Escrito, produzido e dirigido pela estreante Megan Park e estrelado por Jenna Ortega, "The Fallout - A Vida Depois" mostra a seu público que todo trauma, por maior que possa parecer, tem tratamento. Mas a cura talvez não dependa exclusivamente da pessoa traumatizada...


Verdade verdadeira
A pior coisa que se pode fazer ao dirigir um filme focado em personagens adolescentes é escalar um elenco que pareça velho demais para seus papeis. Ou apela-se para uma direção que extraia toda a vivacidade que a trama precise ou apenas torça para que cada ator ou atriz dê o seu melhor em frente às câmeras. Foi assim com "Grease - Nos Tempos da Brilhantina", o seriado "The OC" ou até mesmo os novos filmes do super-herói Homem-Aranha estrelados por Tom Holland. Alguns atores podem até não parecer mais tão jovens assim mas convencem pelo conjunto. Felizmente, "The Fallout - A Vida Depois" não sofre desse mal pois seu elenco definitivamente se parece e age exatamente como adolescentes deveriam agir em filmes desse tipo.

A trama se inicia jovem Vada (Ortega) sai da aula para atender um telefonema de Amelia (Lumi Pollack) - sua irmã mais jovem que acabou de menstruar e não sabe o que fazer -, entra no banheiro da escola e encontra a aluna e influencer Mia (Maddie Ziegler), com quem começa uma breve conversa. Poucos minutos depois, um tiroteio se inicia em sua escola, fazendo com que Vada, Mia e um terceiro colega se escondam em um dos espaços sanitários para se salvarem. O que se segue é uma amostra de como uma tragédia como essa pode ser superada (ou não).


"The Fallout - A Vida Depois" é um filme que pode ser dividido em duas vertentes: consequências de um evento pós-traumático e denúncia acerca da falta de controle de armas nas escolas públicas dos Estados Unidos. Ambas as narrativas são exploradas de forma meramente satisfatórias mas nada equilibradas. As tramas não se conversam adequadamente e o motivo é um só: inexperiência.

Megan Park faz sua estreia na direção de longa-metragens após uma carreira irregular como atriz em filmes "okayzinhos" como "Será Que...?" e em papeis secundários em seriados como "A Vida Secreta de uma Adolescente Americana", dentre muitas participações especiais em outros filmes e seriados. O tema de "The Fallout - A Vida Depois" já é delicado por si só, caso abordasse apenas como reagem adolescentes e jovens adultos a um acontecimento tão funesto quanto um tiroteio numa escola, em plena luz do dia, num local que deveria garantir a segurança de pessoas em formação de caráter o tempo todo. Mas quando o discurso anti-armamentista entra em jogo, é logo jogado de escanteio, reaparecendo volta e meia na forma de um dos sobreviventes (Will Ropp) que se torna um ferrenho (e um pouquinho caricato) simpatizante dos direitos de quem precisa ser defendido a todo custo por conta do que ocorreu - embora na ideia seja muito bonito, faltou "dedo na ferida" na hora da execução (até tem mas não "arde" tanto quanto deveria). E, infelizmente, esse personagem acaba virando uma espécie de mea-culpa da diretora e roteirista que precisa explanar verbalmente o tempo todo através das falas dele, não mostrando a reação de outras pessoas a seus esforços.


O que vemos, por outro lado, é todo o ciclo de desconstrução e reconstrução de personalidade de Vada (Ortega) que está surpreendente no papel, uma composição realmente inspirada e bem construída, representando uma adolescente "de verdade". Parte do figurino dessa personagem colabora para a figura despojada e brincalhona que interpreta mas seus olhares curiosos e até um tanto inocentes perante o uso de drogas e bebidas alcoólicas, o primeiro beijo ou até mesmo a forma como dança para tentar fugir da sensação de "não sentir nada" - mas quando sente, sai de baixo - é muito cativante, como se estivéssemos assistindo alguém mais jovem que conhecemos pessoalmente.

O mesmo pode ser dito de sua nova e improvável amiga Mia (Ziegler), que é como aquela colega rica e muito bonita que nunca teríamos coragem de falar quando estávamos no antigo ensino médio - mas que é uma pessoa comum, como eu e você (e que esquecemos que, no final das contas, também tem sentimentos).


Destaque também para a personagem Amelia (Pollack), a irmã mais jovem de Vada, que é falante, engraçada, espevitada, enxerida e que adora fazer vídeos dançando no TikTok (onde mais seria?) mas que entrega uma cena muito emocionante que serve para mudar parte do conflito de sua irmã mais velha e quebrar todo o ciclo de irresponsabilidade que ela acaba "se viciando" no meio do caminho.

Curiosamente, o elenco "adulto" é o que menos se destaca. Julie Bowen - que vive a mãe de Vada - resume-se apenas a cenas de mãe preocupada e algumas soluções de comédia que não funcionam por conta da falta de timing e falas mal desenvolvidas. John Ortiz - que interpreta o pai de Vada - pelo menos recebeu uma cena tocante que mostra que um pai pode simplesmente ensinar uma adolescente a xingar para descarregar toda sua raiva e frustração. Já Shailene Woodley parece estar fazendo um favor à diretora Megan Park por conta de sua amizade com a diretora desde o tempo em que dividiam cenas no seriado "A Vida Secreta de uma Adolescente Americana" - mas suas falas também não ajudam nem um pouco, sendo apenas burocráticas e previsíveis.

"The Fallout - A Vida Depois" tem curta duração - o que é ótimo - e permite que Jenna Ortega entregue uma performance digna de aplausos. Em mãos mais habilidosas, talvez tivéssemos algo realmente relevante. Mas como estreia - contando o baixo orçamento e todos os problemas que envolvem "primeiras vezes" - até que não se sai mal, tendo em vista a sensibilidade para tratar dum tema tão delicado. O final - abrupto, cru mas ainda assim um tanto reflexivo - mostra que Megan Park ainda tem muito chão a percorrer, mas está no caminho certo...



Kal J. Moon odeia armas de fogo. E evita veementemente quem venera isso...

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