Dirigido por Jason Reitman, estrelado por Mckenna Grace, Logan Kim, Finn Wolfhard, com participações especiais de Paul Rudd, Carrie Coon, dentre outras surpresas, "Ghostbusters - Mais Além" é o mais próximo que o séquito de fãs da franquia "Caça-Fantasmas" chegará de um terceiro filme (mesmo que esse seja o quarto exemplar)...


"Oh, como a sua sombra se apega"
Ser criança nos anos 1980 era muito bom. Adultos vestiam roupas multicoloridas como se normal fosse (e era), assistíamos reprises de desenhos animados com mais de 20 anos de existência como não houvesse problema com isso (e não havia), nos satisfazíamos com gráficos de computador limitados pois estávamos participando de uma revolução tecnológica enquanto acontecia... E o mais importante: filmes infantis eram realmente melhores do que os de hoje pois não subestimavam a inteligência dos pequenos espectadores.

Mas "Os Caça-Fantasmas" (o primeiro, aquele lançado em 1984), bem, era um filme NADA infantil. Os heróis fumavam a todo momento - e um deles, o mais querido pelo público, destilava piadas e insinuações de cunho sexual que seria imediatamente "cancelado" hoje em dia -, o/a vilão/vilã era literalmente uma figura pessoa nua dando saltos de pernas abertas e soltando raios aqui e acolá, isso sem esquecer de mencionar a fantasmagórica cena de felação envolvendo um dos protagonistas (ok, era um sonho mas isso era transmitido na Sessão da Tarde sem censura alguma).


Mesmo assim, o primeiro filme foi um tremendo sucesso entre a criançada, que foi agraciada por uma série animada de 140 episódios que foi transmitida por cinco anos (além das inúmeras reprises) - série esta que ia um pouco além do que era "permitido" no entretenimento infantil com alguns episódios tratando do medo e de assuntos delicados como o fim do mundo. E ainda vieram games, outras séries animadas, outros filmes (vamos pular isso)... Enfim, os quatro salvadores de Nova York sempre permearam a cultura POP mais como um perfume agradável do que como uma influência direta (exceto pelo incômodo e repetitivo "raio azul" subindo aos céus que muito filme de super-heróis resolveu copiar descaradamente, de "Quarteto Fantástico" ao primeiro "Vingadores", dentre outros).

"Ghostbusters - Mais Além" investe em toda nostalgia possível (mas toda mesmo!) para agradar ao fã mais ferrenho como traz alguns (poucos) novos elementos numa ferrenha tentativa para que a franquia arrebate novos fiéis seguidores. Uma hercúlea tarefa que funciona em termos.

Dizer que este novo filme é melhor do que o anterior - aquele bem polêmico, lançado em 2016 - é "chutar cachorro morto", uma vez que aquele projeto, além de não ter bases sólidas, debochava da mitologia pré-concebida na própria franquia para tentar estabelecer, à força, uma modernização com elementos que precisavam de um desenvolvimento mais elaborado.


Na trama de "Ghostbusters - Mais Além", uma mãe solteira e seus filhos se mudam para uma pequena cidade, eles começam a descobrir sua conexão com os Caça-Fantasmas originais e o legado secreto que seu avô deixou para trás. Porém, quando acidentalmente libertam uma força espectral muito poderosa, precisam correr contra o tempo para evitar que aquela pequena e pacata cidade não sucumba ante às forças do mal. Será que vão conseguir?

Certo, não dá para negar que o roteiro da dupla Gil Kenan e Jason Reitman é bem simples, sem trazer muita coisa nova, apresentando rapidamente novos personagens mas seguindo por caminhos que os espectadores meio que sabem onde vão chegar. Diversos easter-eggs e citações aos filmes anteriores (exceto o de 2016) - mas também aos desenhos animados e até à trama de um dos games - exigem um prévio conhecimento da audiência, principalmente a mais jovem, que talvez não consiga alcançá-la.


