Nova minissérie da Disney+ e Lucasfilm, Obi-Wan Kenobi, aprofunda personagens, amplia o cânone e diverte, apesar da direção fraca de Deborah Chow


Assim que soube do anuncio da série Obi-Wan Kenobi, feito durante a D23 de 2019, fiquei um pouco surpreso com a decisão de "meterem o bedelho" no cânone de Star Wars. Nós já sabíamos o que rola entre os filmes III e IV, através da animação Star Wars: The Clone Wars, e eu realmente não achava necessário inserir nada além daquilo que já tinha sido mostrado na animação. Especialmente adições à história do velho Ben.

Porém, acabei entrando no clima, e no hype, e passei a ser um entusiasta da ideia. Principalmente após os anúncios de que teríamos, além de Ewan McGregor, confirmado na convenção que apresentou a série, Hayden Christensen, como Darth Vader.

E a expectativa que criei foi totalmente satisfeita, pois Obi-Wan Kenobi, apesar de alguns problemas que irei apontar abaixo, é uma minissérie bacana e que desenvolve um pouco mais o personagem título, sem criar problemas de inconsistência no cânone. A minissérie chega até a remendá-la de certa maneira.

Um dos grandes trunfos de Obi-Wan Kenobi é o fato de que é uma minissérie infantil. E sim, Star Wars, apesar da trilogia prequel (que é mais adulta do ponto de vista político) é uma franquia infantil. Portanto, não podemos assistir Star Wars com um olhar adulto, buscando narrativas inteligentes e profundas. Star Wars não é sci-fi. É uma aventura espacial. Não dá pra esperar nada muito complexo, porque o público alvo ainda é as crianças. 


Você mesmo, que está lendo esta matéria, deve ter se envolvido com Star Wars quando ainda era criança, seja nos anos 70, 80 ou 2000. E você, caso seja um fã, ainda está nessa porque o filme original, Guerra nas Estrelas, de 78, foi escrito sem subestimar a inteligência das crianças, trazendo personagens interessantes, inteligentes e envolvidos em uma trama de fácil assimilação para os baixinhos. Este filme original é a pedra fundamental da franquia e toda produção que seguir a cartilha do filme original será bem sucedida, não importa o que seu influenciador digital preferido diga sobre ela.

Cito isso porque a franquia vem colecionando detratores na internet. Gente que não se esforça para interpretar ou entender nada que desvie de suas expectativas. Alguns sequer justificam o "ódio" que promovem, cuspindo bobagens à torto e à direita, seja em transmissões ao vivo ou vídeos no Youtube. Ninguém é obrigado a gostar de nada, mas precisa justificar suas insatisfações, já que se meteu a dar opinião online.

Obi-Wan Kenobi segue a cartilha estabelecida nos anos 70 pelo criador da série, George Lucas, e é um entretenimento divertido e que não subestima a inteligência das crianças. Aliás, Star Wars é mais necessário para elas do que para os adultos, uma vez que elas estão, cada vez mais, sendo seduzidas por bobagens como youtubers, vídeos de Tik-Tok e músicas de duplo-sentido.


O roteiro de Obi-Wan Kenobi é básico e não traz muitas novidades à franquia. O maior serviço do roteiro é apresentar para o público das séries e filmes, elementos que só foram mostrados nas animações, livros e quadrinhos de Star Wars, assim como no game Star Wars: Jedi Fallen Order, de 2019.

Baseado nos personagens criados por George Lucas, o roteiro foi baseado na história escrita por Joby Harold que teve a colaboração de Hossein Amini, Stuart Beattie, Hannah Friedman e Andrew Stanton. A atração é uma grande história dividida em seis partes, o que dificulta a tarefa de classificá-los individualmente, e deste modo já era esperado que tivéssemos episódios ruins e razoáveis, como as partes III e IV, que são mais arrastados e desinteressantes, servindo apenas para estabelecer os acontecimentos que preparariam o "terceiro ato" da história. A introdução, episódios I e II, e a conclusão, episódios V e VI, são impecáveis. 

No início temos um reencontro com Obi-Wan Kenobi em Tatooine e vemos que a vida dele tem sido dura e enfadonha. Com a tarefa de cuidar da segurança de Luke Skywalker, Ben (apelido que Obi-Wan adota para despistar curiosos e o império galáctico) vive uma rotina ordinária e nada heroica. O peso de sua tarefa e sua solidão são belamente mostrados no primeiro episódio. Em seu exílio Ben é forçado a encarar as consequências de sua passividade, como o infortúnio de antigos aliados e a renúncia em ajudar os indefesos que é uma das tarefas dos Jedi. Porém, tudo muda quando ele decide agir, após um chamado urgente à aventura. No segundo episódio, temos enfim, o herói que conhecemos na trilogia prequel e na animação Star Wars: The Clone Wars retornando à ação.

O desfecho da história se dá nas excelentes quinta e sexta parte da história. Ben enfrenta seu maior inimigo e seu passado, em uma batalha emocionante. Tudo termina com um encontro e um reencontro. Não poderia ser melhor.


