Dirigido por Joaquim Dos Santos, Kemp Powers e Justin K. Thompson, com vozes originais de Shameik Moore, Hailee Steinfeld, Oscar Isaac, Jake Johnson, Issa Rae, Brian Tyree Henry, Jason Schwartzman, Daniel Kaluuya e Jorma Taccone - com participações especiais de Andy Samberg, Mahershala Ali, Donald Glover, J.K. Simmons, Kathryn Hahn, Elizabeth Perkins, dentre MUITOS outros -, "Homem-Aranha - Através do Aranhaverso" é a segunda investida no multiverso da Sony Pictures de personagens ligados aos novos Amigões da Vizinhança e que tem a hercúlea tarefa de superar o primeiro filme tanto em expectativa quanto em qualidade. Será que consegue? Bem...


Meu filho vai ter nome de sapo
Sabe quando você gosta bastante de uma música mas não sabe direito a letra? Geralmente, a saída é cantarolar algumas partes em "lalalês" ou, de forma desajeitada, improvisar. Muitas continuações da História do Cinema tendem a seguir a tendência de fazer "maior e melhor", porém sem a mesma qualidade de roteiro dos primeiros filmes - principalmente em trilogias, onde o segundo filme nem começa nem termina. Infelizmente, apesar de todas as suas qualidades, "Homem-Aranha - Através do Aranhaverso" também sofre desse mal...

Na trama, Miles Morales - o primeiro e único Homem-Aranha do Brooklyn - enfrenta um vilão mequetrefe chamado "Mancha" (que, claro, quer vingança por algo que Miles nem se lembra que aconteceu), equilibra (mal) seus afazeres de super-herói com a conturbada agenda escolar e familiar, quando recebe a visita de Spider-Gwen, indo Aranhaverso afora, onde descobre que o Homem-Aranha 2099 comanda uma legião de "pessoas-Aranha". Porém, depois de ir, sem permissão, ao universo do Homem-Aranha da Índia e ter feito um salvamento "não-autorizado", acaba sendo caçado por discordar do que pode acontecer em seu próprio mundo e que envolve sua família - mas se impedir que isso aconteça, pode destruir a linha cronológica de outros "universos-Aranha".


Pela sinopse acima, mesmo sem saber de alguns pormenores, já tem como sacar que "Homem-Aranha - Através do Aranhaverso" tem uma trama "muito parecida" com a de "Homem-Aranha - Sem Volta Para Casa". Basta trocar os personagens e, dadas as devidas proporções, temos praticamente a mesma história. E esse é o principal defeito desse segundo filme - que não começa nem termina, fazendo com que a audiência aguarde até 2024 para saber qual o desfecho dessa história.

Embora com visual embasbacante - ainda mais (BEM MAIS) que o primeiro exemplar da franquia - roteiro escrito por Phil Lord, Christopher Miller e Dave Callaham tem alguns bons momentos mas peca principalmente por ser auto-indulgente e irritantemente didático, mesmo quando não há a menor necessidade. Sabe aquele tipo de filme que parece o tempo todo dizer "olha o que eu sei fazer"? Pois é, nesse nível. 


Partes da trama chegam a ser telegrafadas de tão óbvias. E não, não dá pra usar aqui a desculpa de que este é um filme infanto-juvenil. Na verdade, de infantil tem bem pouco - crianças menores podem achar um tanto chato e arrastado, mesmo tendo apenas duas horas e vinte minutos de duração. O ritmo, inclusive, parece televisivo em diversos momentos, com "barrigas" homéricas e situações estranhamente "esticadas" sem qualquer motivo narrativo lógico, só pra mostrar um novo estilo de animação, um ângulo diferenciado, um efeito visual bacana mas sem consequência válida na trama, investindo mais na forma do que no conteúdo - e deixando algumas partes importantes da história para serem resolvidas (ou não) no terceiro filme.

