegê-la das situações que se apresentam. Dos personagens secundários, os que mais chamaram atenção pouco aparecem, como o tio Bruno e os primos Camilo e Antonio. Ainda assim, os que são mais bem desenvolvidos, como Isabela e Luisa, também são personagens incríveis, ainda que de início não pareçam ser.  


O problema de "Encanto" começa quando se percebe a semelhança de sua história com a de um filme recente do estúdio Pixar, "Viva - A Vida é uma Festa". De início, podem parecer histórias bem diferentes, mas as semelhanças são muitas. Se não quiser spoilers, pule esse parágrafo, ainda que tudo seja muito óbvio e você vá descobrir antes das grandes "revelações". Primeiro, temos uma avó matriarca durona, que faz de tudo para proteger sua família após a morte do avô, mesmo que para isso tenha que deixar membro da mesma magoados. Depois, temos um personagem renegado pela família que ao entrar em contato com o personagem principal percebemos que na realidade é um herói injustiçado. A resolução final da avó que vê que estava errada, se reúne com a família se tornando a matriarca amorosa que sempre deveria ter sido, enquanto o personagem principal recebe a atenção que merece por conta de seu verdadeiro dom (no caso de Viva, a música, no de Encanto, o amor e dedicação pela família). Isso mostra uma estrutura de enredo que é basicamente uma cópia da animação anterior, o que é compreensível, ainda que seja triste, sendo que é uma das melhores animações já feitas. 

Ao ver o filme me lembrei, também, de outra obra, mas dessa vez de forma positiva. A história de uma família que se muda do local de origem em um busca de um novo lar seguro e que cria um vilarejo onde se torna a principal liderança não é única de "Encanto", mas também de outra história colombiana escrita por um dos maiores escritores de todos os tempos. Essa é a história do meu livro preferido, "100 Anos de Solidão", de Gabriel García Márquez. Essa referência, ao contrário da cópia anterior, é muito bem apreciada, ao fazer alusões à história de Macondo, que encantou o mundo e rendeu a García Márquez o Nobel de Literatura, colocando a América Latina como um grande centro de cultura. 


Não fique confuso, "Encanto" é uma filme incrível e com uma história linda, porém, ao se notar que é uma cópia de outro filme incrível, conseguimos entender o porquê do filme ser "encantador". A fórmula utilizada funciona, e não tenha dúvidas que você vai se divertir assistindo ao novo longa da Disney, só lembre-se, nem tudo que é arte é original, e muitos críticos de arte afirmam que isso é o ideal, inclusive. Sendo assim, assista "Encanto", se divirta, e sinta um pouco da magia colombiana nessa animação, aposto que irá se divertir. Ah, e leia "100 Anos de Solidão", provavelmente antes de assistir ao novo filme da Disney, é mais importante e urgente. 




Andreas César assistiu, criticou, e não se importaria de não receber um "dom", a vida seria mais fácil sem o pessoal do vilarejo me cobrando de responsabilidades fúteis. 

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