Dirigido por James Mangold, estrelado por Harrison Ford, Phoebe Waller-Bridge, Mads Mikkelsen e Ethann Isidore - com participação especial de Toby Jones, Boyd Holbrook, John Rhys-Davies e Antonio Banderas -, "Indiana Jones e a Relíquia do Destino" traz o retorno do arqueólogo mais amado da História do Cinema para... para quê, mesmo, hein...?


"Por um tantinho assim"
"Soube que vão fazer outro filme do Indiana Jones... Qual vai ser a aventura dele agora? Vestir uma meia...?!". Este comentário do comediante brasileiro Rafinha Bastos foi proferido durante um seguimento de seu show de stand-up comedy pouco antes de lançarem "Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal" (2008). Comentários etaristas de lado, se já naquela época - quinze anos, para ser mais exato - havia-se a desconfiança de que trazer o papel definitivo de Harrison Ford de volta era algo que as novas gerações não veriam com bons olhos, imagine agora?

"Indiana Jones e a Relíquia do Destino" é mais uma tentativa de revitalizar a cultuada franquia, seguindo o mesmo molde de "O Despertar da Força", o infame sétimo episódio da saga cinematográfica "Star Wars" - outro produto com a mão de George Lucas na criação (ao lado de Philip Kaufman). E, ainda que não sei saiba direito a quem culpar, mas alguém deve ter um ódio imenso do diretor de "THX-1138" para torturá-lo dessa forma, tentando destruir cada personagem seu...


Na trama, em 1969, enquanto o arqueólogo e aventureiro americano vive como professor no cenário da Corrida Espacial e Guerra Fria - e que está prestes a se aposentar -, ele luta para se encaixar num mundo onde parece ser obsoleto. Mas quando um antigo rival retorna em busca de um antigo e poderoso artefato, Henry "Indiana" Jones precisa juntar forças (contra a vontade) com sua afilhada para garantir um poder maior do que imaginado caia em mãos erradas.

Para começar, o roteiro escrito a oito mãos por Jez Butterworth, John-Henry Butterworth, David Koepp e pelo próprio Mangold mostra que esse projeto - anunciado por volta de 2016 - foi mais remexido do que se previa. E para Spielberg (que dirigiu os quatro filmes anteriores) anunciar que não voltaria como diretor, bem, provavelmente o motivo ia totalmente contra o que ele acredita ser uma boa história para se contar - apesar dele ter aprovado aquela ideia maluca de nazistas e aliens do quarto filme, né?

(e que, vale salientar, o quarto filme é cânone, uma vez que o próprio Indy o referencia pelo menos três vezes durante a trama)

Apesar de ter algumas (poucas) boas ideias, tanto a motivação do vilão quanto a busca pelo tal artefato são frívolas e frágeis demais para as audiências atuais (e mesmo para a geração que acompanha o herói desde a tenra infância, eu diria). A trama é tão supérflua e auto-indulgente em diversos momentos, que pode até dar sono a quem não conseguir se conectar aos personagens ou para quem não tiver acompanhado os filmes anteriores - porque, apesar de inconstante, há DIVERSAS referências à mitologia do personagem, com algumas participações especiais (descartáveis, vá lá) e acenos à quantidade de fãs que ainda restou...


E por falar em trama, faltou uma "sintonia fina" para aparar arestas desnecessárias e excesso de conveniências... A reviravolta do terceiro ato, por exemplo, abraça de vez os elementos de ficção científica trazidos desde o quarto filme - sim, o que acontece é mais absurdo e BIZARRO do que Indy e seus amigos enfrentando aliens e nazistas mas, por mais incrível que pareça, a trama indica, desde o início, que algo "extra-normal" está para acontecer... E, quando acontece, a audiência só tem duas escolhas: ou abraça ou rejeita (provavelmente, a grande maioria terá ojeriza). É uma solução beeeeeeem divisiva, com algo que nunca aconteceu na franquia e, por isso mesmo, arriscado por si só...

A verdade é que heróis não deveriam envelhecer. Sir Arthur Conan Doyle perdeu a paciência de ser reconhecido apenas como criador de Sherlock Holmes, escreveu um livro apenas para matar o personagem e, por força do clamor popular, foi obrigado a trazê-lo de volta à vida numa aventura medíocre. Elvis Presley fez grande sucesso mundial, realizou sua grande apresentação para TV - chamado carinhosamente pela legião de fãs de "Comeback '68" - e, depois desse feito extraordinário, teve um final de carreira com shows em Las Vegas (apenas para fãs que envelheceram com ele, não renovando seu repertório às novas gerações da época). E, da mesma forma, é um erro trazer Indiana Jones de volta como um idoso com problemas em se socializar...

(na real, cortando mais ou menos meia hora desse filme, mesmo com todos os problemas, daria um satisfatório conteúdo especial de "reunion" para streaming - porém, igualmente dispensável)

A direção de Mangold busca emular algumas soluções visuais de Spielberg, como a sensação de estar numa montanha-russa de ação e correria mas com alguma calmaria - que demora tempo demais aqui - para que o público possa recuperar o fôlego. O problema é que, apesar de ser um filme de grande orçamento, tecnicamente busca soluções digitais para resolver diversas equações ao longo da produção, deixando-o com jeitão de um produto mais barato do que realmente é... 

