KIO NO-PI
Obviamente, sucesso não é algo que se alcança sem muito trabalho e, principalmente, qualidade na execução e no resultado desse trabalho. A alta qualidade da produção audiovisual coreana já foi comprovada em diversas obras de variados estilos, indo de comédias românticas (como a série ”Hometown Cha-Cha-Cha”) até à ficção científica (como o longa “Nova Ordem Espacial”), passando por sitcoms (de “Me Tira Daqui”) e fantasias históricas (de “Alquimia das Almas”), além da já citada “Round 6”. E não podemos esquecer do premiado “Parasita”, grande vencedor do Oscar em 2020, conquistando não apenas o prêmio de Melhor Filme em Língua Estrangeira como também o principal deles, o de Melhor Filme.
Sob a batuta do diretor Sang-ho Yeon (de “Invasão Zumbi”), que também assina o roteiro, o elenco encabeçado por Kim Hyun-joo (de “Profecia do Inferno”), Kang Soo-youn (de “Moon Hee”) e Ryu Kyung-Soo (de “A Ligação”) encenam a história de Jung-Yi, uma capitão das forças de elite aliadas que é abatida em uma missão durante a guerra contra a República Adrian, uma aliança formada por colônias rebeldes. Anos mais tarde, sua filha, a Dra. Yoon Seo-hyun (Kang Soo-youn), torna-se a responsável por um projeto para criar um exército de inteligências artificias feitas a partir da cópia do cérebro de sua mãe, o que é possível graças a uma tecnologia desenvolvida com o intuito de prolongar a vida humana.
Ambientada
no fim imaginário vindouro século XXII, quando a humanidade teve que deixar de viver na
Terra, devido à elevação dos oceanos causada pelas mudanças climáticas, para habitar colônias orbitais, a trama a princípio parece ser uma
mistura pretensiosa de “Ghost In The Shell”, “Robocop” (a versão
do cineasta brasileiro José Padilha) e da série “Altered Carbon”.
Mas essa impressão é logo dissipada pelo andamento da história.
Já no início
somos brindados com uma sequência de ação que remonta o incidente final da
Capitão Jung-Yi para em seguida sermos apresentados ao projeto que visa a
utilizar as memórias de suas habilidades para criar o exército que tem a
intenção de dar fim à guerra. É aí que começa a decepção com a película...
Embora
a produção não deixe a desejar em qualquer aspecto se comparada aos blockbusters
da indústria ocidental (desde os efeitos especiais perfeitos, encabeçados pelas
empresas Bravo VFX e Giantstep, até as atuações), o
que parecia ser uma eletrizante narrativa de ação passa a ser um drama
intimista no que pode ser descrito como uma versão invertida de Pinóquio,
já que neste caso é a filha quem “dá vida” à mãe em uma versão artificial
tentando recriar o vínculo rompido anos antes.
Na
verdade, não se trata de um caso de uma produção ruim que traga uma experiência
enfadonha ou desagradável ao expectador. Muito pelo contrário, há o esmero de Sang-ho
Yeon, tanto na escrita quanto na condução, em construir uma narrativa que
nos apresenta todo o drama da cientista que tenta reproduzir em seu campo de
trabalho o lendário sucesso de sua genitora no campo de batalha ao mesmo tempo
em que procura fazê-la ter sucesso na missão em que falhou.
O problema do filme
é que suas peças de publicidade o divulgaram como uma obra de ficção científica
de suspense e ação, talvez até de intriga. Porém o que assistimos por pouco
mais de uma hora e meia é o drama de se lidar com a perda e o fracasso diante
de enormes expectativas. Além disso, a conclusão da trama parece vaga ou, na
melhor das hipóteses, confusa, o que acaba destoando de como até então a
narrativa vinha sendo conduzida. Parece que Song-ho não sabia como
terminar a história e deu a ela um final apressado apenas para não precisar se
alongar mais ou porque precisava finalizar o trabalho.
Uma nota triste é que a protagonista Kang Soo-youn faleceu precocemente em maio do ano passado, sendo impedida de ver seu último trabalho. Por isso, o filme é dedicado a ela.
Para quem nunca assistiu a esse tipo de obra, não é a melhor opção para se começar, mesmo que não seja um entretenimento ruim. Aprecie com moderação, por sua própria conta e risco.
Antonio
Carlos Lemos às vezes até dá nome a alguns objetos, mas prefere respeitar como
seres humanos apenas todas as pessoas.
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