Escrito e dirigido por Camille Griffin, estrelado por Keira Knightley, Matthew Goode, Roman Griffin Davis e grande elenco (mesmo!), "A Última Noite" é uma "dramédia de humor negro" que alerta sobre o fim do mundo como o conhecemos depois de uma lavagem de roupa suja na noite de Natal.


"Meu amor, o que você faria...?"
A maioria dos filmes de Natal são sempre sobre a mesma coisa: iniciar o dia com uma lista quase impossível de tarefas a cumprir, lembrar de convidar até mesmo convidados indesejáveis (e procurar não se aborrecer com nenhum deles) por conta do confuso sentimento que abarca a humanidade em apenas alguns dias, preparar uma ceia gigante que será devorada (e requentada, já sem o gosto original) ao longo de uma semana por pessoas que reclamarão de algum item do extenso cardápio (que geralmente não se come em época alguma do ano) mas, mesmo assim, no fim das contas, a noite é mágica e traz aquele quentinho no coração com a sensação de missão cumprida.


Se na vida real também é assim, aí já é outra história. Mas nos filmes desse gênero sempre temos a tal lição de moral que permeia a safra de tramas feitas para toda a família. E "A Última Noite" não poderia ser diferente.  Na trama, o casal inglês Nell e Simon se preparam, junto com seus três filhos, para receber seus amigos íntimos durante a ceia de Natal - que será bem especial pois um problema de ordem climática dissipou uma nuvem tóxica que está matando todos ao redor do mundo e se dirige para o local da festa. A recomendação do governo é que toda a população tome uma "pílula do suicídio" para ir desta para uma melhor de forma indolor e mais "humana" que perecer diante dos efeitos colaterais advindos da tal nuvem tóxica.

Mesmo que a sinopse seja simples, os temas abordados em "A Última Noite" - longa-metragem de estreia da diretora Camille Griffin, advinda dos curtas - são todos vistos sob a óptica de quatro casais e quatro crianças / pré-adolescentes - todos mais ou menos estáveis financeiramente - e não de gente "comum" como vemos em filmes apocalípticos. E talvez esse "microcosmo empolado" seja o grande destaque da trama, que mais parece (propositalmente, eu diria) uma peça teatral, com todos os seus exageros e caricaturas características.


Ok, é virtualmente impossível assistir esse filme sem fazer paralelos com a pandemia que assolou nossas vidas desde o final de 2019 (e também não tem como não perceber que a trama é bem similar ao que é mostrado no brasileiro "A Nuvem Rosa", lançado recentemente). Se, por um lado, uma análise mais fria possa identificar que se trata de um olhar negacionista em relação à pandemia (tomar o "remédio" leva à morte certa mas tem quem tentar sobreviver por outros meios), por outro lado pode apenas ser um olhar estreito sobre como o ser humano enfrenta a finitude iminente.

Mesmo que não haja interpretações grandiosas, inspiradas ou marcantes (todo o restante do elenco está bem operacional), o destaque é mesmo para Roman Griffin Davis - o protagonista de "Jojo Rabbit" (e filho da diretora, que também colocou sua dupla de filhos gêmeos no filme) -, que meio que tenta ser a voz do bom-senso (ou do negacionismo, vai saber) com motivação humanista, perguntando se a Rainha (Elisabeth II) vai tomar a pílula de suicídio, se espantando ao saber que a população de rua não terá direito à pílula pois não é considerada "existente" por não ter documentos de identificação, tentando convencer os adultos de que poderiam proteger a casa para minimizar danos, ou seja, alguém apegado à vida e à esperança. E a direção de Camille Griffin - que também escreve o roteiro - explora somente o que se vê em tela, sem deixar margem para possibilidades interpretativas de cada personagem. Todos são resilientes frente ao seu "destino".

O principal acerto é a curta duração do filme, resolvendo boa parte da trama através de diálogos ora exagerados, ora reflexivos, ora ofensivos. Mas a parte que dividirá o público é justamente seu encerramento "aberto" - onde se reforça a tese sobre o filme ser uma peça negacionista - pois o roteiro meio que "rouba" ao tentar subverter suas próprias regras pois seria imprevisível assim como a vida real. Independente de qualquer conclusão, é um filme que vale a pena ver, mesmo que não tenha nenhum personagem que o grande público possa realmente se identificar. Vale pela reflexão. Assista e tire suas próprias conclusões...




Kal J. Moon acha que o fim do mundo não chega nem perto da discussão filmes da Marvel versus filmes da DC na noite de Natal...


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