Escrito e dirigido por Sang-ho Yeon, estrelado por Kim Hyun-joo, Kang Soo-youn e Ryu Kyung-SooJung_E é a uma atração coreana em longa-metragem que traz a história de um futuro pós-apocalíptico em que a humanidade precisa se mudar para colônias orbitais e acaba enfrentando uma nova guerra que pode ser decidida por um exército de inteligências artificiais criadas a partir de uma lendária mercenária morta em combate.

KIO NO-PI

Uma das produções coreanas mais aguardadas para 2023, “Jung_E” esteve boa parte do ano passado figurando na lista “Vale a Espera” da plataforma paga de streaming Netflix, gerando uma grande expectativa por mais um produto de entretenimento da indústria cada vez mais prolífica do país asiático. Não para menos, já que nos últimos anos temos sido agraciados com obras bem interessantes (como a aclamada “Round 6”) que vêm alcançando cada vez mais público além da bolha dos fãs de K-pop. Inclusive muito desse sucesso se deve justamente à plataforma de streaming, que tem sido responsável por trazer boa parte dos filmes e séries da Coreia do Sul.

Obviamente, sucesso não é algo que se alcança sem muito trabalho e, principalmente, qualidade na execução e no resultado desse trabalho. A alta qualidade da produção audiovisual coreana já foi comprovada em diversas obras de variados estilos, indo de comédias românticas (como a série ”Hometown Cha-Cha-Cha”) até à ficção científica (como o longa “Nova Ordem Espacial”), passando por sitcoms (de “Me Tira Daqui”) e fantasias históricas (de “Alquimia das Almas”), além da já citada “Round 6”. E não podemos esquecer do premiado Parasita, grande vencedor do Oscar em 2020, conquistando não apenas o prêmio de Melhor Filme em Língua Estrangeira como também o principal deles, o de Melhor Filme.

Sob a batuta do diretor Sang-ho Yeon (deInvasão Zumbi), que também assina o roteiro, o elenco encabeçado por Kim Hyun-joo (de Profecia do Inferno), Kang Soo-youn (de “Moon Hee”) e Ryu Kyung-Soo (de “A Ligação”) encenam a história de Jung-Yi, uma capitão das forças de elite aliadas que é abatida em uma missão durante a guerra contra a República Adrian, uma aliança formada por colônias rebeldes. Anos mais tarde, sua filha, a Dra. Yoon Seo-hyun (Kang Soo-youn), torna-se a responsável por um projeto para criar um exército de inteligências artificias feitas a partir da cópia do cérebro de sua mãe, o que é possível graças a uma tecnologia desenvolvida com o intuito de prolongar a vida humana.

Ambientada no fim imaginário vindouro século XXII, quando a humanidade teve que deixar de viver na Terra, devido à elevação dos oceanos causada pelas mudanças climáticas, para habitar colônias orbitais, a trama a princípio parece ser uma mistura pretensiosa de Ghost In The Shell, Robocop (a versão do cineasta brasileiro José Padilha) e da série “Altered Carbon”. Mas essa impressão é logo dissipada pelo andamento da história.

Já no início somos brindados com uma sequência de ação que remonta o incidente final da Capitão Jung-Yi para em seguida sermos apresentados ao projeto que visa a utilizar as memórias de suas habilidades para criar o exército que tem a intenção de dar fim à guerra. É aí que começa a decepção com a película...

Embora a produção não deixe a desejar em qualquer aspecto se comparada aos blockbusters da indústria ocidental (desde os efeitos especiais perfeitos, encabeçados pelas empresas Bravo VFX e Giantstep, até as atuações), o que parecia ser uma eletrizante narrativa de ação passa a ser um drama intimista no que pode ser descrito como uma versão invertida de Pinóquio, já que neste caso é a filha quem “dá vida” à mãe em uma versão artificial tentando recriar o vínculo rompido anos antes.

Na verdade, não se trata de um caso de uma produção ruim que traga uma experiência enfadonha ou desagradável ao expectador. Muito pelo contrário, há o esmero de Sang-ho Yeon, tanto na escrita quanto na condução, em construir uma narrativa que nos apresenta todo o drama da cientista que tenta reproduzir em seu campo de trabalho o lendário sucesso de sua genitora no campo de batalha ao mesmo tempo em que procura fazê-la ter sucesso na missão em que falhou.

O problema do filme é que suas peças de publicidade o divulgaram como uma obra de ficção científica de suspense e ação, talvez até de intriga. Porém o que assistimos por pouco mais de uma hora e meia é o drama de se lidar com a perda e o fracasso diante de enormes expectativas. Além disso, a conclusão da trama parece vaga ou, na melhor das hipóteses, confusa, o que acaba destoando de como até então a narrativa vinha sendo conduzida. Parece que Song-ho não sabia como terminar a história e deu a ela um final apressado apenas para não precisar se alongar mais ou porque precisava finalizar o trabalho.

Uma nota triste é que a protagonista Kang Soo-youn faleceu precocemente em maio do ano passado, sendo impedida de ver seu último trabalho. Por isso, o filme é dedicado a ela.

No fim das contas, “Jung_E” decepciona não pela falta de qualidade da produção, mas porque promete um tipo de história que não é contada e é concluída de forma vazia ou, no mínimo, confusa. É provável que os apreciadores das produções coreanas gostem bastante, já que apresenta todas as características positivas que conquistaram esse público.

Para quem nunca assistiu a esse tipo de obra, não é a melhor opção para se começar, mesmo que não seja um entretenimento ruim. Aprecie com moderação, por sua própria conta e risco.


Antonio Carlos Lemos às vezes até dá nome a alguns objetos, mas prefere respeitar como seres humanos apenas todas as pessoas.


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