Baseado no best-seller escrito por Carina Rissi, dirigido por Katherine Chediak Putnam, Dean W. Law e Luiza Shelling Tubaldini, estrelado por Giovanna Grigio, Bruno Montaleone, Luciana Paes e grande elenco, o filme "Perdida" é... é... é o quê mesmo, hein?
Traídos pelo desejo
Qualquer proposta que saia do curriqueiro trinômio do atual cinema brasileiro (cinebiografia-comédia-violência policial/"favela situation" - já deu, né?) é sempre bem vinda, ainda mais quando flerta com elementos de ficção científica como viagem no tempo (ou coisa que o valha), algo tão raro em nossa combalida safra nacional de filmes.
Dito isto, é necessário salientar que nem somente de propostas interessantes, boas ideias ou muita força de vontade fazem um bom exemplar nas telonas. Existe todo um conjunto de fatores que acabam determinando se o filme terá minimamente a qualidade indispensável para figurar entre o que é aceitável pelo público ou se chegará próximo do fiasco total. Com isso em mente, temos o filme "Perdida"...
(curiosidade: a ilustração de capa da edição encadernada do livro que a protagonista quer editar é de autoria do desenhista e roteirista de quadrinhos Vitor Cafaggi)
Pela sinopse acima, vem à mente as inúmeras adaptações cinematográficas de "Um Ianque Na Corte Do Rei Arthur" (escrito por Mark Twain). Nada contra. Bem feitinho, até arroz e feijão vira um prato apetitoso (e "o melhor tempero para a comida é a fome", né?). E pensar que o roteiro de Luiza Shelling Tubaldini, Katherine Chediak Putnam, Karol Bueno e da própria Carina Rissi (autora do livro homônimo ao filme, com colaboração de Rod Azevedo e Chris Tex, dentre outros) tem um material bem sucedido, com milhões de exemplares vendidos (no Brasil e no exterior) em mãos mas não consegue realizar uma adaptação que agrade tanto a imensa legião de fãs do livro em questão quanto àquelas pessoas incautas que nunca ouviram da obra literária é de um absurdo que não dá para conceber.
(o roteiro tem duas boas sacadas quando traz referências bem sutis à cultura POP - uma sobre "De Volta para o Futuro - Parte 2" e outra, talvez involuntária, à série animada "Cavalo de Fogo")
A direção é (inacreditavelmente) dividida entre TRÊS profissionais - Katherine Chediak Putnam, Dean W. Law e Luiza Shelling Tubaldini -, algo incomum até em filmes estrangeiros, maior fonte de inspiração desta película. E, mesmo assim, NENHUMA tomada apresenta um resultado razoavelmente satisfatório em relação à dinâmica de cena, timing de diálogos, ou mesmo, vejam só, ambientação (vocês só tinham UM trabalho!). É tudo muito "jogado", como se não fosse necessário explicar nada do que está ocorrendo - e, mesmo assim, com uma morosidade narrativa que dá sono (ou dó).
(não é possível que o cinema brasileiro não seja capaz de realizar uma agradável aventura misturada com romance, recheada de momentos divertidos e bem encenados... Talento temos de sobra e "viralatismo" não é mais desculpa desde os tempos de "Carlota Joaquina" - de 1995 - que fez sucesso com dinheiro de troco do pão)
O restante do elenco vai de correto - como Bruno Montaleone (um mocinho monotônico, torturado pelo passado mas de bom coração) ou Nathália Falcão (que aparentemente só serve para dizer o óbvio e estar em todas as cenas com um singelo sorriso no rosto) - à completamente dispensáveis - como Bia Arantes (uma espécie de integrante colonial das "Meninas Malvadas", que não se sabe direito por que está contra a mocinha, na verdade, é tão irrelevante que nem importa) ou, ainda, Lucinha Lins (outra "vilã", que poderia até ser um bom alívio cômico mas claramente desistiu de achar um caminho dramático viável para "fazer o seu" e pagar aquele aluguel bonito no fim do mês - sinceramente, errada não tá...) ou, quem sabe, Hélio de la Peña (num estranho papel sério e sem a menor importância na trama - de quem foi essa ideia de chamar o eterno "Seu Casseta" para essa furada?!). Sérgio Malheiros aparece quase no fim da trama, como um par romântico e só...
Visualmente, "Perdida" é um filme paupérrimo - apesar de não ser uma produção de baixo orçamento. Utilizando bastantes locações reais - que, em mãos habilidosas, seria um acerto -, optou-se também por contar com uma iluminação "falso-realista", simulando ambientes aclarados por velas ou mesmo pela luz da lua, gerando um estranhamento óptico, como se fosse algo feito para novelas (da TV Record). Para usar um exemplo mais concreto, lembre-se de como eram iluminadas as cenas da novela "A Padroeira" (TV Globo). Além disso, algumas tomadas tem problemas de divisão espacial, onde tem muita gente mas tá todo mundo meio espalhado, sabe?
Já a direção de fotografia comandada por Jacob Solitrenick (do já clássico "Durval Discos") se utiliza de grandiosas panorâmicas em algumas tomadas e até se arrisca com poucos takes angulosos para tornar essa narrativa visual minimamente palatável. A trilha sonora composta pelo quatrilho Rogério da Costa Jr., Fabiano Krieger, Lucas Marcier e Gustavo Salgado "não infrói nem contribói". Está lá mas não registra nem impacta - quase imperceptível, na verdade.
"Perdida" pode até agradar a fãs do livro (será?) por trazer personagens tão queridos às telonas. Mas é um "balaio de gatos" narrativo, uma tremenda bagunça, que não consegue nem ser o tal emocionante "filmão" de romance água-com-açúcar, muito menos uma tresloucada aventura com toques de conflito social e de valores. Na verdade, é bem sem sal... Esse filme não poderia errar tanto - e isso é realmente lamentável. Assista e tire suas próprias conclusões.
Pode não parecer mas Kal J. Moon ainda torce pelo sucesso do cinema brasileiro. Ele só briga com quem ama de verdade...
Em todo o site, deixamos banners de sugestões de compra geek, mas você pode nos ajudar fazendo uma busca através destes links, e deste modo poderemos continuar informando sobre o Universo Nerd sem clickbaits, com fontes confiáveis e mantendo nosso poder nerd maior que 8.000. Afinal, como você, nós do portal Poltrona POP já éramos nerds antes disso ser legal!