Tive um imprevisto e esta crítica atrasou. Isso foi bom. O texto que estava redigindo estava muito parecido com o que escrevi em minha crítica do primeiro filme, em outubro de 2021. Até mesmo o preâmbulo era o mesmo. Na ocasião, usei uma música de George Michael e desta vez, quase cometi o erro de usar uma referência parecida, desta vez da canção "Ain´t That a Bitch", da banda americana Aerosmith.

Que bom que as intempéries da vida, com suas idas e vindas, me deram tempo de revisitar minha crítica anterior e notar a gafe. Apaguei todo o trabalho que já tinha executado e recomecei do zero.

Mesmo assim, só pra matar sua possível curiosidade, o trecho da letra que usaria era a segunda frase do refrão "... love is like the right dress on the wrong girl" — que em tradução literal seria "... o amor é como um vestido certo na garota errada". Leia a crítica anterior neste link, se tiver interesse, e veja como este seria um erro terrível. Agradeço pelos problemas que a vida me traz.


Começo a crítica falando, também, de um problema. Afinal, Duna: Parte Dois é um filme quase perfeito, não fosse por uma falha gravíssima: o roteiro. Se não houvesse script e só tivéssemos os belos cenários artificiais efeitos visuais o filme seria impecável. 

Mas Denis Villeneuve cometeu o crime hediondo de tentar contar uma história e isso pôs tudo a perder. Eu nunca vi nada tão belo e, ao mesmo tempo, tão sem graça. Viram como a referência que desisti de usar para não soar repetitivo faz sentido?

O roteiro é muito ruim pelo fato de ser uma trama batida sobre um protagonista ungido. Uma espécie de escolhido para liderar um povo fanático religioso. São quase três horas apenas para tentar desenvolver, sem êxito, essa personagem genérica que é o famigerado Paul Atreides. A tentativa de desenvolvimento se dá entre cenas longas, enfadonhas, arrastadas e desnecessárias, além de closes demorados e poucos diálogos. Duna: Parte Dois é um filme insuportável de se assistir.

Há tentativas de entreter e prender a atenção do público com cenas de batalhas, muita ação e aventura, mas isso acontece a cada meia hora de exibição e enquanto a porrada não canta, é muito difícil se manter acordado.

O herói da história, o escolhido Paul, novamente interpretado por Timothée Chalamet, é um sujeito emasculado, frágil e que, quando consegue a proeza de começar a ser levado a sério, após a insistência de sua mãe, Jessica Atreides (Rebecca Ferguson), e de um fundamentalista bitolado, Stilgar (Javier Bardem), torna-se um babaca que fica dando chiliques pelas areias do deserto de Arrakis.

Assim como o herói, os vilões também são inconsistentes e subdesenvolvidos. O Barão Harkonnen (Stellan Skarsgård) e Beast Rabban (Dave Bautista), personagens apresentados na aventura anterior, são colocados de lado pelo roteiro para ser aberta passagem para a ascensão de um novo antagonista: Feyd-Rautha, defendido no longa por Austin Butler.

Feyd-Rautha surge no meio do filme e toma o antagonismo pra si após uma cena pífia de peleja de arena. O figurino e maquiagem de todos os envolvidos é ridículo, o que deixa tudo ainda mais vexatório.


Enquanto tudo isso se desenrola, acompanhamos cenários belíssimos, computação gráfica impressionante e o desrespeitoso desperdício do talento de gente como, o já citado 
Skarsgård, assim como de Josh Brolin, Florence Pugh, Christopher Walken, Léa Seydoux e da maravilhosa Charlotte Rampling.

Zendaya, uma atriz com poucos recursos e muitas oportunidades, mantém a performance péssima e não demonstra ter evoluído nada. O mesmo pode ser dito de Chalamet.

A trilha sonora é assinada por Hans Zimmer que em outras ocasiões já se mostrou brilhante. Em Duna: Parte Dois o compositor apresenta o pior trabalho de sua carreira. Nenhum dos temas é interessante e, em diversos momentos, a trilha é tão modorrenta quanto a edição de Joe Walker.

Já a direção de fotografia é executada por Greig Frasier. Não fosse a decisão de Villeneuve de incluir tantos takes em close-up (a primeira cena com Christopher Walken é bem constrangedora), não haveria o que criticar.

Em suma, Denis Villeneuve entregou um filme mais do mesmo com uma conclusão que, por um tostão, não foi tão equivocada que a do primeiro filme da franquia. O longa não passa a sensação de que houve direção do elenco, cuidado com o ritmo da trama e intenção de contar uma nova história. O roteiro, escrito por Villeneuve e Jon Spaiths, parece ter sido gerado por inteligência artificial por sua mediocridade. 


Não li a obra que originou a série cinematográfica, mas acredito que uma obra seminal da ficção científica, tão reverenciada como o livro de Frank Herbert merece um tratamento melhor que o dispensado pelo diretor nesta adaptação. 

Ficção científica não se resume a geringonças tecnológicas, um Barão flutuante no melhor estilo "Padre do Balão" e pistolas laser. Nada do gênero literário, em termos narrativos, foi pego emprestado por Villeneuve para justificar o título de "Melhor Filme de Sci-Fi dos últimos anos", dado por alguns emocionados na internet.




Marlo George assistiu, escreveu e não passa pano pra porcaria

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