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CRÍTICA [CINEMA] | "Kong: A Ilha da Caveira", por Marlo George


Nova produção baseada no clássico de 1933 demonstra desgaste dos remakes de filmes clássicos

Os remakes, refilmagens de filmes clássicos ou apenas famosos, já não são novidade. Pra dizer a verdade estão virando quase que uma regra. Basta que uma franquia se encerre ou deixe de ser continuada, como por exemplo Percy Jackson e As Crônicas de Nárnia, que as especulações sobre futuras refilmagens ou astros que deveriam estrelá-las começam quase que instantaneamente. Ora, Logan ainda está em cartaz e já tem gente preocupada com o ator que irá herdar o personagem Wolverine de Hugh Jackman.

Lógico que a serventia de tais produções é manter o público interessado na marca nelas explorada, sejam super-heróis dos quadrinhos, personagens de séries literárias ou até mesmo de coleções de brinquedos. Se levarmos isso em consideração, até dá pra entender a razão dos estúdios insistirem em investir nestas refilmagens, mesmo que algumas delas já nasçam predestinadas ao fracasso comercial, seja por desagradar os fãs ou por não ter o aval da crítica especializada.

Porém, o que não dá pra entender é o motivo de se insistir em um novo filme baseado no clássico King Kong, tendo em vista que tudo, tudo mesmo, que surgiu após o original de 1933 é ruim.

O longa estrelado por Fay Wray, Robert Armstrong e Bruce Cabot está para o cinema da década de 30 como O Senhor dos Anéis está para o atual. O filme revolucionou a forma como os filmes eram feitos e influencia cineastas até hoje. Já suas sequências, refilmagens e reboots, como o novo filme de Jordan Vogt-Roberts, Kong: A Ilha da Caveira, são totalmente dispensáveis.

Esse novo filme não passa de mais uma aventura fanfarrona regada à efeitos especiais e estrelas consagradas do cinema. Um blockbuster de fim de semana que não tem nem um terço do charme e ternura do clássico em que se baseia.


Kong: A Ilha da Caveira só se destaca naquilo que é óbvio. O trabalho de direção de arte é impecável e a recriação dos anos 70, especialmente nas cenas em Washington, realmente impressiona. É interessante notar que os detalhes foram cuidadosamente trabalhados, não só nos cenários, mas também nos figurinos, que acrescentam personalidade aos personagens de acordo com a faixa etária, etnia, estilo e etc...

A produção também acerta na granulação e paleta de cores usada na edição final, que remete a filmes como Os Caçadores da Arca Perdida, de 1981, e Allan Quatermain e a Cidade do Ouro Perdido, de 1986. A montagem é competente e o trabalho de efeitos especiais e visuais também são caprichados. As criaturas e o próprio Kong estão magníficos, assim como as sequências de batalha. Kong é mostrado, em todo seu gigantismo e esplendor, logo nos primeiros 30 minutos do filme, o que rendeu bastante tempo de tela pro monstro e isso foi um dos grandes acertos do diretor.

Só que tamanho cuidado com os aspectos técnicos e artísticos contrastam com a pobreza do roteiro e do trabalho dramático.

A história, escrita por John Gatis e roteirizada por Dan Gilroy, Max Borenstein e Derek Connolly, é genérica e nem mesmo o elenco estelar foi capaz de extrair o mínimo de carisma de cada personagem apresentado. O veterano John Goodman é a primeira dentre as estrelas a aparecer na telona, acompanhado pelo novato, e promissor, Corey Hawkins. Eles são seguidos por um verdadeiro desfile de rostos conhecidos como Tom Hiddleston, Samuel L. Jackson, Brie Larson, John C. Reilly, Toby Kebbell, entre outros. Nenhum deles convincente. A cena que introduz a personagem de Hiddleston é risível. Já o velho Samuel L. Jackson está caricato como nunca, principalmente na cena em que ele dá uma encarada surreal no gorilão em plena mata, entre fogo e destruição. É tão exagerada que chega a ser constrangedora.

Atrapalhado, inconsistente e esquecível, Kong: A Ilha da Caveira pode até fazer a cabeça de quem procura diversão escapista e com muita testosterona, mas desapontará aqueles que viram a beleza da aventura original e a buscarão nesta nova encarnação da obra. Eu saí desapontado.



Marlo George assistiu, escreveu e não torceu pro monstro dessa vez...