Vin Diesel ataca novamente, desta vez como um super-herói obscuro dos anos 90

Se você não soubesse (ou ninguém te contasse) que Ray Garrison, personagem interpretado por Vin Diesel em seu novo longa é inspirado em um super-herói quase famoso da editora Valiant Comics chamado Bloodshot,  criado por Kevin VanHook, Don Perlin e Bob Layton, você sairia do cinema achando que o grandalhão de Hollywood interpretou um personagem estereotipado qualquer de um filme de ação no melhor estilo dos anos 90 e que por acaso tem como título Bloodshot.

E não haveria nada de errado nisso, afinal, o filme em nada se parece com uma adaptação de quadrinhos de super-heróis e em muito se parece com os famigerados longas de ação que inundavam os cinemas de bairro 20 anos atrás.

Bloodshot começa com uma cena no melhor estilo "exército de um homem só", muito bem feita e na medida certa entre o exagero e a realidade. O filme segue, apresentando o personagem principal e sua relação apaixonada com a mulher, emendando-o com uma sequência romântica no Mediterrâneo. É lógico que a paz do casal é interrompida pela violência de um grupo criminoso, algo bem clichê, e também pela performance inusitada de dança, apresentada por Toby Kebbell, em uma coreografia baseada na canção Psycho Killer, do Talking Heads. Isso, meus caros e minhas caras, não foi nada clichê. Encerrando a introdução seguem-se cenas e mais cenas com diálogos enfadonhos sobre como o tal super-herói conseguiu seus super-poderes, num dos piores exemplares de tecno-blá,blá,blá que já assisti na vida, que desembocam em mais cenas, arrastadas e sonolentas, do herói descobrindo seus poderes e um novo interesse romântico.

Daí em diante, não quero dar spoilers, mas o filme desce ladeira abaixo.


Com uma narrativa previsível e muitos diálogos desnecessários, o roteiro é básico e não exige muito do expectador. É um besteirol completo que em alguns momentos até tenta flertar com algumas ideias filosóficas, mas tudo em vão. O roteiro é co-escrito por Jeff Wadlow (Kick Ass 2) e Eric Heisserer (A Chegada).

A direção de fotografia irrita ainda mais do que o script com muitos closes, que possivelmente pretendiam maquilar a carência cenográfica do filme, que custou cerca de 45 milhões de dólares pra ser produzido. Além de "chapar" o rosto dos atores o tempo todo na telona, numa dinâmica de telenovela, a decisão de mostrar cenas de ação em slow motion (no melhor estilo Zack Snyder) deixa o filme com cara de produção datada. Desconfio, inclusive, que toda a direção de fotografia e edição foi pensada para um filme híbrido, que pudesse ser exibido em streaming, caso algum problema no lançamento nos cinemas ocorresse. O diretor de fotografia, Jacques Jouffret, é o mesmo da franquia The Purge (Uma Noite de Crime).

Aliás, esse orçamento reduzido que apontei acima explica todos os problemas técnicos, especialmente os de computação gráfica.


A trilha sonora é desinteressante e um tanto quanto genérica, sem nenhuma novidade ou tema emblemático para o protagonista, o que é uma característica de filmes de super-heróis, mas este não parece ser um longa de supers, como já disse. Quem compôs foi Steve Jablonsky, da franquia Transformers de Michael Bay.

Agora vamos para a parte fácil, até porque, bater em cachorro morto não dá muito trabalho. Vin Diesel continua sendo Vin Diesel. Mesmo visual, mesma cara de sono (que contagia a platéia), mesma voz de pato-rouco, nenhum carisma e uma inabilidade incrível em atuação. Ele entrega tão pouco, dramaticamente falando, que a impressão que eu tenho é que ele precisa se esforçar para lembrar suas falas antes de dar o texto. Sempre há uma pausa longa e dramaticamente desnecessária antes dele balbuciar o que está no script. O restante do elenco foi mero refém do tempo de tela que deram pro Diesel e ficam ali figurando enquanto ele esbanja falta de técnica e as mesmas caras e bocas de sempre.

Depois dessa eu não quero encontrar ele na rua...

Bloodshot é o primeiro trabalho do diretor Dave Wilson, que é mais conhecido por seus créditos em efeitos visuais no filme Vingadores: Era de Ultron e muitos na industria de games (o que explica muita coisa) em jogos como Star Wars: The Old Republic - Knights of the Eternal Throne, Guardians of Middle-Earth, Mass Effect 2, entre outros.



Marlo George assistiu, escreveu e ao terminar de assistir o filme achou (por um segundo) que seria uma boa ideia dar um play na canção Burning Down The House, dos Talking Heads, atear fogo no cinema e sair de lá, não dançando, mas correndo