Estrelado por Will Smith, Saniyya Sidney e Demi Singleton (com participação de Jon Bernthal, Tony Goldwyn e Aunjanue Ellis), "King Richard - Criando Campeãs" é a aposta da vez para que a cria mais famosa da Filadélfia finalmente ponha as mãos naquela cobiçada estatueta dourada...

As duas filhas do Rei Ricardo
Você já assistiu "Ali", "À Procura da Felicidade", "Sete Vidas", "Um Homem entre Gigantes" ou "Beleza Oculta"? Sabe o que esses filmes têm em comum com "King Richard - Criando Campeãs"? Todos são tentativas para que Will Smith ganhe o cobiçado Oscar de Melhor Ator. De todos os títulos nessa nada pequena lista, "À Procura da Felicidade" foi o que mais se aproximou do feito, agradando parte da crítica e sendo um grande sucesso de bilheteria - além de ganhar em algumas premiações importantes -, galgando, assim, o caminho como favorito à premiação mais importante da História do Cinema. Mas perdeu para Forest Whitaker e seu papel em "O Último Rei da Escócia". Mas com "King Richard" as coisas podem ser diferentes, uma vez que Smith ganhou recentemente o Globo de Ouro de Melhor Ator e já dispara na disputa das principais premiações como inesperado favorito (mesmo sabendo que ele levou o carimbo "No Oscar 4U" de Atores que Nunca Vão Ganhar o Oscar)...

Na trama, acompanhamos a jornada de Richard Williams (Smith), um ex-atleta e pai determinado a educar e criar uma dupla de filhas para tornarem-se tenistas, enfrentando diversos percalços - de inimizades no pobre e violento bairro onde moram até o esnobe de treinadores de renome - para alcançar o seu sonho e, claro, retorno financeiro. 

Só pela sinopse, podemos lembrar de Joe Jackson - cuja batalha para transformar os filhos numa boy band de sucesso foi retratada na minissérie "The Jacksons: An American Dream" (1992) ou do brasileiro Seu Francisco - que criou seus filhos para se tornarem na dupla sertaneja Zezé Di Camargo & Luciano e sua saga virou o filme "Os 2 Filhos de Francisco". E a narrativa criada por Zach Baylin nem se importa de parecer um tanto genérico nesse sentido. Em todo o momento - e isso pode ter sido um pedido do próprio Smith -, as ações de Richard Williams são questionadas, ameaças de términos de contratos são feitas, muito suor é mostrado nos rostos das irmãs Serena e Venus, a própria esposa Oracene duvida de que seu marido possa estar no caminho certo mas, miraculosamente, este homem é mostrado como um colosso da persuasão no mundo dos negócios.


O problema é que os argumentos para que o personagem seja ~"isso tudo" que é falado dele no filme quando consegue alguma conquista são completamente rasos. Não tem uma linha de diálogo proferido entre Richard com qualquer treinador, entrevistador, futuro patrocinador ou dono de clube de tênis que mostre seu poder de convencimento. Nem mesmo as cenas onde as irmãs Serena e Venus aparecem treinando são convincentes o suficiente para comprovar a tese de Richard de que elas seriam super-estrelas do esporte como ele tanto diz. E isso é o mais grave dos problemas da trama pois é como se Richard fosse uma espécie de sol onde todos os outros personagens apenas orbitam à sua volta. Ele é o centro de tudo, mesmo não sendo tão especial assim.

Há pouca tensão mostrada entre as irmãs Serena e Venus, o que faz com que Saniyya Sidney e Demi Singleton - que interpretam as personagens, respectivamente - tenham bem pouco a mostrar, dramatologicamente falando, além de cenas onde estão treinando ou jogando tênis. Ou mesmo Aunjanue Ellis, que interpreta a esposa de Richard e tem apenas uma cena onde seu potencial é devidamente explorado, dando um pouco mais de humanidade àquele relacionamento um tanto abusivo de certo ponto de vista, lembrando-o que ele não era esse santo todo que as pessoas dizem.

Ainda no elenco, Jon Bernthal - irreconhecível! - consegue fugir completamente da caricatura ao viver o treinador e empreendedor Rick Macci, o segundo treinador a realmente acreditar no potencial das irmãs tenistas - e em toda a ladainha de Richard Williams, ao ponto de recusar patrocínios para evitar que as filhas se envolvam com drogas por conta do possível sucesso na juventude (se você está achando um absurdo esse argumento, lembre-se que grande parte da história se passa nos anos 1980 e os profissionais do esporte não eram assim tão bonzinhos e pacientes como aparentam neste filme). Tony Goldwin traz o equilíbrio responsável do começo da carreira das tenistas e provavelmente tem as melhores cenas envolvendo tênis na película. O restante do elenco é apenas funcional.

"Mas e o desempenho de Will Smith?", pode você se perguntar. Bem, é o mesmo de qualquer filme dramático que ele faça: sobrancelhas arqueadas de forma triste quase o tempo todo para mostrar humildade, cenas de choro com apenas uma lágrima caindo e o lábio inferior tremendo levemente para garantir que ele dê sua fala, meneios de cabeça e olhar meio distante quando fala com "opositores" e um grande sorriso com aceno positivo de cabeça quando alcança uma pequena vitória. Se o personagem não tivesse barba por fazer e cabelo mais cheio, poderia ser o mesmo de "À Procura da Felicidade" - igualmente baseado numa história real. Vai saber porque ele ganhou o prêmio recente de Melhor Ator...


A direção de Reinaldo Marcus Green - egresso dos curtas-metragens e minisséries da TV, sem grandes destaques - deixa todos muito soltos, como se a maioria das cenas fossem improvisadas. As maiores perdas são justamente nas cenas de tênis, tanto as dos treinos quanto as dos jogos, pois não conseguem transmitir a emoção de uma partida. Isso poderia ser conseguido com uma narração mais dinâmica ou mesmo com foco na torcida ou até mesmo algum comentário mais explicativo vindo de um treinador. Com isso, a direção de fotografia de Robert Elswit - ganhador do Oscar em 2008 pelo trabalho em "Sangue Negro" - até tenta se destacar em algumas cenas mais evocativas, quando a família está reunida, mas se perde quando os rasos confrontos dramáticos se esvaem tão rápidos quanto começam, sejam na quadra de tênis ou quando Richard tem de enfrentar seus dilemas.

Finalizando os quesitos técnicos, a maquiagem e os penteados desenvolvidos para cada personagem são pertinentes aos papéis, sem parecer uma caricatura ambulante dos anos 1980, permeando entre o espalhafatoso e o sutil - até porque nem todo mundo usava cores berrantes nessa década (acredite, eu sei, eu estava lá...)

"King Richard - Criando Campeãs" é um filme medíocre com algumas mensagens importantes ditas de forma enviesada e torta, feito especialmente para ganhar prêmios. Se Will Smith vai ganhar o Oscar? Bem, o golpe está aí. Cai quem quer. Assista e tire suas próprias conclusões...




Kal J. Moon gostaria que Will smith parasse de tentar fazer um filme para ganhar prêmios e fizesse um filme bom pra valer de vez em quando...


Neste link, deixamos uma sugestão de compra geek, mas você pode nos ajudar fazendo uma busca através deste link, e deste modo poderemos continuar informando sobre o Universo Nerd sem clickbaits, com fontes confiáveis e mantendo nosso poder nerd maior que 8.000. Afinal, como você, nós do portal Poltrona POP já éramos nerds antes disso ser legal!