Seriado em carne e osso, baseado nos quadrinhos japoneses, não passa de uma peça de teatro ruim para jovens adultos

A Netflix vem se notabilizando como uma produtora de atrações excelentes como Dark, Stranger ThingsPorém, o estúdio, que faz parte de um dos serviços de streaming mais poderosos do mundo, anda pisando na bola, especialmente após a pandemia, apresentando produções ruins, como Metal Lords e Sandman.


Porém, a nova atração da Netflix consegue a proeza de ser a pior produção original da empresa, desrespeitando a obra original, o que pode desagradar os fãs mais antigos, e não trazendo ingredientes suficientes para angariar novos fãs para a famosa franquia de Eiichirô Oda.

Talvez, One Piece- Live Action, seja a prova definitiva, após dezenas de tentativas frustradas, de que não é possível adaptar mangás para "a vida real". Afinal, pode ser que o universo espalhafatoso e sem limites dos quadrinhos japoneses não seja crível para ser encarado por figuras do mundo real.

Não funciona.

O roteiro, desenvolvido por Steven Maeda e escrito por uma equipe de roteiristas, é muito ruim. Os diálogos são bobos, o texto é repleto de frases de efeitos (algumas delas se repetem à exaustão) e cheios de enrolações. Chega a ser insuportável ouvir o personagem principal dizer, o tempo todo, que será "o Rei dos Piratas", assim como o era ficar assistindo os episódios, que já são longos, com cerca de 1 hora de duração cada, apresentando situações que vão se arrastando em tela, numa embromação sem fim, como se os escritores não soubessem como resolver os problemas em que as protagonistas se meteram de forma resumida.

Um outro problema do roteiro é que todas as personagens, sem exceções, são mal desenvolvidas e rasas como mascotes de cereal matinal. Todas são muito bobocas e agem de modo inverossímil. Falsas, não tornaram possível que eu me identificasse com nenhuma delas.

Não fossem as cenas de flashback, focadas na infância de Monkey D. Luffy, as únicas que foram bem escritas em toda a temporada, One Piece seria uma piada de mau gosto, chata e esquecível.

Deste modo, a adaptação da história ficou comprometida e o resultado é ruim.

A série traz dos mangás cenas de violência exacerbada, o que, na minha visão é um problema, pois tal decisão, assim como a de mostrar personagens utilizando linguagem imprópria e consumo de drogas lícitas, classificaram a série como não indicada para menores de 14 anos. One Piece em live-action poderia ser a porta de entrada para crianças ao mundo dos piratas abobalhados de Oda.


Quanto à adaptação visual, a equipe de desenho de produção conseguiu transpor para a tela o tudo aquilo que foi estabelecido por Oda nos quadrinhos. Os figurinos, cenários e adereços de cena estão muito parecidos com o que vimos nos desenhos originais. Tão parecidos que tudo soa teatral, como se o elenco e os cenários tivessem sido reaproveitados de alguma peça de teatro de alto orçamento.

Isto, quiçá, nem seja sem propósito, afinal, as interpretações do elenco também são bastante teatrais. Os diálogos são dados em voz alta, com muitas caras e bocas e gestos exagerados. No final, o que temos é algo que parece uma espécie de peça infantil que fugiu ao controle e acabou indo parar na TV.

O elenco não é entrosado e parte disso é culpa da direção. Não há dinâmica nos relacionamentos das personagens, porque o roteiro não abre espaço pra isso. Ao final, parece-me que os atores fizeram o que podiam com aquilo que tinham. Assim como fiz na minha crítica de Os Cavaleiros do Zodíaco: Saint Seiya - O Começo, outra adaptação de anime para live-action, não irei julgar o valor do trabalho apresentados pelos atores de forma individual. Não seria justo em meio ao caos que foi a direção desta série e da adaptação do texto da obra original.

A trilha sonora e a edição de som são competentes. Os efeitos visuais também ficaram bons, mesmo em momentos em que tudo poderia dar errado, como quando o protagonista usa seus  famosos socos elásticos.

Esta primeira temporada de One Piece em live-action (espero que seja a última) é só mais uma prova de que é quase impossível adaptar as páginas traçadas e reticuladas dos mangás para outras mídias, que não seja a animação. O resultado, quase sempre, fica aquém do que é esperado pelos fãs. O Combate: Lágrimas do Guerreiro, filme de 1995, baseado no mangá Crying Freeman, ou o longa-metragem de 2019, Alita: Anjo de Combate, adaptação de Alita Battle Angel, talvez sejam exceções. Mas, fora estes, não consigo me lembrar de nenhuma adaptação de anime que seja bem sucedida. Seja para TV ou para o cinema.


Marlo George assistiu, escreveu e é o Rei dos Piratas

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