(repare na cena em que os personagens estão em cima do trem, onde a lei da gravidade parece inexistir)

Falando sobre a parte técnica, embora as cenas de rejuvenescimento facial de Ford funcionem a contento na MAIORIA das vezes em que recursos de inteligência artificial são utilizados no início do filme, em alguns momentos deixam a desejar... E diversas cenas de ação sofrem do atual mal de produções hollywoodianas: efeitos especiais nada convincentes, com aplicação de cenários digitais em que notam-se facilmente, mesmo sem a necessidade de um expert no assunto...


Quanto ao campo da atuação, o destaque (óbvio) é mesmo de Harrison Ford. Seu personagem virou um idoso rabugento mas que ainda esbanja aquela simpatia que todo mundo quer ver - sem contar que traz um pouco de um bem vindo amargor, que lhe confere algum traço de humanidade e credibilidade. Já a personagem de Phoebe Waller-Bridge é okay e pode até trazer alguma vitalidade ao filme mas sua participação parece um pouco de forçação de barra por ser alguém que é apenas uma espécie de substituição à Marion (ou mesmo Mutt, filho de Indy) - é o mesmo tipo de personagem novato e esperto que profere explicações didáticas para que o público entenda o que está acontecendo em cena (mas isso é culpa do roteiro que entregaram pra "Dona Fleabag" pois a atriz faz o que pode com o que lhe entregaram).

O vilão vivido por Mads Mikkelsen não é somente um extremista mas também um fanático. Seu objetivo é... conquistar o mundo (sério) - e da forma mais inacreditável que se pode imaginar num roteiro produzido no século 21... Mas o ator está bem, entregando frieza e calculismo quando necessário.  Porém, os personagens a seu redor mostram a frágil estrutura onde orbita. Boyd Holbrook, por exemplo, parece ter apenas a função de atirar a esmo, quando lhe dá vontade, porque sim e pronto, "sou malvadão, bebê"... Outra que tinha até potencial era Shaunette Renée Wilson (que foi uma das Dora Milaje em "Pantera Negra"), por conta do exótico figurino e da qualidade de atuação apesar dos raros momentos em que aparece - pena que a personagem é tão dispensável e esquecível quanto à de Hoydbrook.

Antonio Banderas
também interpreta alguém nada memorável nesta franquia. E John Rhys-Davies está aqui somente para garantir o aluguel desse ano - é praticamente um easter-egg ambulante para quem curte a saga. Ambos também não tem a menor importância na trama, num completo desperdício de talento... E, embora o personagem de Ethann Isidore (egresso da TV) até tenha lá sua importância na trama - como uma espécie de "Short Round 2.0" -, o jovem ator até se esforça mas faltou "um tantinho assim" para que entregasse algo digno em matéria de atuação aqui.


Mas quem realmente rouba a cena nos poucos momentos que aparece é Toby Jones. A obsessão de sua personagem - e consequente decantar de atitude - trazem a parte dramática que poderia conferir algum resquício de sustância que este roteiro tanto precisava...

O figurino de Joanna Johnston (de "Indiana Jones e a Última Cruzada") é correto - apesar do destaque à já mencionada personagem de Shaunette Renée Wilson - e funciona a contento. A direção de Phedon Papamichael (que já trabalhou com Mangold em "Johnny & June" e "Ford vs Ferrari") é competente mas, infelizmente, nada marcante - além de não funcionar corretamente nas cenas iniciais onde não se vê muito do que está em cena por conta dos recortes digitais realizados. A trilha sonora original do veterano maestro John Williams está lá mas, desta vez, é como uma perola de menor valor: burocrática e nada inventiva, apenas enfeita cenas pra lá de desprezíveis.


O quinto filme da franquia com Indy e companhia peca em acenar para o público antigo mas sem o mesmo charme de outrora, com ideias que comprometem seriamente a suspensão de descrença de qualquer indivíduo com um mínimo de boa vontade, além de desafiar a inteligência do público em diversos momentos de cunho duvidoso.

(agora podemos decretar que a saga "Indiana Jones" tem uma excelente trilogia e duas fanfics - além de uma série de TV bem questionável, feita somente para que o público tivesse uma aula de História Geral com um personagem famoso)

"Indiana Jones e a Relíquia do Destino" é um filme que até tem coração, mas este bate fraco, quase parando e, de vez em quando, retumba num rompante que pode ser o último fôlego de uma amada franquia que as novas audiências não se interessam e, quem realmente estiver interessado, vai ter de relevar muita coisa para embarcar nesta aventura. Faltou um golinho, "um tantinho assim", bem pouco, para que seja considerado um filme ruim ou péssimo. E ser "um pouco melhor" que o filme anterior, nesse caso, nem é elogio - é obrigação. Pena...



Kal J. Moon acorda com dores nas costas, reclama de tudo e de todos, além de... hum... Ele esqueceu essa parte.

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