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CRÍTICA [CINEMA] | "Shazam! Fúria dos Deuses", por Kal J. Moon

Dirigido por David F. Sandberg, estrelado por Zachary Levi, Asher Angel, Jack Dylan Grazer, Adam Brody, Djimon Hounsou, Rachel Zegler, Lucy Liu, Helen Mirren e grande elenco (mesmo!), "Shazam! Fúria dos Deuses" é... bem... é o quê mesmo, hein...?


Bebê conforto

O primeiro filme "Shazam" (2019) é uma ótima sessão da tarde, com muita aventura, humor equilibrado, algumas doses de drama e pitadas de terror, resultando numa receita de sucesso e, talvez, o filme mais "redondo" do chamado Universo Cinematográfico DC até então. Infelizmente, apesar do baixo custo de produção, isso não se reverteu em valor expressivo de bilheteria - ainda que também não tenha dado prejuízo, que fique bem claro.

E quando foi confirmado que uma continuação estava a caminho, no meio do processo veio a fusão "Warner-Discovery" e a já conhecida "Crise na DC-Warner", onde diversos filmes e séries foram cancelados, astros e diretora sendo demitidos, além de um futuro impreciso sobre as produções cinematográficas baseadas nos cultuados personagens da "Distinta Concorrência". Mesmo assim, diante de tanta polêmica e um monte de refilmagens, "Shazam! Fúria dos Deuses" chega às telonas. Mas... precisava?


Na trama, as filhas de Atlas vêm atrás do herói Shazam e de sua família para recuperar os poderes que lhe pertenciam - e vão destruir tudo ao redor para alcançar seus objetivos.

Se a audiência já viu um episódio do seriado "Power Rangers", já viu esse filme - que mais parece uma versão daqueles guerreiros coloridos com um pouco mais verba para criar efeitos especiais bem mais convincentes (aliás, os efeitos visuais destacam-se aqui, mérito de Anton Agerbo e sua equipe). Existe uma ameaça, que de apenas anunciada transforma-se descomunalmente, fazendo com que o grupo esqueça suas diferenças e combata o mal. Basicamente a trama que todo filme de super seres conta, porém sem o diferencial (e o charme) que o primeiro filme "Shazam" possuía.


"Shazam! Fúria dos Deuses", para o bem e para o mal, é aquele filme confortável, que daqui a alguns anos, passará numa sessão dominical em TV aberta, que será assistido por adultos e crianças enquanto comem aquele frango assado esperto e enchem a boca de farofa, conversando, rindo alto, mas sem realmente prestar a devida atenção ao que está acontecendo. O roteiro da dupla Henry Gayden (do primeiro "Shazam") & Chris Morgan (de diversos capítulos da saga "Velozes e Furiosos") é essa mistura de um pouquinho de drama, um monte de piada que não funciona (algumas poucas vão arrancar gargalhadas dignas de sua atenção) e destruição em massa que, por pura conveniência da trama, não tem a devida importância - o filme tem muitas mortes de transeuntes e esse detalhe nem mesmo afeta um dos protagonistas, ainda que um deles morra em sua frente, só para ter uma ideia...

Nenhum personagem coadjuvante tem sua merecida cena - não podemos nos esquecer que, ao todo, são DEZOITO personagens a serem desenvolvidos, explicados e embasados. Quem tem mais destaque, por conta de como a trama é conduzida, é Jack Dylan Grazer, que está bem no papel, embora, por diversas vezes, "esqueça" que seu personagem é deficiente físico e não consegue ficar em pé sem muletas. Sua contraparte heroica é vivida por Adam Brody - o eterno Seth Cohen do seriado "The O.C. - Um Estranho no Paraíso" -, que mal aparece e demonstra um cansaço, parecendo que está atuando no piloto automático (talvez por conta das regravações e mudanças no roteiro?), meio de má vontade. (Talvez quem tenha algum desenvolvimento aceitável de personagem seja Grace Caroline Currey, que interpreta Mary Marvel, que deixou de ir à faculdade para virar super-heroína e passa a estudar por conta própria para compensar o tempo perdido - ainda que se divirta um pouquinho de vez em quando)


O tal trio de deusas vivido por Helen Mirren, Lucy Liu e Rachel Zegler é a perfeita definição de vilãs de seriado: começam meio malvadonas mas algumas vão amolecendo e simpatizando com humanos. Todas as atrizes fazem apenas o mínimo para que tudo não saia um pastiche completo. Nem mesmo a dupla Zachari Levi Asher Angel está bem, até mesmo a atuação de suas personas está bem diferente de suas contrapartes, com Shazam parecendo mais infantilizado que o jovem adulto Billy Batson. E Djimon Hounsou - que interpreta o Mago Shazam - até tinha uma possibilidade brilhante de trama para ganhar algum protagonismo por alguns momentos mas é relegado a um velho reclamão. Pena...

(ALERTA DE SPOILER: os próximos parágrafos estão repletos de spoilers e, caso não deseje estragar sua experiência, pule para os parágrafos finais dessa crítica - ou assista antes o filme em seu cinema favorito. Mas se já tiver assistido o filme ou não se importar com spoilers, basta selecionar o espaço em branco com o mouse para descobrir o que está escrito, por sua conta e risco)


É necessário falar sobre as cenas pós-créditos... Como bem se sabe, James Gunn é o novo CEO da DC Studios e promoveu um monte de mudanças no cronograma de lançamentos futuros dos filmes baseados em personagens da DC Comics. "Shazam! Fúria dos Deuses", pelo visto, faz parte desse plano pois as cenas pós-créditos indicam que Shazam fará parte do super-grupo Sociedade da Justiça - mostrado anteriormente no recente "Adão Negro" -, com direito à aparição de Jennifer HollandSteve Agee (reprisando seus personagens do filme "O Esquadrão Suicida" e da série "Pacificador") falando em nome de Amanda Waller (Viola Davis) e tudo. Além disso, a segunda cena pós-crédito mostra o vilão Dr. Silvana (Mark Strong) sendo cooptado pela centopeia falante Sr. Cérebro para uma fuga da prisão. Isso tudo complica mais a cabeça de quem está tentando entender essa nova fase do Universo Cinematográfico DC do que instiga que algo bacana está por vir...


São duas cenas que apontam ou para um futuro filme da Sociedade da Justiça ou para um terceiro filme de Shazam que ninguém sabe direito se isso vai acontecer... e ainda tem a participação hiper gratuita de Gal Gadot como Mulher-Maravilha que é, literalmente, um "deus ex-machina" (quem viu, sabe) - justamente quando o terço final encaminhava-se para o mais tradicional "tropo" da "jornada do herói" (e, estranhamente, repetindo batidas do que foi contado na saga do Homem de Aço, confirmando mais uma vez que Shazam sempre foi inspirado no Superman, tanto nos quadrinhos quanto no cinema).

(FIM DO ALERTA DE SPOILER)

"Shazam! Fúria dos Deuses" tem um monte de problemas de estrutura de roteiro que não dá para ignorar, dois easter-eggs sobre a clássica série (o segundo easter-egg vai fazer o decenauta raiz gritar) e cenas de destruição dignas de um filme-catástrofe, repetindo a odiosa máxima "maior e melhor". É uma receita que pode até agradar ao público mais jovem, porém pode não ser bem aceito pela audiência mais madura. Mas o que diabos estávamos esperando de um filme assim, afinal? É para refletir...




Kal J. Moon grita "Shazam!" toda vez que tem uma boa ideia. Não acontece com muita frequência...

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