Estrelada por John Cena (e grande elenco) e criado por James Gunn, o seriado "Pacificador" chega ao quarto episódio já demonstrando cansaço num "capítulo de recapitulação" safado para tentar organizar as surpresas que podem (ou não) vir por aí...
Assistir o quarto episódio de "Pacificador" - depois de três episódios sofríveis - é como ver seu amigo ou amiga que passou o maior vexame na balada (ou sei lá como chamam os jovens de hoje) e ter que aturá-lo (a) de ressaca na manhã seguinte com toda aquela conversa mole que sempre termina com sua cara estupefata e a célebre / manjada pergunta "mas eu fiz mesmo isso?!". Agora é o momento de reposicionar o tabuleiro para começar a contar essa história "de verdade" a partir do final desse episódio.
"Mas, tio Kal, se você não gosta do jeito de contar histórias de James Gunn, não seria mais fácil não assistir seus filmes e seriados?", pode alguém perguntar. O pequeno Kal, quando criança (nos longínquos e erroneamente idolatrados anos 1980), se divertiu a valer com toda a violência e maluquice do Pacificador quando leu um gibi encadernando uma minissérie dedicada ao personagem. A graça estava em ser "errado" à beça e totalmente inadequado para quem lia quadrinhos de super-heróis naquela época - a saber, crianças (os adultos só passaram a ler quadrinhos quando Eisner, Miller e companhia resolveram chamar algumas poucas histórias de 'graphic novels' e isso foi o começo do fim - o resultado taí: muita gente falando que curte super-histórias, gourmetizando histórias pueris em outras mídias e pouquíssimos realmente lendo gibi).
Sendo assim, ver esse personagem que insistem em chamar de "Pacificador" na série criada por Gunn foi dividido em dois e parte de sua personalidade foi colocada em seu pai, que por sua vez virou outro personagem canônico e obscuro da DC Comics - um vilão supremacista e xenófobo - para que seu filho possa ser o errático herói que não merecemos mas que precisamos é o fim da picada. O próprio protagonista não parece falar coisa com coisa quando diz que quer manter a paz a todo custo mesmo que precise matar homens, mulheres e crianças para tal mas que não quer matar crianças. O mistério pode estar relacionado a seu pai e à misteriosa morte de seu irmão, que pode (ou não) ter tido seu envolvimento (mais um detalhe que foi postergado para os próximos episódios)...
Todo o discurso anti-racista que permeia o episódio, apontando e esclarecendo didaticamente para o anti-herói Pacificador que seu pai é, sim - com todas as palavras, em negrito, itálico e letras em vermelho sangue - um racista parece mais algo imposto por produtores do que realmente orgânico na trama. Afinal, ninguém em sã consciência torceria por alguém que odeia determinadas pessoas por conta da cor de sua pele ou de seu local de origem, certo? Sim e não, afinal, o mundo tem nos mostrados que esses "valores" ainda tem seu séquito de admiradores e se um personagem desse tipo que está no mesmo universo que o Batman e o Superman fosse o "herói do dia", então, teríamos um grande problema de estabelecimento de marca. Mas se um vilão assume esse papel...
O problema é esse discurso gigante ser apenas uma grande enrolação para mostrar pouca coisa importante acontecendo de fato durante o episódio que levasse a trama adiante. Mostrar uma personagem que não tem a menor experiência em manipulação de pessoas conseguindo implantar uma ideia na cabeça do Vigilante para que ele matasse o pai do Pacificador na cadeia somente pelo fato dele ser um racista e por isso seria melhor que ele estivesse morto é o tipo de coisa que deveria ser combatido e não incentivado. É o extremo que leva a atitudes extremas. Sabemos que o grupo que tenta executar a missão está ali a mando de Amanda Waller (Viola Davis, que apareceu no primeiro episódio e tem ordens específicas para uma das personagens sem que o restante do grupo saiba) mas o mistério ao redor do que realmente se trata o tal "Projeto Borboletas" continua, agora revelando num plot twist forçado que um membro do grupo não é exatamente o que diz ser.
De resto, ainda temos citações a coisas obscuras da cultura POP, repetições de piadas que não têm a menor graça, mais uma vez falando mal do Batman (dessa vez, de seu modus operandi), uma citação a outro personagem da DC Comics que só quem acompanhou o gibi do super-grupo Legião dos Super-Heróis escrito por Paul Levitz nos anos 1980 vai se lembrar e, claro, uma dancinha ao som de uma canção roquenrol de uma banda não tão conhecida assim da galera mais novinha mas que deve bombar nos streamings de música em breve. Além, claro, de diálogos quilométricos tentando, mais uma vez, emular a prosa tarantinesca... Porém, nada disso servindo de fato à história.
Repetitivo e com poucas surpresas, ainda faltam quatro episódios para terminar o seriado e, quem sabe, o tormento. Passamos da metade da trama sem a menor empolgação esperando que a tortura acabe, enquanto seu criador se diverte com o que vê. O cenário é desolador e totalmente desesperançoso. Mas seguiremos até o fim da jornada, só que sem o menor ânimo...
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