Escrito e dirigido por James Gunn, estrelado por John Cena e grande elenco, "Pacificador" é um seriado que também é continuação direta do superestimado filme "O Esquadrão Suicida" e mostra o que aconteceu com o anti-herói que quer trazer paz a qualquer custo, nem que precise matar todo mundo para alcançar seus objetivos. Quer dizer, mais ou menos, de acordo com o que se vê nos três primeiros episódios...


Síndrome de Jorge Fernando
O grande problema do público atual - aquele que consome cultura POP em massa porque está na moda ser ~"nerd" - é que não se tem mais a noção histórica da referência. Tudo é tão fugaz e descartável (filmes, séries, games, gibis etc) que é necessário consumir o mais rápido possível para não ficar "por fora" (ou não levar algum spoiler) na roda das amizades, virtuais ou não. Se com isso acaba se perdendo parte da experiência, por outro lado obras medíocres são elevadas à categoria de obras-primas ou ~"clássicos instantâneos" - como se tal coisa existisse...

Acontece exatamente isso para quem acha que só existe um jeito de se contar histórias mais populares como as protagonizadas por personagens inspirados nas histórias em quadrinhos. E esse jeito é  com tramas rasas, piadas no melhor estilo "tiozão do churrasco", escatologia e trilha sonora roqueira e revisionista para aquele fã com mais de 30 anos de idade se sentir "respeitado". Os três primeiros "capítulos" de "Pacificador" são, basicamente, uma overdose de tudo isso que foi relatado nos parágrafos acima.

Na trama, Christopher SmithPacificador (Cena) já despertou há algum tempo no hospital e recebe alta para poder voltar para casa - e não à prisão onde cumpria pena. Ao chegar à casa de Auggie, seu pai (Robert Patrick) - um senhor altamente preconceituoso do meio-oeste -, Pacificador é interpelado por parte da equipe tática de Amanda Waller (Viola Davis) para cumprir mais uma missão chamada "Projeto Borboleta". Objetivo: matar algumas pessoas que estão sendo investigadas por comportamento suspeito. Mas tem algo que a equipe não contou: do que se trata, exatamente, essa obscura missão?

Pra começar, estabelece-se imediatamente que alguém já agiu no passado como "Pacificador", o que faz do personagem interpretado por John Cena uma tela em branco para poder ser reescrita com o decorrer do seriado. Por um lado, apesar de preguiçoso, é um jeito decente de dizer aos fãs mais hardcore da cronologia das histórias em quadrinhos que aquele não é o personagem obscuro que tanto tinham orgulho de conhecer antes da estreia do filme ou do seriado. Por outro lado, esse mais honesto, é a forma meio vergonhosa que "CHIPs - O Filme" - outra péssima adaptação - utilizou para não magoar os fãs da cultuada série de TV com as mudanças em relação aos personagens.

Infelizmente, tal estratagema não consegue disfarçar o principal problema: James Gunn. Ele dirige e escreve o roteiro da maioria dos episódios (só um deles é dirigido por outra pessoa) totalmente sem freios e liberdade criativa total. Se ainda tivéssemos um aprofundamento dramático das personagens - mesmo numa comédia, é possível construir personagens menos bidimensionais e mais críveis, sabia? - ou uma história menos óbvia a cada segundo...

(Quer dizer, a tentativa existe mas é realmente estranho ver o que acontece com o personagem para que ele deixe de ser um anti-herói para se transformar no protótipo da jornada do herói sem qualquer motivo aparente apresentado pela trama - só "porque sim")

Mas tudo o que vemos em tela é o que Gunn já tem costumado entregar desde... sei lá, desde "Scooby Doo - O Filme". E qualquer movimento em tela parece ser obrigatório o uso de alguma canção roqueira dos anos 1970 ou 1980 (de preferência, acompanhado de uma dancinha escrota e desengonçada por parte de algum personagem - tanto que colocaram isso na abertura da série, para irritar, provavelmente).

(É como se fosse uma novela dirigida pelo saudoso brasileiro Jorge Fernando, onde quando menos se esperasse, aparecia um balé do nada e começava uma coreografia a la Vegas... Só que Jorge Fernando sabia equilibrar esses momentos com timing cômico irrepreensível. Já Gunn...)

Nenhum dos personagens em cena é cativante o suficiente para justificar o comprometimento emocional do espectador. Nenhuma fala ou texto proferido em três capítulos parece fazer algum sentido ou dito por alguém que realmente exista - ninguém com menos de 30 anos de idade fica fazendo referências à animações setentistas educativas ou qualquer outro assunto cult como se todo mundo soubesse do que se está falando. Gunn parece estar empenhado em ser "O" substituto de Quentin Tarantino - ou uma espécie de "evolução" dele, uma vez que agora pode mostrar partes íntimas femininas em close para seu seriado ser chamado de "conteúdo adulto" - uma coisa é assinatura, outra é forçação de barra (e ambas não andam de mãos dadas)...

A direção de fotografia de Michael Bonvillain é funcional e dinâmica. Os efeitos especiais são muito bem desenvolvidos, fazendo-nos acreditar que uma águia pode fazer, bem, o que ela faz no seriado. As coreografias de luta e a edição dessas cenas são um tanto bagunçadas, além de soarem um tanto falsas em alguns momentos.

Ainda restam pelo menos cinco episódios para se conferir semanalmente. Cada episódio ainda conta com uma cena pós-créditos (onde será que aprenderam isso?), que na verdade é uma expansão de uma das cenas que já foi exibida no episódio. Por enquanto, não se vê história para tantos "capítulos", como um encadernado que poderia ter bem menos páginas e ir direto ao assunto - sério, essa trama cabia facilmente num filme. Vamos ver se melhora. Mas não espere muito. Afinal, "a expectativa é mãe da decepção". Mas isso você já sabe...




Kal J. Moon assistiu, criticou e era chamado de "bochechudinho" quando criança. Sempre achou ofensivo e agora sabe o porquê...


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