Subscribe Us

CRÍTICA [CINEMA] | "Quarteto Fantástico - Primeiros Passos", por Kal J. Moon

Dirigido por Matt Shakman, estrelado por Pedro Pascal, Vanessa Kirby, Ebon Moss-Bachrach e Joseph Quinn, com participação especial de Julia Garner, Paul Walter Hauser, Natasha Lyonne, Sarah Niles e Ralph Ineson - dentre outros -, o filme “Quarteto Fantástico - Primeiros Passos” é a prova de que a Marvel voltou.... ao básico. E não é que isso, surpreendentemente, é ótimo?

Juntos novamente pela primeira vez (a quarta vez é pra dar sorte!)
Tente se lembrar quando foi a última vez que a Marvel Studios entregou um filme muito bom, daqueles que deu gosto de pagar o caro preço do ingresso? Agora, sinceridade: esse filme conversava com a imensa legião de fãs... dos quadrinhos? Se sua resposta à segunda pergunta foi “não”, bem, é hora de sorrir pois “Quarteto Fantástico - Primeiros Passos” é um gigante pedido de desculpas a quem conhece de cor as desventuras desses "desafiadores do desconhecido" (ops!) criados pelo rei Jack Kirby (1917-1994) e o competente roteirista Stan Lee (1922-2018).

Na trama, a Primeira Família Marvel - Reed Richards / Senhor Fantástico, Sue Storm / Mulher Invisível, Johnny Storm / Tocha Humana e Ben Grimm / Coisa  - enfrenta seu maior desafio até agora pois além de serem forçados a equilibrar seus papéis como heróis e a força dos laços familiares, também devem defender o planeta Terra de um perigoso deus espacial chamado Galactus e sua enigmática arauta conhecida apenas como Surfista Prateada

O roteiro de Josh Friedman (de "Avatar - O Caminho da Água") e Jeff Kaplan (do obscuro "The Last of the Great Romantics") explora não somente a dinâmica super-heroica da Primeira Família Marvel como também lhe traz um problema tão grandioso que, talvez, não consigam resolver. E fazer isso de forma básica, mas reverenciando o que foi pré-estabelecido em centenas de milhares de histórias, é o maior acerto da produção pois prova que, além de fazer o dever de casa, quem o fez se apaixonou pelo projeto. E ainda trata de temas importantes como paternidade (quem é pai ou mãe, certamente vai entender as motivações do casal Sue e Reed), ética e aceitação.

Não, o roteiro do novo filme baseado em personagens da Casa das Ideias não vai revolucionar a História dos filmes de supers - nem muito menos nos fará esquecer do “jeito Marvel” de fazer esse subgênero da ação / aventura (as piadinhas sem graça ainda estão lá!). Mas abdicar de “facilitar” a narrativa e trazer um sci-fi hardcore às massas é um feito para aplaudir de pé, igreja!

Mesmo assim, o roteiro não tenta - e nem quer - inovar a ponto de transgredir a imagem do Quarteto Fantástico que fãs de quadrinhos (ou não) já têm em seu imaginário coletivo. Pega uma outra versão da Surfista Prateada mas equilibra com uma melhorada na personalidade de Johnny Storm e Sue Storm (ambas já haviam sido mudadas no filme de 2015 e o filme parece ter se inspirado lá)...

(e tem muitas referências visuais - e textuais - a diversos quadrinhos como a capa de Action Comics 1 - primeira aparição de Superman -, uma rápida cena remete a um trecho da graphic novel "Surfista Prateado - Parábola", um pouquinho do que foi explorado em "Marvels" - principalmente no que se refere ao visual do Coisa - e uma breve ação de Reed Richards lembra algo bem questionável que Batman fez em "Reino do Amanhã" -, além do fato de que a tecnologia criada por Richards mudou O MUNDO INTEIRO - semelhante ao que acontece com os Estados Unidos após o surgimento de Dr. Manhattan na clássica minissérie em quadrinhos "Watchmen" -, dentre algumas outras)

Porém, o roteiro tem duas escorregadelas: uma, perto do final, há uma cena em que, claramente, o ambiente está numa temperatura mais baixa e o bebê de Sue Storm está muito desagasalhado e com a cabeça descoberta - mostrando que pode ter sido feita durante uma das refilmagens - e outra, quando Reed Richards conclama um esforço mundial de economia de energia elétrica mas todo mundo no planeta acompanha o que o Sr. Fantástico vai fazer... pela televisão. É detalhe e somente olhos mais atentos perceberão...

Quase tudo no filme funciona como deve. Visualmente, a obra é um desbunde. Parece espelhar inspirações em ilustrações da “era atômica” e de pintores que retratavam o tal “retrofuturismo” que todo mundo têm repetido ad nauseam (a internet descobre uma palavra "nova" e reverbera como se fosse a revolução não-televisionada...). É um mundo que está estabelecido e centrado nos anos 1960 - e, não, não é o universo regular do universo cinematográfico Marvel mas, sim, uma Terra paralela (828 - fique até o final dos créditos que será explicado o motivo desse número específico).

