Dirigido por Benjamin Renner - com codireção de Guylo Homsy -, o simpático longa animado "Patos!" equilibra bem a difícil tarefa de entreter e entregar uma importante mensagem para pais e filhos, sem ser algo pedante...


Pat(h)os!
Já aviso: a criançada vai adorar essa animação! É colorida, com personagens bastante expressivos, momentos certos de ~"fofurice" e bastante humor, agradando toda a família - uma vez que o assunto principal da história emula bem os perrengues de quem já sofreu numa longa viagem...

Na trama, a família (de patos) Lopatos (Mallard, no original) está um pouco refém da rotina. Enquanto Mack, o pai, se contenta em manter sua família segura nos arredores de um lago da Nova Inglaterra para sempre, Pam, a mãe, está ansiosa para agitar as coisas e mostrar a seus filhos – o adolescente Dax e a patinha Gwen - o quão grande o mundo é. Quando uma família de patos migratórios aterrissa no lago com histórias emocionantes de lugares distantes, Pam convence Mack a embarcar numa viagem em família, via Nova York em direção à Jamaica tropical. Mas conforme a família Mallard segue seu trajeto para passar o inverno no sul, o detalhado plano de viagem deles começa a dar MUITO errado... 


Pelo resumo acima, mais parece uma mistura de "Férias Frustradas" com "Depois de Horas", certo? Talvez tenha sido esse mesmo o objetivo do roteiro escrito por Mike White (da cultuada série "The White Lotus" mas também de "Emoji - O Filme"), criar situações beirando o absurdo mas razoavelmente plausíveis para que ambos os públicos (infantil e adulto) consiga se identificar e apreciar a "viagem".

"Patos!" acerta mais do que erra. Mas, mesmo quando "se desvia da rota" (como num inesperado momento de suspense e terror), não demora muito em retornar ao objetivo da trama - o que acaba compensando a "correria" do roteiro, trazendo um caráter de urgência aos pouco mais de uma hora e vinte minutos de exibição. Se insistisse nos erros, sairia algo como o esquecível "Cegonhas"...


Mostrar em alguns momentos, ainda que de relance, alguma luz sobre um casal enxergando formas de sair da mesmice em seu casamento (com alguém cedendo para que outrem possa ser feliz) ou valorizar a participação de filhos em importantes decisões familiares ou, ainda, que a crença em gurus pode levar à perdição (essa cena é muito boa) é um achado, mesmo que tudo isso seja feita de forma bem palatável para não afastar a audiência - a mensagem está lá, basta se aprofundar depois. O único porém é mesmo a "pressa" em criar um desnecessário gancho para continuação na cena final do filme, já deixando no ar qual será a próxima viagem da família Lopatos...

Os detalhes técnicos são realmente impressionantes. A começar pela caracterização visual de cada personagem (comandada por Nadya Mira), representando tipos diferentes de patos e outras aves - como araras e garças -, porém se atentando a diferentes personalidades para cada uma delas.


É mais ou menos como ver uma atualização digital para lay-outs clássicos de animadores como Chuck Jones e Tex Avery. Uma animação muito bonita de se assistir, graças também à ágil direção da dupla Benjamin RennerGuylo Homsy. A trilha sonora de John Powell é interessante porém nada marcante. Funciona e só.

Sobre o elenco de voz original - composto de nomes como Kumail Nanjiani, Elizabeth Banks, o estreante Caspar Jennings, Tresi Gazal, Awkwafina, Carol Kane, Keegan-Michael Key, David Mitchell e até o veterano Danny DeVito -, não será possível fazer uma análise, uma vez que assistimos a versão dublada em português.


Quando nos atemos ao quinteto principal da família Lopatos - dublado por Sérgio Stern, Priscila Amorim, Melinda Saide, Sam Villeti e Ary Fontoura -, o destaque é a "sintonia cômica" com diversos "bate e rebate" bem feitos e como as vozes "casam" com as personagens e suas diferentes personalidades. O veterano Marco Ribeiro também aparece brevemente e segura bem sua personagem, porém com menor destaque. 

Dentre os star talents - com exceção de Fontoura, que está bem funcional -, Cláudia Raia não consegue segurar "por muito tempo" a voz de "idosa mórbida" que sua personagem pede (porém isso não atrapalha a experiência). A grata surpresa fica para Dany Suzuki - que dubla a invocada pomba Lelé -, que faz algo completamente oposto do que se está acostumado quando se reconhece a voz da atriz, um tom meio rascante e irritadiço, "casando" bem com a proposta das situações apresentadas.


O destaque "negativo" - por falta de palavra melhor - é mesmo Henrique Fogaça, que ~"interpreta"... um chef de cozinha. O problema é o personagem apenas... grunhe - não tem nenhuma frase, somente rugidos. Poderia contratar qualquer dublador para fazer o papel! E, visualmente, aparenta mais uma versão mais musculosa do cantor e compositor Zeca Baleiro...

(o real problema de se contratar star talent para fazer alguma participação especial em dublagem é que, na grande maioria das vezes, a celebridade não agregará valor à obra audiovisual pois serve apenas de "verba de marketing" para que a mesma divulgue em suas redes sociais um longa animado que a distribuidora não tem certeza que terá boa bilheteria sem alguma exposição na mídia - pelo menos, depois da imensa reclamação com Marcos Mion dublando Buzz Lightyear, estão contratando star talent mais para participações especiais, que não vão tirar o trabalho de dubladores profissionais... mas receberão muito mais que estes por bem menos tempo de trabalho)


"Patos!" entrega tudo o que promete nos trailers e é uma divertida 'Sessão da Tarde' para assistir em família. Entretém e traz alguma reflexão sem precisar de sermão ao fim da jornada, respeitando a audiência - não importa a idade...



Kal J. Moon adoraria "sair voando por aí" - como diria o 'Demônio da Gritaria' - para a Jama... a Jamu... Ah, comer banana...

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