Dirigido por Jessica Yu e estrelado por Awkwafina, Sandra Oh, Will Ferrell, Holland Taylor, Jason Schwartzman, Tony Hale, dentre outros, o filme "Quiz Lady" reforça (e destrói) estereótipos mas com mensagem positiva para equilibrar. Funciona? Bem...


"Sis-mance"
Depois do grande sucesso de filmes como "Podres de Ricos" (2018) e "A Despedida" (2019) - curiosamente, ambos com participação de Awkwafina no elenco -, alguns novos exemplares de obras estreladas por sino-americanos têm pululado tanto os cinemas quanto as plataformas de streaming. E "Quiz Lady" até poderia seguir essa fórmula de representatividade asiática mas preferiu seguir pelo caminho de quebrar algumas poucas regras das comédias de costumes para abraçar a manjada cartilha do "bromance" mas de um ponto de vista feminino - e de irmãs de fato. O que é bom e ruim ao mesmo tempo.

Na trama, Jenny e Anne são irmãs que se unem contra a vontade para arrecadar dinheiro rapidamente por causa das dívidas de jogo deixadas por sua mãe (que fugiu do asilo para Macau com o namorado). Até que têm a ideia de participar de um programa de TV de perguntas e respostas com prêmios em dinheiro. E é aí que os problemas realmente começam...


O roteiro de Jen D'Angelo (de séries como "Workaholics" e filmes como o recente "Totally Killer - Dezesseis Facadas") prima pela mensagem positivista acima dos gracejos, num desequilíbrio entre drama genuíno e piadas de pum, além de situações constrangedoras que beiram o mau gosto em diversas situações. Porém, a tal mensagem positivista pode agradar a quem quer assistir apenas um filme para distrair a mente dos problemas do dia a dia - aquela falácia de "quem se esforça, sempre alcança" ou "enfrente seus medos e um mundo novo se abrirá diante de você" repetida à exaustão atualmente.

Como a trama se espelha em algumas comédias estilo "road movies" do passado - tem uma cena bem específica que tenta repetir visualmente algo visto no clássico "Antes Só Do Que Mal Acompanhado" (1987) -, a dinâmica entre a dupla formada por Sandra Oh e Awkwafina é o destaque da obra. Infelizmente, algumas das melhores cenas e piadas estão no trailer previamente divulgado (que conta, praticamente, o filme inteiro)...


Um dos poucos acertos do roteiro - e da direção de Jessica Yu - foi escalar personagens bem diferentes do que Oh e Awkwafina estão acostumadas a interpretar em filmes e séries pois, quando assistimos, parece que os papeis estão trocados, uma vez que Oh sempre atua como a rabugenta resmungona (que amamos odiar e concordar com suas falas pessimistas) e Awkwafina é aquela costumeira alegre-feliz-tresloucada-atrapalhada. Ao inverter esse estereótipo - e apostar mais numa "dramédia" do que comédia rasgada -, consegue extrair boas atuações da dupla, fazendo com que a audiência estranhe a princípio mas acabe se afeiçoando às personagens, esquecendo, por um momento, de quem está interpretando...

As atrizes dão conta do recado e são os destaques positivos do longa. Oh talvez tem a maior responsabilidade pois, sendo uma atriz que transita bem entre comédia (bem física) e drama (mais contemplativo), consegue trazer maior dimensão e profundidade à sua personagem - que ficaria hiper caricata em mãos erradas. Awkwafina também entrega o necessário e até profere um "todo estereótipo é errado" - como se fizesse um "mea culpa" a respeito de toda sua carreira até então, justificando sua escolha interpretativa - mas, surpreendentemente, prefere passar parte do tempo agindo como "escada" para que Oh também se destaque, gerando um bem vindo equilíbrio de protagonismo.


Outros membros do elenco estão mais para participação especial do que realmente como parte importante daquela jornada. Will Ferrell está impressionantemente contido como o apresentador de um game show de perguntas e respostas - mas bem crível - e é responsável por uma importante fala que revela mais do que o que se imagina sobre sua personagem.

A veterana Holland Taylor traz vida à uma vizinha rabugenta bem idosa que tem mais em comum com a personagem de Awkwafina mas traz um amargor devido às decepções que só são sanadas por seu amor ao ator Paul Reubens (1952-2023) - que até faz uma participação especial no filme como ele mesmo (sendo um de seus últimos trabalhos) mas ela confunde achando que é Alan Cumming...



Já a personagem de Jason Schwartzman tem uma ambiguidade bem literal e óbvia: parece uma pessoa boazinha mas é, de fato, uma "cobra criada", tornando-se um nêmesis para nossas heroínas, porém sem muita profundidade, sendo um mero instrumento de exposição barata do roteiro. Infelizmente, as aparições de Tony Hale - como um atendente de pousada que age como se fosse uma versão bem equivocada de Benjamim Franklin - é só uma piada que estica por tempo demais...

A direção de fotografia comandada por Adrian Peng Correia (egresso da TV, de séries como "Glow" e a recente "The Flight Attendant") até tenta equilibrar bem cenas mais dramáticas com câmera de movimentos mais suaves com filmagem tremida própria de documentário para situações mais enérgicas, com os cortes rápidos bem próprios dos programas televisivos nas partes do game show mas sem nada muito relevante ou digno de nota - exceto, talvez, na cena onde uma personagem faz uso de substâncias ilegais e lisérgicas (totalmente copiado de uma sequência de "Anjos da Lei 2").


"Quiz Lady" está longe de ser uma comédia rasgada ou um drama profundo, ficando no meio do caminho, porém com uma mensagem realmente importante - seja lá qual seja. Mas funciona como entretenimento descompromissado. Porém, infelizmente, não mais do que isso...




Kal J. Moon é antissocial, sempre quis participar de jogos de perguntas e respostas, também confunde Alan Cummings com o saudoso Paul Reubens e gostaria de ver Awkwafina envolvida numa versão live-action da série animada "The Amazing Chan And The Chan Clan"...


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