Uma nova criação televisiva de Greg Berlanti e seus asseclas, estrelada por Tyler Hoechlin, Elizabeth Tulloch, Jordan Elsass, Alex Garfin, Wolé Parks, Dylan Walsh, Adam Rayner e grande elenco, "Superman & Lois" é, talvez, a melhor adaptação do mito do último filho de Krypton desde os gibis e os filmes com o saudoso Christopher Reeve - mesmo com alguns probleminhas típicos de uma produção da CW.


Uma SUPER novela das seis
Quando anunciaram o seriado "Superman & Lois" após as participações do ator Tyler Hoechlin como o Homem de Aço em "Supergirl" e no mega-crossover "Crise nas Infinitas Terras", muitos fãs das séries do "Arrowverso" (ou seria "Berlantiverso"?) rejubilaram-se pois finalmente respeitaram a mitologia do personagem, ainda que por poucas aparições. Curiosamente, o novo seriado tenta se distanciar o máximo que pode da cronologia pré-estabelecida nos programas do canal CW, para depois, de forma brusca, acabar trazendo elementos narrativos dos mesmos para sua própria narrativa, o que acaba perdendo aqueles pontos que havia ganho do fã mais desconfiado nos primeiros episódios.

Na trama, num rápido flashback, Clark, Lois e seus filhos Jonathan e Jordan Kent se mudam para a fazenda Kent em Smallville após serem demitidos do jornal / grupo de mídia Planeta Diário devido à grande crise financeira que assola os meios de comunicação - e também porque o milionário Morgan Edge está envolvido nessa manobra. Infelizmente, esse não é o único motivo, uma vez que eles estão indo cuidar dos problemas financeiros e estruturais da fazenda por conta da morte de Martha Kent, mãe adotiva de Clark. Porém, ao chegar à pequena e pacata cidade, Lois descobre que há algo de muito suspeito nas minas abandonadas do local, que, vejam só, Edge comprou e quer comandar a mineração que há muitos anos está parado, sem qualquer menção de algo precioso para demandar a contratação de pessoal nessa empreitada. Enquanto isso, um misterioso homem que parece conhecer Lois também resolve investigar os planos de Edge. Mas ele não parece ser quem diz...


Nos primeiros episódios, é necessário um pouco de paciência pois o clima de "novela das seis" se estabelece como há muito não se via num seriado do gênero. Muitas apresentações de personagens - alguns bem importantes para o futuro dessa mitologia, outros que mais servem para exposição -, clima de romance adolescente, mas tudo cercado de muito fan-service para agradar a quem quer que duvidasse da qualidade do programa. Além, claro, de dois mistérios a serem desvendados: o que o "vilão" Morgan Edge quer com as minas de Smallville e quais as reais intenções do misterioso homem que parece envolvido em algo maior?

A princípio, mesmo levantando interesse sobre os temas mencionados acima, tudo é meio lento. Tem, óbvio, algumas cenas de ação envolvendo Superman enfrentando super-vilões mas também temos muitas cenas de Clark tentando fazer com que sua família se adapte à vida no campo, diferente da agitação envolvendo Metrópolis (e não conseguindo a mesma abordagem com seus filhos - um aceita, o outro o rechaça) - e ainda escondendo de seus filhos que ele é o Superman. Outra parte da trama é que Jonathan e Jordan estão descobrindo super-habilidades devido ao seu DNA metade kryptoniano (Jonathan é o que mais sofre pois tem crises terríveis de dor e isso o tornou um rapaz deprimido, ao contrário de seu irmão Jordan, que era o capitão do time de futebol em Metrópolis).


A trama muda de rumo a partir do terceiro ou quarto episódio, quando começa de fato a contar sua história. Entre Clark revelar a seus filhos que é o maior super-herói de todos os tempos, o plano de Morgan Edge envolver indiretamente a herança de Krypton e sabermos quem de fato é (e de onde é) o tal homem misterioso, tudo corre numa sinergia muito boa, envolvente, cheia de referências aos quadrinhos e a alguns super-filmes, mas tudo feito com uma certa leveza. Essa versão do personagem é o que mais se aproxima de uma versão definitiva, misturando de forma equilibrada elementos vindos de diversas mídias sem parecer um "monstro de Frankenstein narrativo". Dá pra perceber, entretanto, que a principal referência e inspiração é o seriado "Lois & Clark - As Aventuras do Superman" e muita coisa vinda dos quadrinhos.

