Dirigido por Zach Braff e com um elenco oscarizado com nomes como Michael Caine, Morgan Freeman e Alan Arkin, a comédia "Despedida em Grande Estilo" ('Going in Style') mostra os problemas enfrentados por aqueles que estão na assim chamada ~'melhor idade'.
Joe (Morgan Freeman), Willie (Michael Caine) e Al (Alan Arkin)
tem o álibi perfeito. O que pode dar errado? (Divulgação)

Sobre  amizade, honra e (falta de) respeito
Se tem algo que sempre chama a atenção em filmes de comédia é a falta de desenvolvimento de personagens em meio à situação pitoresca que são submetidos. Sorte dos espectadores que "Despedida em Grande Estilo" não sofre desse mal pois todas as desventuras apresentadas nesta divertida história são perfeitamente críveis - exceto por um detalhe na cena durante a tentativa de assalto a um mercadinho que deixamos passar porque tudo estava tão bacana que não estraga a experiência.

Na trama, Willie (Caine), Joe (Freeman) e Al (Arkin), três amigos aposentados desesperados para pagar as contas - e não decepcionar aos que amam - quebrar a rotina pela primeira vez em suas vidas quando o dinheiro de seus fundos de pensão desaparece.
Willie (Caine) e Joe (Freeman) fogem
após tentativa de assalto a um mercadinho (Divulgação)

O roteiro de Theodore Melfi - dos bacanas "Um Santo Vizinho" e "Estrelas Além do Tempo" - explora situações limítrofes onde os protagonistas não tem outra opção a não ser reagir da melhor forma que podem. Existem prazos a serem cumpridos, honras a serem defendidas e pontos de vista a serem considerados. É virtualmente impossível não se identificar - e não se enfurecer - com o que ocorre aos protagonistas, visto que situação semelhante acontece aqui no Brasil bem debaixo de nossos olhos (e ninguém faz nada a respeito). É como um retorno aos valores que faziam mais sentido a homens que passaram por muito nessa vida e que não querem mais serem vítimas das circunstâncias. E ainda tem as várias referências à cultura pop, que vai de filmes à seriados como Titanic, Onze Homens e um Segredo - o original -, Breaking Bad, Supernatural e até mesmo Scooby-Doo - e esta última faz até sentido em relação ao grande mistério da trama...

(Vale lembrar que este filme é um remake do filme homônimo de 1979, dirigido por Martin Brest e estrelado por George Burns, Art Cagney e Lee Strasberg, ok?)

Melfi - que também é diretor de cinema - fez bem ao ficar afastado do comando e passar o bastão a Zach Braff, que trouxe um ritmo e um timing impressionante, algo essencial em comédias. Porém, o roteiro e a condução da trama estabelecem um raro equilíbrio entre humor e drama, onde simpatizamos com o suplício das personagens desde a primeira cena até seu surpreendente final.
Nossos "heróis" pedem auxílio a Jesus (John Ortiz)
para planejar o assalto (Divulgação)

O elenco está afiado, com óbvio destaque ao trio principal. Michael Caine faz o líder, que tem a ideia do assalto e convence seus amigos a participarem da empreitada. Morgan Freeman deixa de ser o velho sábio - finalmente - para se tornar alguém que sofre por conta da distância da família e um problema de saúde que esconde de todos. Alan Arkin ainda é o velho rabugento de sempre, reclamando a cada instante, porém com frases tão impactantes que é impossível não rir de cada uma delas... E, acima de tudo, a amizade dos três é mais forte do que os pesares que passam.

Destaque também às participações de Ann-Margret - como a senhora fogosa que tem uma queda por Al (Arkin), rendendo cenas bem interessantes e esbanjando a beleza que a fez brilhar desde os tempos da ópera-rock "Tommy" -, Josh Pais - como um medroso gerente de banco -, o sempre engraçado Kenan Thompson - que faz um gerente de um mercadinho onde o bando tenta realizar o primeiro assalto - e o veterano Christopher Lloyd, que interpreta um senil senhor que vive num abrigo para idosos.
Ann-Margret, Christopher Lloyd, Kenan Thompson e Josh Pais:
hilárias participações especiais (Divulgação)

Merece menção a trilha sonora incidental orquestrada por Rob Simonsen (que fez a espetacular trilha de "Pequena Miss Sunshine"), com um toque de jazz, bem próprio do que era feito em filmes de assalto dos anos 1970. E também o trabalho de edição que trouxe frescor e dinamismo à história, provando que existem outras formas de contar uma trama simples de forma objetiva mas sem ser tão direta e "fácil", desafiando os neurônios de cada espectador.

Divertido, coerente, emocionante. "Despedida em Grande Estilo" é o tipo de filme que traz conforto à alma dos espectadores por sua trama simpática, mostrando que ainda é possível se divertir e refletir sobre a situação que o mundo está criando às pessoas que já trabalharam demais mas não recebem o que lhes é devido. Cada um merece sua fatia da torta. Sempre.


Kal J. Moon saiu do cinema, verificou as câmeras de segurança e agiu discretamente...