Porém, parte do roteiro acerta justamente em unificar todo o Aranhaverso - incluindo filmes live-action, games e séries animadas, dentre outras coisinhas para fã nenhum do Escalador de Paredes botar defeito. E também acerta em colocar dilemas de pais e filhos com a mesma importância de salvar o multiverso. E, ainda, que afrodescendentes são conhecidos pela resistência, mesmo quando em desvantagem, procurando se ajudar em vez de não buscar uma solução viável...


Outro grande acerto da trama foi transformar um vilão bem qualquer nota em um perigo realmente iminente. Ainda que com motivação delirante e de ações um tanto incompetentes, o "Mancha" vai figurar entre os grandes vilões cinematográficos das franquias do Homem-Aranha em muito breve - filmes live-action inclusos.

(seria bem interessante se, em vez de tentar - em vão - criar suspense nas cenas finais, terminasse o filme antes e estas mesmas cenas, reeditadas, virassem uma cena pós-créditos, gerando o efeito desejado e fazendo com que a audiência aguardasse ansiosa pela terceira parte em algum momento de 2024)

Porém, o que "Homem-Aranha - Através do Aranhaverso" tem de lenga-lenga, é diametralmente oposto quando se trata do visual (sendo fortíssimo candidato ao ao prêmio de "fanservice gigante" de 2023, ao lado do ótimo "Super Mario Bros - O Filme"). Esse filme "é lindo, muito bonito", como diria o filho da saudosa Dona Canô. E quando se fala em beleza, trata-se de estética, linguagem, montagem, edição, angulação de câmera, expressão corporal diferenciada de personagem para personagem, além, claro, do design detalhado de cada "pessoa-Aranha" ou mesmo de cada coadjuvante, por mais ou menos importância que tenha.


O destaque óbvio neste sentido, claro, é Hobie Brown, mais conhecido como Spider-Punk. Toda a anarquia inerente à personalidade deste improvável anti-herói faz total sentido de acordo com a concepção desse personagem - quem conhece a História do movimento punk vai identificar diversas referências, desde feitura de fanzine até "flyer war", palavras de ordem contra "o sistema dominante" (seja qual for) e até desfiles de moda dos anos 1970. Seu visual sem a máscara vai surpreender muita gente, onde é uma mescla de um grande ícone da cultura POP com a atitude rock de um grande músico. Não é à toa que... Deixa pra lá pois dizer mais seria um baita spoiler...

Outro belo destaque é o Homem-Aranha Índia, com sua metrópole conturbada porém organizada a seu modo. Os traços puxam mais aos quadrinhos orientais, com uma pegada narrativa que lembram folhetins daquelas terras multicoloridas. Infelizmente, o Homem-Aranha 2099 é mal explorado na história, tornando-se algo monotônico e quase vilanesco em alguns aspectos. Assim como a Mulher-Aranha (grávida e de motoca) e o Aranha Escarlate, igualmente escanteados pela trama...


E tem também o ótimo começo com cenas de Spider-Gwen, onde conhecemos bastante da personagem - numa longa sequência inicial, onde descobrimos sua origem e o que de fato aconteceu a seu Peter Parker. Embora haja muita fúria nestas sequências, tudo é retratado com uma leveza impressionante, em tons belamente aquarelados, manchados, refletindo sentimentos confusos em profusão.

Já a trilha sonora - tanto original quanto as canções escolhidas para fazer parte do repertório - é bem mais do mesmo, sem nenhum grande destaque. Alguém já disse que as músicas originais da maioria dos filmes de super-heróis são muito parecidas - com pouquíssimas exceções - e aqui essa sentença se revela como verdadeira.


"Homem-Aranha - Através do Aranhaverso" está longe de ser tão revolucionário quanto seu antecessor porém não deixa de ser um filme bacana com bons momentos porém com muita enrolação para chegar aos seus objetivos narrativos. Baixe as expectativas, embasbaque-se com o estonteante visual e tire suas próprias conclusões...

(Atenção: embora não haja cenas pós-créditos, as cenas finais já apontam os problemas que Miles Morales e companhia enfrentarão somente em 2024)



Kal J. Moon não faz tudo o que uma aranha pode fazer mas já sangrou pelo suvacoFoi punk.

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