Porém, após o oitavo ou nono episódio, o que vinha se provando uma ótima adaptação vira um produto bem genérico. Ou pior: um seriado do canal CW - conhecido por fazer séries de super-heróis de grande sucesso mas que geralmente são mal escritos ou que possuem pouca verba para efeitos especiais decentes. São muitas lutas por episódio, muito fundo verde descarado em diversas cenas, uma reviravolta na trama que parece ter vindo da saga dos quadrinhos "A Corte das Corujas" - só que essa saga vem dos gibis do Batman, caramba! - além de muitos furos no roteiro, tornando a execução de muitas cenas em algo até risível de certo ponto de vista. Por exemplo: alguns personagens ganham super-habilidades como as do Superman mas durante uma cena de voo, perdem seus poderes e caem de uma grande altitude, mas nem se machucam quando se chocam no solo ou roupas não queimarem quando um personagem está sugando energia do Sol (IN LOCO!), dentre outras bizarrices. Pelo menos, os últimos episódios da primeira temporada se redimem resolvendo a contento o quebra-cabeça da trama e direcionando novos rumos com uma participação especial surpresa na última cena.


No quesito das atuações, há um misto de considerações a serem feitas. Tyler Hoechlin provavelmente é o melhor Clark Kent / Superman desde o saudoso Christopher Reeve - a cena onde aparece com o primeiro clássico traje dos quadrinhos e readaptando uma cena do igualmente clássico primeiro filme estrelado por Reeve é de fazer o fã mais chato chorar feito bebê balbuciando a frase "finalmente fizeram direito". Sua versão é um misto de simpatia, bondade e de alguém que está o tempo todo se segurando para poder fazer o melhor possível pelas pessoas a seu redor. Elizabeth Tulloch faz uma Lois Lane ainda mais moderna e esperta do que Teri Hatcher ou quaisquer versões do cinema. Vemos a personagem investigando, usando conexões para descobrir informações sigilosas e peitando oficiais militares para poder conseguir o que quer - e, curiosamente, a atriz é tão estrábica quanto Hoechlin (o que, por si só, é algo que há alguns anos faria com que o casal nem sequer fosse cogitado para seus papéis).

Já Jordan Elsass e Alex Garfin (os irmãos Jonathan e Jordan Kent) são personagens completamente novos e meio que "satélites emocionais" para a trama. Ambos até tem sua importância mas faltou trabalhar um pouco a direção de atores em algumas cenas pois o resultado deixa a desejar - e neste caso nem é problema do texto mas sim de atuação mesmo. Garfin entrega um pouco mais que Elbass pois sua personagem tem um pouco mais de importância, além de trazer mais elementos interessantes dramaticamente falando. Dylan Walsh faz o que pode com seu General Sam Lane (pai de Lois), personagem que nunca foi muito bem explorado nos quadrinhos e outras mídias, mas é igualmente periférico, servindo mais como instrumento de exposição para alguma situação de risco do que realmente algo importante na trama. Adam Rayner está canastrão ao extremo como o homem de negócios Morgan Edge - uma espécie de Lex Luthor genérico (ainda que o personagem exista nos quadrinhos) e piora quando descobrimos quem ele de fato é. O texto que ele recebeu é bem ruim, é verdade, mas o ator nem se esforça para dar um pouco de dignidade às suas cenas.


O melhor arco é mesmo de Wolé Parks como o homem misterioso - não dá para dizer quem ele é sem soltar um spoiler que é uma grande surpresa para o fã de quadrinhos - e o ator entrega e até rouba cada cena, trazendo o holofote para si. Cada emoção é transmitida com tamanha veracidade que dá até vontade de assistir uma série solo de seu personagem. Quando divide cena com Tayler Buck, é ainda mais emocionante de se ver -  e parece que a personagem dela terá mais destaque na segunda temporada.

Como a temporada teve 15 episódios, parece que houve algum tipo de problema de produção, tanto no figurino do Superman - em algumas cenas, o emblema em seu peito parece uma impressão barata num tecido de roupa de ginástica e em outras tem um pouco mais de relevo - quanto nos efeitos especiais, provavelmente por conta da pandemia pois muitas cenas parecem ter sido gravadas separadamente em fundo verde e não foram devidamente renderizadas, gerando aquele mal-estar de assistir algo "falso". Em compensação, a direção de fotografia entrega ao espectador belíssimas tomadas do interior do Kansas, tornando a fictícia Smallville impressionantemente crível. 


"Superman & Lois" tem algumas qualidades, também tem lá seus defeitos, mas o saldo é positivo e entrega, ainda que do jeito CW, uma das maiores e melhores experiências para quem é fã do filho de Jor-El. Assista com baixa expectativa, surpreenda-se, fique com um pouco de raiva (vai acontecer) e já se prepare para assistir a segunda temporada...




Kal J. Moon não veio de Krypton (pois é) mas sempre que precisa tomar uma decisão, se pergunta: "O que o Superman faria?". Nunca falha...


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