Transformar "Ghostbusters - Mais Além" num filme infanto-juvenil - algo realmente pensado para toda a família - é uma decisão acertada mas a simplicidade de diversas situações com os novos personagens pode gerar reação contrária à desejada pelo público mais jovem. Sim, muitas crianças dos anos 1980 queria ser membro dos Caça-Fantasmas. Mas a grande maioria das crianças e adolescentes do século 21 nem sequer sabe do que se trata (conhecem o logotipo, têm uma vaga ideia do que se trata mas, assim como Star Trek, consideram como "coisa de gente velha" - como ousam?!). E talvez tenham toda a razão (como é?!) - uma vez que Caça-Fantasmas "rouba" parte de sua proposta de um obscuro seriado dos anos 1970 chamado... "The Ghost Busters" (pois é). São quase 50 anos regurgitando as mesmas ideias (acrescentando umas coisas bacanas aqui e ali ao longo dos anos mas sem repetir o lucro gigantesco do filme de 1984).

No novo filme, o elenco é bem dirigido e a maioria tem seus momentos de tela. Nada muito excepcional no conjunto. O único grande destaque vai mesmo para a jovem Mckenna Grace, que estranhamente faz a audiência acreditar que a personagem tem mesmo parentesco com Egon Spengler (interpretado pelo saudoso Harold Ramis nos dois primeiros filmes). Não é "culpa" somente do figurino semi-andrógino. Ela traz um estupendo trabalho de composição à sua personagem, cuja "estranheza" e frieza (ainda que exaustivamente explicada) traz à mente o eterno colecionador de fungos e bolor. Ok, talvez não gere indicações a prêmios pois filmes do gênero raramente aparecem na listagem de premiações relevantes - mas não fique espantado caso ocorra, visto a qualidade baixa do que tem sido mostrado de 2019 para cá...

O jovem Logan Kim também arranca uma ou outra risada mas seu personagem - chamado... "Podcast"! - é mais que um alívio cômico ambulante, com importância operacional na nova "equipe". Paul Rudd tem a difícil missão de ser o contextualizador para quem não entende a mitologia da franquia - tanto para os novos personagens como para as novas audiências. Carrie Coon faz parte desse pacote, mostrando o  lado cruel de ser parente de um Caça-Fantasmas, que é parte interessante e parte dispensável depois da quarta ou quinta reclamação. Já Finn Wolfhard está ali somente para trazer fãs de "Stranger Things" para assistir o filme pois seu personagem não tem lá muita relevância no roteiro, mesmo que haja possibilidades dramáticas para tal.

Se a trama e a condução tem um ritmo claudicante de avanço e retranca - como um carro que desce a ladeira e morre no percurso mas milagrosamente volta a pegar, seguindo seu caminho -, é notável ver o carinho e o respeito ao filme original, pavimentando um caminho parecido ao que foi planejado em "Star Wars - O Despertar da Força". E os efeitos especiais funcionam, mesmo que não haja nada revolucionário em cena.

O espectador mais atento já sabe o que esperar de "Ghostbusters - Mais Além", até imagina quem fará uma breve aparição especial (e sabe que, infelizmente, não será Rick Moranis) ou que os novos "Stay Pufts" têm potencial para gerar uma nova onda de "fofurice" à la Minions. Mas esse irresistível perfume de nostalgia vai grudar na audiência como se sua sombra fosse - se assistir a versão dublada, ainda tem mais algumas agradáveis surpresas. É bom ser convidado para a festa de vez em quando. Quando tiver uma próxima, espero receber um convite...





Kal J. Moon escreveu essa crítica vestido com seu uniforme de Caça-Fantasmas. Isso não quer dizer nada. Era apenas a única roupa limpa disponível... (Respeitosamente dedicado à saudosa memória do dublador brasileiro Ézio Ramos, a melhor "versão brasileira" do Bill Murray ever)


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