Dra. Louise Banks (Amy Adams) em seu primeiro contato alienígena: tensão (Divulgação) |
Experiência real com seres imaginários
Poucas vezes se viu no assim chamado cinema comercial um filme que pudesse forçar os limites de cada espectador em aceitar o que se propõe numa história. Independente de se acreditar ou não na existência de alienígenas, especular como os humanos reagiriam ante a essa inóspita situação não é assunto novo no cinema, mas poucos souberam conduzir de forma exemplar.
Indicado a oito Oscars (incluindo Melhor Filme, Direção e Roteiro Adaptado) e baseado num obscuro conto de Ted Chiang (publicado recentemente no Brasil), o roteiro de Eric Heisserer (do péssimo "Quando as Luzes se Apagam") resolve muitas armadilhas recorrentes em filmes do gênero. Mesmo que não o afaste da ficção científica convencional, adiciona elementos humanos o suficiente para que a plateia se encante, se emocione e se questione - tudo ao mesmo tempo. Os conceitos apresentados na história formam o que há de melhor em termos de criatividade e invenção.
Na trama, quando seres interplanetários chegam ao planeta Terra, a doutora em linguística Louise Banks (Amy Adams) é procurada por militares para traduzir a linguagem desses seres e desvendar se representam ameaça. No entanto, a resposta pode ajudar Louise a descobrir muito mais do que uma nova forma de se comunicar.
Uma das doze naves alienígenas que pousaram na Terra (Divulgação) |
Denis Villeneuve deixa de importar-se apenas com o visual de seus filmes para comandar, literalmente, uma dramaturgia de peso. Repleto de interpretações críveis - com destaque óbvio para Amy Adams (indicada ao Globo de Ouro pelo papel mas completamente esnobada nas indicações do Oscar) -, Villeneuve pega tudo o que o roteiro tem de bom e confia em seus atores para que cada cena valha a pena ser contada - visualmente e emocionalmente.
Amy Adams nos faz acreditar que não é uma mera tradutora ou linguista mas sim algo demasiado humano. Cada take mostra que há um relacionamento real entre personagens e espectadores. E nenhuma falta de indicação a prêmios vai tirar seu mérito.
A humanidade se desespera frente ao inesperado (Divulgação) |
Porém, o principal problema do filme é seu terceiro ato. Existe uma construção muito bem feita para um desenlace que fica devendo as necessárias resoluções da história - ou parte dela. O espectador presencia o desfecho apenas da vida da linguista porém de forma incompleta. Nem todas as respostas são dadas e não se tem como deduzir como tudo termina.
Não, não é um filme ruim - muito pelo contrário. Além da bela direção de fotografia de Bradford Young, "A Chegada" tem uma história que cativa mas decepciona em alguns aspectos. Nada que comprometa o entretenimento mas poderia ter sido bem melhor resolvido. Perdeu-se na tradução.
Kal J. Moon sempre teve problemas em comunicar-se. Talvez porque seja um alienígena...