Ewan McGregor
retorna ao papel como Obi-Wan Kenobi e, novamente, faz um trabalho muito competente e sua entrega é comovente. Ele realmente convence como um versão mais nova do ator original, Sir Alec Guinness. Mais ainda nesta minissérie do que na trilogia prequel. É impossível não simpatizar e se envolver com a personagem. McGregor tem aquele ar professoral de um grande mestre, vivido, que se exige de uma figura como Obi-Wan Kenobi.

Darth Vader, que é interpretado por Hayden Christensen, com voz de James Earl Jones, sobra um pouco e poderia ter tido menos tempo de tela. O vilão poderia ter sido poupado assim de cenas constrangedoras como a que vimos na parte IV, quando ele interroga a Terceira Irmã, Reva. De todo modo, Christensen e Jones foram bem aproveitados nos momentos finais da minissérie, em uma das cenas mais impressionantes de Star Wars em todos os tempos.

A própria Reva, interpretada pela atriz Moses Ingram, é uma personagem interessante. Complexa, trata-se de uma mulher com uma história triste e que está em busca de vingança. Infelizmente tudo que se refere à personagem foi muito previsível e o final de sua jornada é um tanto quanto confuso. Mesmo assim, fiquei interessado na personagem, que é original da minissérie, e gostaria de vê-la em outras produções da Lucasfilm. Ingram é uma boa atriz e poderia ter rendido mais, caso o roteiro não tivesse pisado tanto na bola com sua personagem.

Joel Edgerton e Bonnie Piesse retornam como Owen e Beru Lars. O aprofundamento de seus personagens, que já tinha acontecido nos quadrinhos, é trazido para as telinhas e justifica a própria minissérie em si. Foi pra isso, pra criar ligações maiores entre o público e as personagens que essa minissérie existe. Impecáveis.

O Grande Inquisidor, personagem das animações (não posso dizer qual para não dar spoilers), é defendido em live-action pelo ator Rupert Friend. Ele é medonho na medida certa. Sua cena de introdução é uma das melhores da franquia. Que texto e que interpretação. Friend arrasa. 

Já o astro de Velozes e Furiosos, Sung Kang, vive o Quinto Irmão, personagem importante do núcleo dos inquisidores e não passa de um coadjuvante de luxo. Uma pena, pois o ator ficou muito animado ao ser escalado para a produção.

Vivien Lyra Blair é uma atriz mirim experiente demais para dar os furos que vi ela cometer durante as filmagens. Foram muitos momentos de distração antes de dar suas falas, assim como senti que ela não estava tão focada em algumas cenas. Se estas eram suas melhores tomadas, imagino como seriam as outras. É bonita, vive uma personagem importante e poderia ter sido melhor dirigida. Gostei de seu trabalho, mas com essas ressalvas. Aliás, que dupla ela e sua droid L0la.


A música é composta por Natalie Holt, inspirada na trilha sonora original dos filmes, criada por John Williams. Holt repetiu o tema de Obi-Wan Kenobi à exaustão, o que deixou a trilha enjoativa.

A belíssima fotografia da minissérie é do sul-coreano Chung-hoon Chung, conhecido por filmes como A Criada e Old Boy, do diretor Park Chan-wook. ele também participou de Noite Passada em Soho, de Edgar Wright.

A direção da série foi feita por Deborah Chow, que já tinha dirigido os episódios 3 e 7 de The Mandalorian. Tendo iniciado a carreira em 2013, após alguns curtas na década anterior, Chow trabalhou em diversas séries geeks como Mr. Robot, Jessica Jones, The Vampire Diaries, Punho de Ferro, Fear The Walking Dead, Perdidos no Espaço, Better Call Saul, O Homem do Castelo Alto e American Gods. Com um currículo desses, esperava-se que o trabalho fosse à altura de uma franquia como Star Wars.

Porém, a minissérie tem muitos (eu disse muitos) problemas de direção, mais notadamente nas cenas de ação e perseguição. Houveram ainda cenas cuja decisão criativa e execução são risíveis, como o encontro entre Reva e a personagem de Vivien Lyra Blair, que é inconsistente demais para se levada à sério, e a fuga de Obi-Wan na companhia da personagem de Blair (não quero dizer quem é para evitar spoilers), em determinado momento do quarto episódio. É uma cena digna de uma comédia pastelão e indigna de Guerra nas Estrelas. Star Wars tem momentos cômicos, muitos, alguns até ridículos, mas não no nível desta cena inconveniente. Chega a ser grotesca.

Obi-Wan Kenobi é infantil na medida certa para agradar minha criança interior. Não é a obra-prima que muitos esperava, mas é divertida e conveniente para aproximar o público casual de elementos que apenas os fãs mais versados no universo galáctico criado por George Lucas tiveram acesso.



Marlo George assistiu, escreveu e tem um droid quebrado

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