O filme "O Brutalista" tem se destacado no cenário cinematográfico, recebendo aclamação da crítica e do público desde seu lançamento internacional. O longa foi consagrado como Melhor Filme no Globo de Ouro, uma das premiações mais importantes do cinema, e tem gerado debates acalorados sobre o uso de Inteligência Artificial para aprimorar as atuações, embora o tempo de tela que se beneficiou desse recurso seja relativamente pequeno.

A narrativa acompanha a jornada do arquiteto húngaro Laszlo Thoth (Adrien Brody) ao imigrar para os Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial. O filme explora seus desafios, ambições e as dificuldades de adaptação em um novo país. Thoth é famoso na Europa pelo seu trabalho no estilo de arquitetura brutalista, surgido após a Segunda Guerra Mundial, caracterizado pelo uso de concreto aparente, formas geométricas simples e ênfase na funcionalidade. O termo "brutalismo" deriva da expressão francesa "béton brut", que significa "concreto bruto" e buscava inovação e ruptura com os estilos tradicionais.


Apesar de uma premissa intrigante, o destaque deste filme reside não em sua trama inovadora, mas na combinação de elementos que o tornam memorável. O roteiro, primorosamente construído por Brady Corbet em colaboração com Mona Fastvold (conhecida por O Sonâmbulo), tece diálogos perspicazes e sequências que transcendem a ação superficial. Através de olhares e desconfortos sutis entre os personagens, pistas são habilmente dispostas, revelando uma narrativa que se desenrola nas entrelinhas. A trama, embora ordinária em sua essência, adquire nuances e profundidade por meio dessa rica subtextualidade. Contudo, o filme revela uma fragilidade em sua espinha dorsal narrativa, apoiando-se em um evento inesperado para gerar o conflito necessário à resolução da trama. A utilização do recurso "Deus Ex-machina" para criar tensão demonstra uma solução simplista que compromete a coesão da narrativa.

O elenco do filme desempenhou um trabalho incrível. Adrien Brody, no papel de László Toth, entrega uma performance magistral. O ator, conhecido por sua entrega física e emocional aos papéis, captura a essência de um homem atormentado por traumas do passado e desafiado pelas expectativas do futuro. Sua interpretação é carregada de melancolia e fúria contida, transmitindo a luta interna de um artista que busca desesperadamente por reconhecimento e aceitação. Brody nos leva a sentir a dor, a frustração e a paixão de Toth, em uma atuação que certamente ficará marcada em sua carreira.

Felicity Jones, como Erzsébet Toth, a esposa e musa de László, complementa a atuação de Brody com uma força silenciosa e um olhar expressivo. Sua personagem - que faz sua primeira aparição após quase duas horas de filme -, é a âncora emocional do filme, representando a estabilidade e o amor em meio ao caos e à turbulência da vida do protagonista. Jones transmite a complexidade de uma mulher que ama e apoia seu marido, mas que também possui suas próprias ambições e desejos. Sua atuação é sutil, mas poderosa, e sua química com Brody é inegável.

Guy Pearce, no papel de Harrison Lee Van Buren Sr., o rico industrial que se torna o mecenas de Toth, entrega uma atuação cativante e enigmática. Seu personagem é um homem de poder e influência, com um passado misterioso e uma aura de mistério. Pearce equilibra charme e ameaça, criando um personagem complexo e fascinante. Sua interação com Brody é carregada de tensão e desconfiança, e o jogo de poder entre os dois é um dos pontos altos do filme.

O trio de atores principais de O Brutalista brilha em cena, entregando performances que ecoam a alma do filme, tendo sido os três indicados ao Oscar deste ano. Cada um, à sua maneira, contribui para a riqueza e a complexidade da obra, elevando-a a um novo patamar.


O Brutalista
destaca-se também pelo uso do sistema VistaVision, um formato de filme widescreen de alta resolução criado em 1954, criado como resposta ao CinemaScope, outro formato widescreen popular na época. Enquanto o CinemaScope usava lentes anamórficas para comprimir a imagem na película e depois expandi-la na projeção, o VistaVision utilizava um método mais simples, apenas rodando o filme horizontalmente na câmera. A tecnologia proporcionou uma qualidade de imagem e uma estética clássica, contribuindo para a imersão do público e a autenticidade da narrativa. A direção de fotografia foi realizada pelo cineasta Lol Crawley (The OA, Black Mirror, Ruído Branco), traz iluminação e enquadramentos impressionantes, com movimentações de câmera inspiradas e ousadas, resultando em merecida indicação ao Oscar de Melhor Fotografia.

Daniel Blumberg compôs a trilha sonora original, também indicada ao Oscar deste ano, traz temas singelos, porém bastante sólidos, trazendo a atmosfera perfeita para as cenas. Se há ternura, as músicas adicionam ainda mais beleza, se há tensão, ela torna tudo ainda mais atormentador. Blumberg trabalhou em Um Fascinante Novo Mundo, de 2020, filme dirigido pela co-roteirista de O BrutalistaMona Fastvold.O som também foi muito bem trabalhado e tem destaque na produção.

O editor de Fúria Primitiva (2024) e Pedaços De Uma Mulher (2020), Dávid Jancsó, recebeu sua primeira indicação ao Oscar pela edição de O Brutalista. Apesar da duração bem longa, 3 horas e 34 minutos, o corte final tem poucas cenas dispensáveis, especialmente pela beleza capturada pela fotografia primorosa de Lol Crawley.

O cuidado da direção de arte com os cenários do filme, especialmente da obra que o personagem título está incumbido de realizar, também é arrojado, e também indicado aos Academy Awards. Até por ser uma das características do estilo brutalista, o cenário é minimalista, criando uma sensação claustrofóbica quando mostrados em tela. Sensação parecida com a que tive ao assistir o longa A Substância, rival de O Brutalista em diversas categorias do Oscar, incluindo Melhor Filme. Convido-te a ler a excelente crítica de Kal J. Moon de A Substância. Na produção que traz Demi Moore como protagonista, temos o uso de espaços liminares e cenários minimalistas que também criam uma "quase" insuportável sensação de isolamento e opressão, semelhante a que temos em O Brutalista, opção explicada ao final do terceiro ato, em discurso revelador e excelente.

Com seis créditos anteriores à O Brutalista, Brady Corbet dirigiu um filme desafiador. A obra ecoa a força e a crueza do estilo arquitetônico que a inspira. O filme, muito mais do que uma mera biografia ficcional, é uma imersão profunda na alma de um artista atormentado, confrontado com as complexidades da criação e as contradições de um mundo em transformação. Corbet, com maestria, evoca a atmosfera do brutalismo através de uma estética austera e impactante. Ele conduz a narrativa com ritmo preciso, alternando momentos de contemplação e de tensão dramática, sem jamais perder o foco na jornada interior do protagonista. O cineasta extrai atuações viscerais de seu elenco.

O Brutalista não é um filme fácil, nem complacente. É uma obra que exige do espectador entrega e reflexão, que o convida a questionar seus próprios valores e a confrontar a beleza e a brutalidade que coexistem no mundo. Brady Corbet, com sua visão singular e corajosa, nos presenteia com um filme inesquecível, que apesar de trazer uma história nada extraordinária, ecoa em nossa mente muito tempo após os créditos finais pela beleza daquilo que foi mostrado em tela. Impressiona e emociona, mas merecia um roteiro melhor.



Marlo George assistiu, escreveu e é um bruto

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