Uma criação do desconhecido Grainger David, estrelada por Kevin Bacon, Jennifer Nettles, Damon Herriman, Beth Grant, Maxwell Jenkins e Jolene Purdy, a série "Caçador de Demônios" se revela um achado no combalido mercado de streaming, justamente por não se levar tão a sério - e também por não esconder nenhuma de suas influências...
Copia, não faz igual mas diferencie-se
O mercado do audiovisual norte-americano nunca escondeu que recicla ideias de quando em vez, principalmente quando se trata das chamadas séries "procedurais" - aquelas em que os protagonistas precisam resolver um problema por semana.
A fórmula é a mesma há muito tempo: um problema surge, protagonista é informado, precisa resolver com um curto período de tempo, investiga, descobre a solução no último segundo, diz algum gracejo e prepara-se para o próximo problema na semana seguinte (não importa se são médicos, detetives, investigadores ou consultores - deve ter passado um monte de exemplos em sua cabeça nesse exato momento - pois é...). E com "Caçador de Demônios" não é diferente e nem se esforça para ser...
Tiremos o elefante branco da sala: se você curte séries como a obscura "Brimstone", "Arquivo X", "Millenium", "Supernatural" e o gibi "Spawn" (ou mesmo a obscura história em quadrinhos "O Carrasco das Sombras", que fez parte de uma das edições brasileiras da revista "Heavy Metal Brasil"), com certeza vai reconhecer todos os elementos em comum com essas obras e "Caçador de Demônios" - que mais parece um divertido gibi em movimento - mas devidamente atualizada - e estranhamente familiar, com jeitão de série antiga que era transmitida nas madrugadas da TV aberta.
O roteiro - mesmo com todas as influências apontadas acima (a principal, de fato, é a série literária "Hell In Haven", de David Green - é basicamente a mesmíssima trama) - traz um frescor para esse tipo de narrativa, tratando algumas crenças da religião judaico-cristã como mais uma mitologia a ser explorada de forma fabulosa. Como é uma série com um protagonista de caráter dúbio, tudo o que é mostrado na série tem um quê de cinismo e decepção em relação à humanidade - o que, por si só, espelha o mundo materialista e impessoal em que vivemos.
Em relação à trama, talvez o único "defeito" seria que os personagens aceitam muito rapidamente à nova condição do protagonista - ok, um ou outro duvida mas a maioria já aceita ajudar sem ao menos desconfiar que se trata de algum delírio temporário ou algum outro distúrbio, mesmo sem nenhuma prova cabal do contrário... Mas essa não é uma série que vai se aprofundar tanto assim nas personalidades de cada um e, dentro da proposta apresentada, funciona a contento.
Vale lembrar que o ator - ao lado da atriz (e cantora) Jennifer Nettles (que você deve conhecer de alguns episódios da satírica série "The Righteous Gemstones", em que interpreta Aimee-Leigh, a falecida patriarca da família de tele-evangelistas) - desempenha bem o papel de ex-cantor de country music raiz, entoando duas belíssimas canções em momentos bem marcantes aos acontecimentos da trama (o último, em que Bacon & Nettles entoam, à capela e ao violão, a atordoante elegia "Will the Circle Be Unbroken" é de partir o coração - e totalmente adequada, pois os personagens estão se lamentando por conta de uma fatalidade).
O restante do elenco está bem e de acordo não só com a temática da série como também com as diretrizes da nova realidade que o roteiro apresenta. Talvez possamos destacar o que a atriz Jolene Purdy (de séries como "Orange is the New Black" e "WandaVision") entrega no quinto episódio - quando parte de sua motivação é escancarada ao visitarmos seu passado e como se meteu com este novo trabalho infernal -, bem próximo do que qualquer pai ou mãe em desespero faria para salvar sua prole...
A direção de fotografia também investe em modernidades como utilizar câmeras presas ao corpo do ator Kevin Bacon num momento de real ansiedade para explicitar o que sua personagem sentira ou alguns movimentos não usuais de filmagem para demonstrar desorientação e falta de naturalidade às cenas. Em matéria de produção, é uma obra bem esmerada, na medida do possível.
"Caçador de Demônios" é aquele adequado tipo de entretenimento "trasheira" de fim de noite - no bom sentido! -, trazendo gore, sanguinolência e personagens interessantes lutando no fim do mundo contra o fim do mundo como conhecemos. O que mais alguém cansado das batalhas cotidianas pode querer? Beberique seu líquido gelado favorito, aprecie acepipes de gosto duvidoso e delicie essa iguaria televisiva como nos velhos tempos que não voltam mais. Valerá a pena...
Kal J. Moon mora no fim do mundo, com vista para o alvorecer, não se espantou que alguém no elenco chamava-se "Jolene" e, óbvio, ouviu country music raiz para escrever essa crítica.
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