França é o berço do cinema. Por isso, não é surpresa alguma que regularmente brinde o mundo da sétima arte com atores como Jean Reno e Marion Cotillard, com diretores como Luc Besson ou mesmo com obras como o cultuado "Intocáveis" (2011). Agora, "Agente Infiltrado" - nova obra do diretor e roteirista Morgan S. Dalibert (da franquia "Bala Perdida") - chega a este lado do Atlântico, um thriller policial que promete manter o espectador vidrado do início ao fim.

É nóis!
O agente especial Adam Franco (Alban Lenoir, protagonista da franquia "Bala Perdida") se infiltra na organização do chefão Victor Pastore (Éric Cantona, da minissérie "Recursos Desumanos") para tentar impedir uma suposta ameaça terrorista do militante sul-sudanês Moktar Al Tayeb (Kevin Layne, de "O Que Ficou para Trás"). Porém ele se vê às voltas com os problemas do pequeno Jonathan (Noé Chabbat, em seu papel de estreia), filho mais novo de Victor, e uma intrincada rede de intrigas que envolve o alto escalão do governo francês.

Dalibert e Lenoir (que compartilham o roteiro) reprisam sua parceria já mais que consolidada na franquia de ação policial já citada, que além de muito sucesso com os dois volumes lançados em 2020 e 2022, promete uma terceira parte. Mas diferentemente do ritmo de ação eletrizante, desta vez eles apresentam uma narrativa mais contida, valorizando muito mais o suspense, a intriga e os dramas vividos pelos personagens do que as sequências de tiroteios, lutas e perseguições de tirar o fôlego que fez o público se afeiçoar ao trabalho da dupla.

Mesmo assim, o interesse da audiência não diminui durante as pouco mais de duas horas de exibição. Muito pelo contrário, a fluidez com que as sequências mais dramáticas são conduzidas só alimenta o apetite pela história, intercalando-se de forma mais homogênea com as cenas de ação. Estas, por sua vez, trazem alguns detalhes que temperam com certa novidade o seu já batido clichê. Por exemplo, há uma cena de luta mostrada totalmente pelo ponto de vista de uma câmera de segurança. As sequências também não duram mais do que o necessário, evitando o cansaço causado por cenas que geralmente visam apenas preencher o tempo com uma injeção de adrenalina narrativa. Uma apresentação muito mais palatável do que no recente "Kill Boksoon".


Boa parte do elenco principal é bem tarimbado em produções francesas: Thibault de Montalembert (de "Nada de Novo no Front"), Sveva Alviti (de "Amigos para Sempre"), Lucille Guillaume (do recente "Heartbeast"), Nathalie Odzierejko (da série de tevê "Studio Bagel"), Philippe Résimont (de "O Melhor Está por Vir"), Vincent Heneine (da série "As 7 Vidas de Lea"), Steve Tientcheu (de "Noite de Reis"), dentre outros. Todos bem afiados e entregando atuações dignas de seus personagens, sem qualquer exagero ou caricatura, muito menos apatia. O agente Franco de Lenoir às vezes pode parecer pouco expressivo, mas no decorrer da trama fica claro que sua fisionomia reflete a amargura e o cinismo de um terrível trauma.

Inclusive, o enredo do filme merece mesmo ser chamado de "Trama" (sim, com "T" maiúsculo mesmo), já que traz uma história com elementos muito bem entrelaçados. Não há informação que esteja presente apenas para tomar tempo do espectador. Tudo está devidamente interligado com suas conclusões, não deixando perguntas sem respostas. Parte da narrativa é envolta numa aura de mistério que deixa o público com a pulga atrás da orelha ansiando avidamente por respostas que vêm em meio a uma reviravolta impactante.

Contudo, o contexto sócio-político abordado não é necessariamente surpreendente, uma vez que nos últimos anos vem sendo representado em diversas produções como "Samba" ou "Lupin", ambas estreladas pelo sensacional Omar Sy. Mas certamente serve de combustível para a reflexão sobre o que é contado ao povo por governos e imprensa, que acima de tudo pensam mais em seus próprios interesses do que em cumprirem seus devidos papéis na sociedade.

Já nos aspectos técnicos, a cinematografia de Florent Astolfi (do telefilme "Carpe Diem") dá o devido contorno ao tom da trama, enquanto a trilha sonora original composta por Etienne Forget (da série de tevê "Missions") embala a sua condução. O trabalho de profissionais como o editor Tianès Montasser (de "Jane par Charlotte"),  os supervisores de efeitos especiais Georges Demétrau e Jérome Miel (de filmes como "Agente Oculto" e "Os Opostos Sempre Se Atraem"), o supervisor de efeitos visuais Bastien Brenot (de "Meu Malvado Favorito 2") e do coordenador de dublês Emmanuel Lanzi (de "O Rei das Sombras") ajuda a compor toda a imagética que atribui a credibilidade necessária aos momentos mais contundentes. Também não se pode deixar de citar o trabalho de maquiagem de Frédérique Ney (de "O Tesouro do Pequeno Nicolau"), que também acrescenta peso às sequelas dos personagens depois de trechos de embates físicos.

Enfim, certamente "Agente Infiltrado" é mais uma excelente atração trazida diretamente da terra dos irmãos Lumière pela plataforma paga de streaming Netflix, principalmente para quem busca a dose certa entre drama e ação. Definitivamente, pode ser considerada uma obra de arte em todos os aspectos, tanto pela sua composição estética quanto pela abordagem do conteúdo. Uma produção que com certeza deixaria o lunático Georges Méliès extremamente orgulhoso.



Antonio Carlos Lemos aprecia boas obras francófonas sem reclamar, mas não tolera croissant sem recheio.

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