A atuação dos protagonistas é o que chama a atenção - que demonstra uma boa direção de Matt Shakman (de "Game of Thrones", "The Boys" e "WandaVision"). Todos os quatro personagens tem momentos de destaque - ainda que não exatamente da forma como o grande público espera (até o bebê está bem no filme!).


E essa é a principal ~“crítica” ao filme: é mais provável que agrade mais à fãs de quadrinhos do que ao neófito - não que seja um filme difícil de entender ou com teorias que desafiam a plateia mas é uma obra que explora temas sci-fi e pode soar ~"chato" (por falta de palavra melhor) a quem não é afeito a esse tipo de história. Nesse sentido, "Superman" é um filme com um roteiro de menos qualidade mas, em contrapartida, conversa com a maioria do público - principalmente aquele que nunca vai pegar numa história em quadrinhos...

Na questão de efeitos visuais, o filme acerta mais do que erra. Grande acerto: Coisa. É impressionante como é orgânico sua movimentação e expressões faciais! Grande problema: para resolver no futuro: Tocha Humana, Surfista Prateada e... Galactus. Enquanto que com o “gentil gigante de pedra” existe a impressionante conexão com o ambiente, os restantes alcançam resultados medíocres (como o "fogo falso" do Tocha Humana e o cabelo e os olhos da Surfista Prateada) - dos três, apenas Galactus não causa estranheza (mas parece igualmente irreal). Mas ver a Surfista Prateada "surfando" de fato em algumas cenas de batalhas é algo bem interessante.

Todo o design de produção de Kasra Farahani (da série Marvel "Loki"), aliado ao figurino de Alexandra Byrne (vencedora do Oscar por seu trabalho em "Elizabeth - A Era de Ouro") e à direção de fotografia de Jess Hall (da já citada série Marvel "WandaVision") com a edição da dupla Nona Khodai & Tim Roche (ambos também de "WandaVision", que devem ter pego um abacaxi para descascar com a saída do personagem de John Malkovitch da trama -  que filmou suas cenas mas foi limado na ilha de edição) faz com que tudo ao redor seja muito crível dentro de sua ~“fantasticabilidade” - assim como a bem resolvida edição de som de Matthew Wood (da série "Skeleton Crew").

(tem uma cena específica em que edição, diálogo e trilha sonora convergem e "conversam", gerando algo único - preste atenção quando alguém disser a palavra "força")

E o que falar da trilha sonora composta pelo maestro Michael Giacchinno?! Assim como sua melhor obra (a do longa animado “Os Incríveis”, claro!), é feita com muito esmero, não somente para evocar esse ar “sessentista” mas também para engrandecer cenas de suspense - deixando a audiência na ponta da poltrona em pelo menos duas cenas - e até algum temor pelo que vem em seguida. Ao lado do trabalho musical que foi feito em “Pecadores”, certamente estará nas vindouras premiações.

Imagine um filme perfeito do Quarteto Fantástico... "Os Incríveis", né? Agora, imagine chegar perto daquilo, fazendo mais parecido com aquelas historinhas "bobas" (e maravilhosas!) do Kirby e do Lee - num universo à parte, sem intromissão do universo regular da Marvel no cinema... Lembra quando terminamos de assistir o primeiro "Homem de Ferro" e nos admiramos que, talvez, era o começo de uma era? Esse filme chega bem perto dessa sensação. Pois é.


E se o filme do Stark que "tira onda de cientista espacial" serviu como base de diversos filmes da Casa das Ideias, talvez esse filme do Quarteto Fantástico sirva não como planta baixa - no sentido de seguir a fórmula exata para replicar - mas, claro, dependendo da bilheteria, para produzir obras que tenham mais semelhanças com as histórias em quadrinhos originais e honrar os criadores desses personagens que atravessam décadas encantando crianças de todas as idades.

E por mais estranho que seja admitir, a Marvel Studios voltar ao básico, contar uma história reta mas com uma abordagem única fez a diferença, de forma a fazer a audiência querer ver esses personagens (e esse novo universo!) de novo... “Quarteto Fantástico - Primeiros Passos” mostra que, às vezes, o plano mais simples é, também, o mais efetivo. Esse filme não é perfeito mas foi feito com carinho pensando em te agradar, fã de quadrinhos - aproveita que não é todo dia que isso acontece. Quem não está curtindo o filme, certamente não leu a "palavra" da nona arte. Vá assistir na melhor sala de cinema que puder.

(sim, seguindo a tradição, tem duas cenas pós-créditos: a primeira é exatamente o que o público espera que seja - e, claro, tem ligação com o futuro filme "Avengers - Doomsday" - e a segunda é uma espécie de "explicação visual" de uma piada recorrente do roteiro)


Kal J. Moon tem uma filha, também acha que fica melhor de barba, é o cara mais inteligente da rua onde mora e gostaria de ficar invisível para fugir de suas dívidas...

Em todo o site, deixamos banners de sugestões de compra geek, mas você pode nos ajudar fazendo uma busca através destes links, e deste modo poderemos continuar informando sobre o Universo Nerd sem clickbaits, com fontes confiáveis e mantendo nosso poder nerd maior que 8.000. Afinal, como você, nós do portal Poltrona POP já éramos nerds antes disso ser legal!