Perucas e cabeleiras esvoaçantes, muito laquê, roupas extravagantes, climão Disco e cara-de-pau em demasia. Estes são os temperos desta verdadeira salada oligofrênica chamada Trapaça.

O exagero pauta a trama deste novo filme de David O´Russell, que após O Lado Bom da Vida, filme que explora o dualismo da esquizofrenia (e lhe rendeu oito indicações e um Oscar, de Melhor Atriz para Jennifer Lawrence), decidiu se meter no roteiro de Eric Warren Singer e perverter aquele que deveria ser um filme biográfico sobre o "trapaceiro" Melvin Weinberg. Acontece que o filme baseado no roteiro de Singer sequer seria dirigido por O´Russell, que quando assumiu a produção decidiu revisar o roteiro e fazer "sutis" mudanças no script, tornando um filme que nunca saberíamos se seria um clássico ou não em um longa premiadíssimo, com chances reais de levar o Oscar deste ano.
Em Trapaça encontrei tudo que mais preso e considero indispensável em um clássico do cinema.
Trapaça exagera na tinta em todos os aspectos. O roteiro é tão ramificado que pode se tornar confuso, caso ocorra uma mínima distração por parte da platéia. O ritmo é frenético, gostoso de acompanhar. Os atores, apesar de beirar o overacting, não estão canastrões e são, apesar do figurino espalhafatoso, críveis e humanos. Em Trapaça encontrei tudo que mais preso e considero indispensável em um clássico do cinema.

Jennifer Lawrence arrebentou em Trapaça.
Se muita gente (eu incluso) reclamou da vitória de Jennifer Lawrence, sobretudo sobre Emmanuelle Riva, de Amor, no Oscar do ano passado, este ano estas mesmas pessoas não poderão repetir a dose em crucificá-la. A menina cresceu e se tornou, realmente, uma estrela de primeira grandeza. Sua personagem, Rosalyn Rosenfeld, é um papel difícil de interpretar sem cair na caricatura, uma vez que a própria persona Rosalyn é uma caricatura de si própria. Uma pena que ela, Lawrence, ainda esteja presa, por pelo menos dois filmes, à franquia Jogos Vorazes. Ela merece papéis muito maiores que os de heroínas em blockbusters.

Bradley Cooper, que é um dos produtores executivos do filme, está bem no filme e chegou a ser indicado ao Globo de Ouro, porém, o melhor ator coadjuvante deste longa é de longe Jeremy Renner, na pele do prefeito Carmine Polito.

— Joguei a chapinha fora. Aderi ao bobe...
Linda e convincente em Trapaça está Amy Adams. Se levar o Oscar (o que pode não acontecer, pois sua concorrente direta, Cate Blanchett, deve levar o "careca dourado" por Blue Jasmine) será merecido. Amy, que para mim não estaria em seu melhor momento, após sua nada inspirada performance como Lois Lane em O Homem de Aço, ressurge das cinzas (ou melhor dizendo, das lantejoulas) segurando firme a mão de uma personagem ao mesmo tempo forte e fraca, brilhante e fosca. Maravilhosa...

Não disse que a coisa é exagerada.
Christian Bale conseguiu, com mérito, se livrar da imagem do galã e milionário Bruce Wayne com Irving Rosenfeld. Eu só não senti nada pelo seu personagem. Acho que, apesar do trabalho soberbo, faltou algo, talvez alma. A conexão que geralmente faço com os protagonistas dos filmes que assisto acabou não ocorrendo.

Finalizando, não há vilões e heróis neste filme. Há oportunidade. Em Trapaça vemos uma Lei de Gerson à moda Americana. "O que importa é levar vantagem em tudo", poderia ser a "moral" desta estória.

     Avaliação: Excelente.

Marlo George assistiu, escreveu e acha legal saber que o público ande aberto à assistir versões exageradas de suas próprias mazelas.



Título: Trapaça (American Hustle)
Data de Lançamento: 07 de fevereiro de 2014
Diretor: David O´Russell
Roteiro: Eric Warren Singer, David O. Russell
Elenco: Christian Bale, Amy Adams, Bradley Cooper, Jennifer Lawrence, Jeremy Renner
Gênero: Crime, Drama

Sinopse: O FBI se une à casal criminoso para armar um flagrante em políticos e mafiosos de Nova Jersey.