Escrito e dirigido por Sean Baker, estrelado por Mikey Madison, Mark Eydelshteyn, Yura Borisov, Karren Karagulian, Vache Tovmasyan e participação especial de Darya EkamasovaAleksey Serebryakov, o filme "Anora" recebeu a Palma de Ouro de Melhor Direção no Festival Internacional de Cinema de Cannes em 2024 e é uma grande aposta a temporada de premiações em 2025. Mas o que isso realmente quer dizer?


Caos organizado
Numa das cenas mais interessantes do filme "Alguém Lá em Cima Gosta de Mim" (dirigido por Carl Reiner em 1977), Deus (interpretado pelo saudoso George Burns) diz que perdoou Adão e Eva porque, quando os criou, eram adolescentes e não tinham responsabilidade. Isso torna as consequências do "castigo bíblico" (expulsá-los de "casa" à própria sorte) ainda mais "paternal" (e humano) do que imaginar um idoso gigante e barbudo enviando raios no rabo dum casal adulto nu em plena madrugada.

Atualmente, discute-se muito sobre as facilidades que os jovens adultos "millenials" ou "zenials" (ou qualquer outra nomenclatura "prafrentex") têm no mundo moderno, com acesso à informação literalmente na palma da mão, principalmente daquela seleta parcela privilegiada que ainda não saíram da casa dos pais e não precisam fazer muito esforço para conseguir o pão cotidiano. E é nesse último quesito que se encaixa esse curioso filme.

Na trama, Ani (ou 'Anora') é uma garota de programa que conhece um cabaço filhinho de um oligarca russo e, depois de uma semana de noitadas, acaba sendo pedida em casamento e contrai matrimônio em Las Vegas (onde mais?). Só que, o que era para ser um sonho de Cinderela da vida real, se torna um pesadelo assim que os pais do pobre inocente descobrem...


Pela sinopse acima, uma descrição razoável de "Anora" é uma mistura do romance de "Uma Linda Mulher" (dirigido por Garry Marshall em 1990) com a quantidade de problemas para resolver de "Depois de Horas" (dirigido por Martin Scorsese em 1985) e uma pitada do ritmo claudicante de "Zola" (dirigido por Janicza Bravo em 2020). Mas não é necessariamente uma cópia - longe disso.

O roteiro - também escrito pelo  diretor Sean Baker (de "Projeto Flórida", cultuado por ter sido filmado com um iPhone) - tem algumas "barrigas" e "estica" algumas situações para além do minimamente tolerável. Porém, o que parece, a princípio, um problema, ainda mantém o interesse da audiência em acompanhar o desenlace dessa desventura em que a protagonista se meteu - primeiro, conscientemente e, depois, a contragosto.

O que traz à baila a questão da premiação do próprio Baker como Melhor Diretor em Cannes ano passado. Talvez os jurados tenham levado em consideração a quantidade de situações caóticas e "fora de controle" que são apresentadas, como uma verdadeira "comédia de erros" - com bastante humor físico e violência verbal - para que seu nome fosse laureado em comparação aos outros candidatos.


No campo da atuação, o destaque real é mesmo para Mikey Madison (do recente soft-reboot de "Pânico" de 2022), que se desnuda não somente das roupas - talvez seja a atriz que mais ficou nua em cena em 2024! - mas também de qualquer tipo de vaidade, trazendo um nível de "realidade" à todas as suas cenas, sejam como profissional de entretenimento adulto ou como uma "pessoa comum", com bastante separação causal, sem parecer algo como uma "identidade secreta" ou "dupla personalidade". E, curiosamente, ainda carrega numa certa "inocência" - que o roteiro deixa bem implícito - de quem espera conseguir uma situação melhor do que aturar marmanjos que a compara com a própria filha em momentos totalmente inadequados ou coisa pior (do tipo que dá pena por ter se enveredado em tamanha armadilha).

As tais cenas "fora de controle" também são mérito da dupla Yura BorisovVache Tovmasyan, com algum auxílio de Karren Karagulian - o trio interpreta capangas russos bem atrapalhados e que mais parecem saídos de um seriado de TV, tamanha a confusão que causam quando entram em cena. Borisov, inclusive, entrega bastante interpretação ao nível de olhar, dizendo muito sem palavras (principalmente na dúbia cena final). O restante do elenco é bem operante mas Mark Eydelshteyn tem pouco o que fazer com seu exemplar de "mauricinho padrão", além do perfeitamente óbvio - mas se é isso que o roteiro pede, quem pode culpá-lo?


Por se tratar de um filme de orçamento bem mais modesto que a maioria do que é praticado em Hollywood, percebe-se a economia em "cenários reais" como boates, restaurantes, as casas mostradas como residências e bastante externas, sejam nas próprias ruas de Nova York, cassinos e hotéis em Las Vegas ou dentro do carro, trazendo bastante solução visual e valor de produção - e essa "realidade nua e crua" é explorada tanto pela direção de fotografia de Drew Daniels (da recente série "The Idol") quanto pela edição "abrupta" do próprio Sean Baker.

Apesar de existir algum debate sobre limites da classe rica, que, por conta da grande quantidade de dinheiro, pode fazer o que bem entender quando lida com pessoas menos abastadas - além do falso moralismo e do quão longe uma família de posses pode ir para reverter a lei a seu favor -, o filme se perde bastante em algumas situações que poderiam ser enxugadas pelo bem da própria narrativa. Mas não é um exemplar inassistível de entretenimento. Só é necessário bastante paciência até a história "engrenar". Se o filme terá a mesma "sorte" na temporada 2025 de premiação por conta de seu "ineditismo", só o tempo dirá. Vale assistir com baixa expectativa, que serve para tudo na vida...




Kal J. Moon colou apenas uma vez nas provas da escola e apenas admira nu frontal...

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