A última página do livro foi recitada e a conclusão da jornada de Boba Fett é épica, inspirada e para poucos

Vi em minhas redes que muita gente odiou, ODIOU, O Livro de Boba Fett

Sinceramente, o que tenho para dizer para essas figuras, que destilaram seus venenos através de texto, vídeo ou áudio é o seguinte: Estudem. E a melhor maneira de se aprimorar em termos de áudio visual, especialmente cinema ou TV é ASSISTINDO, incessantemente filmes, séries, animações e videoclipes. Não tem segredo. Daí, não se passará vergonha ao tecer comentários ignorantes — no sentido estrito da palavra — sob um verniz de intelectualidade vazia. E a coisa só piora quando citam outros filmes (óbvios) que serviram como inspiração para o diretor X ou Y, porque isso só demonstra a falta de qualidade da crítica especializada no Brasil.

Não basta citar nomes ou apontar fan-services, é preciso entender o que é referenciado e contextualizar o intuito do autor. Quanto aos serviços aos fãs e ovos de páscoa resta identifica-los e, quando dignos, dar a nota.

Eu escrevo isso, em antecipação à minha crítica do último episódio de O Livro de Boba Fett, porque já estou cansado, sim, CANSADO, de ler, ouvir ou assistir bobagens de gente que não sabe do que está falando. Que não tem o mínimo, o básico, de conhecimento e insiste em escrever e falar, para o grande público, sobre temas e assuntos que não domina.

Cansei.

O Livro de Boba Fett é uma obra fora de série porque é extremamente bem realizada. Nas rédeas firmes de Robert Rodriguez, a série tem o sabor de uma receita especial, cujos ingredientes são os western-espaguetes e filmes de luta asiáticos que eram exibidos nas sessões duplas de cinemas de bairro. O diretor, que é o realizador da trilogia El Mariachi, foi o homem certo para a tarefa de levar para as telas a história de um fora-da-lei, pois tem experiência em contar, cinematograficamente, este tipo de trajetória. Rodriguez conseguiu apresentar a história e roteiro escritos por Jon Favreau e Dave Filoni com sua assinatura de narrativa visual.

Rodriguez, que é showrunner da produção, assina o último episódio da série. Foi um encerramento brilhante. Tivemos ação, drama, comédia e até mesmo um duelo incrível, um embate entre dois icônes do lore de Star Wars. As areias de Tattooine e a comunidade de Mos Espa, planeta e cidadela onde a trama principal se passa, respectivamente, foram testemunhas da ascensão de uma lenda. Toda a trajetória do protagonista, desde sua reconstrução como pessoa, até seu amadurecimento — que foi o elemento necessário para sua conquista final — foi muito bem contada ao longo dos cinco episódios dedicados à isso. Boba não buscava o poder, simplesmente. Sua busca era por justiça e, por consequência, acabou ganhando também o respeito de seu "novo povo", se tornando o daimyo que ele pretendia ser desde o início de sua jornada nesta nova fase de sua vida.

Temuera Morrison interpreta a personagem muito bem, emprestando à Boba Fett agressividade e uma paciência contida. Dá pra sentir que Boba está lutando contra seus impulsos mais selvagens e primitivos e isso fica estampado na sua cara. Especialmente ao ser confrontado por Fennec Shand, personificada pela excelentíssima Ming-Na Wen, que insistentemente se opõe às decisões de Boba, apesar de manter-se fiel e dedicada ao seu novo aliado. 

Todas as nuances da interpretação de Morrison podem ser notadas quando o personagem se despe de sua veste tolerância e desce sua clava contra os inimigos com ferocidade. Solto, o animal selvagem ruge, mostra os dentes e, principalmente, morde. Desnudo, o vemos como ele é: um inimigo implacável. Com sua "camisa de força", o vemos como ele precisa ser para dominar o mundo do crime de Mos Espa: civilizado, porém, assustador.

Fennec Shand já era uma personagem impressionante nas animação de Star Wars e foi muito bem aproveitada na trama de O Livro de Boba Fett. Sua associação com Fett foi uma adição bem-vinda ao lore da saga. Comedida, implacável e astuta, Shand é imprescindível, um pilar, para a manutenção do poderio de Fett.

Vi muita gente reclamando, nas redes sociais, da gangue de motociclistas mods, apelidando-os de "Power Rangers". Isso, em muitos dos casos, se deu por pura maldade (como fizeram ao não entender e falar mal do trabalho de Morrison), principalmente, mas também por desconhecimento dos paralelos que o grupo tem com o próprio universo cinematográfico de George Lucas e do mundo real. O grupo multicolorido é uma homenagem ao filme American Graphitti, filme de George Lucas que deu-lhe moral perante os estúdios para realizar Star Wars, ou melhor dizendo, Guerra nas Estrelas, em 1977. Foi em American Graphitti que um ator importante para a saga estelar se destacou pela primeira vez, Harrison Ford. Ver o grupo intrépido de motociclistas foi um deleite e deu uma "cor" adolescente e rebelde à série. Além disso, tod grande chefão criminoso, como Boba Fett, precisa lançar mão de criminosos menores para poder ascender ao poder. O grupo faz todo sentido naquele ambiente.

No último episódio, os mods tem sua importância mostrada em tela, de maneira correta, após a trágica  e lenta sequência de perseguição que assistimos em um dos episódios anteriores. São aliados leais e necessários, e Boba sabe disso. Black Krrsantan, ou "Santo" (isso é coisa do Robert Rodriguez), também vai muito além de um mero fan-service, para aparecer como uma peça importante na trama. Feroz e temível, o wookie negro, que já tinha sido apresentado nos quadrinhos de Star Wars, termina a temporada como um dos grandes personagens da série, tanto para a trama, como para os licenciamentos. Afinal, não podemos nos enganar: Star Wars é sobre histórias galácticas e venda de produtos correlatos.

A primeira temporada termina presenteando os fãs com um conclusão explosiva, frenética e gigantesca para uma série de TV. Tivemos de tudo: Monstros gigantes, droids inesperados, cavalgada alucinante e até participações especiais. Tudo como deve ser.

O Livro de Boba Fett é uma série spinoff tão importante quanto a principal. Data vênia ter sido o criador e idealizador de tudo que orbita Star Wars, Rodriguez, Favreau e, especialmente, Filoni são, hoje, mais importantes para Star Wars do que George Lucas jamais foi.

Não é, definitivamente, para qualquer um.



Marlo George assistiu, escreve e irá, em breve, revisitar Mos Espa

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