"O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim" chega ao streaming como uma adição valiosa ao universo de J.R.R. Tolkien, conectando-se de forma coesa às amadas trilogias de Peter Jackson. A animação, com roteiro assinado por Jeffrey Addiss, Will Matthews e a experiente Philippa Boyens, apresenta uma história original e envolvente, centrada em Héra, a corajosa filha do rei Helm Mão-de-Martelo. A trama, que acompanha a luta de Héra contra Wulf, um senhor Terra-pardense sedento por vingança, expande o rico mundo de Tolkien e oferece uma nova perspectiva sobre a Terra-média.
Um dos maiores trunfos da animação é a adição de mais uma personagem feminina heroica na Terra-média. Héra se junta ao panteão de personagens femininas fortes e inspiradoras, como Galadriel e Éowyn, ecoando a visão de Tolkien sobre a importância das mulheres em suas histórias. Muitos leitores ou expectadores dos filmes baseados no legendarium (termo que Tolkien usava para se referir ao seu universo ficcional) podem ter a percepção de que há poucas mulheres "poderosas" ou "empoderadas" na obra do Professor.
E, com devida vênia às opiniões em contrário, não detectei lacração ou pressões indentitárias, que são sempre desnecessárias, na obra.
Ocorre que, isso não passa de um desconhecimento ou leitura desatenta das histórias da Terra-média. Para os interessados em conhecer a riqueza e importância das mulheres de Arda (sinônimo élfico para "Planeta Terra"), recomendo o livro "Senhoras dos Anéis: mulheres na obra de J.R.R. Tolkien", organizado por Rosana Rios. Em seu trabalho, Rios - e suas colaboradoras -, nos mostram que, mulheres como Héra, não são raras no folclore tolkieniano, que é repleto de mulheres "fortes, decididas e [que] praticam atos fundamentais no desenrolar das aventuras - para o Bem ou para o Mal", mesmo que suas ações não sejam, necessariamente notáveis. Uma pessoa não precisa trajar armadura e empunhar uma espada para ser heroica e (ou) decisiva na solução - ou, dependendo da intenção, criação -, de problemas das mais diversas naturezas. Basta a coragem para agir, ou propositadamente se omitir, e cumprir seus propósitos. Este tipo de evento ocorre diversas vezes na obra do Professor.
Assim sendo, Héra traz em sua personalidade aspectos que, caso esta história fosse canônica - e, considerando a obra literária, ela NÃO É -, pode ter servido como inspiração para sua descendente mais famosa no futuro, Éowyn, que é a narradora desta lenda de Rohan.
A narrativa, embora simples em sua essência, captura a essência dos contos de fadas, um gênero que Tolkien tanto apreciava. Aliás, uma vez que não há muita informação sobre o período retratado na animação nos livros, acho acertada a decisão de explorar a história sem envolver personagens importantes ou tratar de eventos relevantes do legendarium, sob pena de criar inconsistências internas na narrativa da franquia cinematográfica, e macular criminosamente o enredo canônico. A história, embora original, se encaixa perfeitamente no cânone da Terra-média, expandindo o universo de forma orgânica e respeitosa.
O roteiro não busca se escorar em raças, terras ou quaisquer outros easter-eggs para contar sua história. A ausência de elfos, anões, hobbits, ents, balrogs ou do Senhor do Escuro (que só é discretamente citado) é benvinda. Há referências? Sim, mas nada que atrapalhe, ou pior, interfira, a narrativa.
Além disso, algo que sempre irritou os fãs de Tolkien na série da Amazon, "O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder", é a falta de respeito com o espírito católico da obra do escritor. Tolkien pensou seu universo de acordo com suas crenças, e a animação faz diversas menções à elementos católicos e cristãos, de modo geral. Um acerto.
Apesar de alguns desafios técnicos na animação, como a mistura de 2D e 3D que resulta em um visual datado, "A Guerra dos Rohirrim" brilha em outros aspectos. A montagem primorosa e a trilha sonora inspirada em Howard Shore elevam a experiência cinematográfica, transportando o público para a Terra-média.
"O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim" é um entretenimento valioso para os fãs de Tolkien, oferecendo uma nova aventura na Terra-média. A animação também serve como uma excelente porta de entrada para aqueles que desejam explorar o mundo mágico de Tolkien pela primeira vez. Com sua história envolvente, personagens cativantes e fidelidade à obra original, "A Guerra dos Rohirrim" é uma adição bem-vinda ao legado de Peter Jackson e sua obra.
Marlo George assistiu, escreveu, e sabe tocar berrante...
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