Estrelado por Oscar Isaac, Ethan HawkeMay Calamawy, "Cavaleiro da Lua" tenta transpor o super-ser dos quadrinhos da Marvel Comics para a telinha no intuito de provar que o personagem é muito mais do que "o Batman da Marvel". 

Os deuses jogam areia nos olhos do Universo (Marvel)...
Assistir a primeira temporada da minissérie (ou, depois da cena pós-créditos do último episódio, o seriado?) "Cavaleiro da Lua" é uma verdadeira tortura durante os primeiros três episódios. Depois, dá uma melhorada. Daí, piora de novo. Até chegarmos ao final e decidirem deixar pra resolver tudo depois... Pois é.

Na trama, Steven Grant (Isaac), um pacato atendente de museu e estudioso da arqueologia egípcia, tem problemas de insônia e, numa noite, descobre que está se divorciando de uma bela mulher (Calamawy) mas se vê enredado numa teia de conspiração com um fanático religioso (Hawke) que o quer morto. Não, não é bem isso... Na verdade, Marc Spector (Isaac), um ex-agente da CIA, recebe uma segunda chance de vida do deus egípcio Khonshu, que canaliza o poder da lua para se tornar seu avatar na Terra - mas pode ter sido responsável pelo assassinato do pai de sua esposa (Calamawy). Não, também não é isso. Agora vai: Marc Spector (Isaac) sofreu um grande trauma na infância e... É isso TAMBÉM mas... Entretanto, Marc Spector (Isaac) provavelmente é um paciente de uma clínica psiquiátrica onde acredita ser um super-herói egípcio que combate um fanático religioso, que, na verdade, seria o médico que conduz seu tratamento e... Ah, desisto!

Se não dá para tentar ao menos descrever um simples plot deste produto audiovisual, a trama é mais simples do que se imagina, mas propositalmente complicada para criar na audiência a tal desorientação pela qual os personagens passam.


Criado para os quadrinhos por Doug Moench e Don Perlin em 1975, Cavaleiro da Lua nunca foi um quadrinho "fácil" de se ler, uma vez que, de quando em vez, se mudava seu status quo. Enquanto que, no início, realmente sua origem se assemelhava à do Homem-Morcego - com algumas sutis diferenças -, com o tempo passou a se explorar a psicologia de ser um personagem de múltiplas personalidades misturada a alguns elementos de terror digno da literatura pulp dos anos 1950 e 1960.

No gibi, tudo é simples e o papel aceita tudo - até o que é muito, muito ruim. Mas em televisão, há a necessidade de se criar empatia com os protagonistas para que a audiência torça (ou sinta pena) dos mesmos. E, infelizmente, isso não ocorre em "Cavaleiro da Lua", que já pode ser considerado o maior fracasso da Marvel Studios - e estamos falando dos mesmos criadores de "Era de Ultron", "Capitã Marvel" (filmes que tiveram uma grande bilheteria e ferrenhos defensores mas que, com o tempo, já se admite que não são grande coisa - muito pelo contrário).

Na verdade, é difícil de acreditar que nada menos que OITO roteiristas (Jeremy Slater, Alex Meenehan, Peter Cameron, Sabir Pirzada, Beau DeMayo, Rebecca Kirsch, Matthew Orton e Danielle Iman) e três diretores (Mohamed Diab, Justin Benson e Aaron Moorhead) não tiveram a capacidade de criar algo que tanto respeitasse a mitologia das mais de três décadas dos quadrinhos originais e, ao mesmo tempo, trouxesse aquela novidade para as novas audiências. A pergunta real é: QUEM aprovou esses roteiros da forma que foram apresentados? Essa pessoa merece uma SURRA de vara de vergalhão, vara de araçá e cabo de vassoura - e depois, banho em álcool 70%...


Embora pareça exagero, os três últimos episódios TENTAM contar a história que pretendiam desde o início mas o que entregam não é algo digno de nota. Tem lá seus momentos, como Marc enfrentando seus traumas de infância (contar mais do que isso seria estragar uma das poucas surpresas da trama) ou algumas reviravoltas bem interessantes mas muito mal-exploradas como as cenas que se passam na clínica psiquiátrica (local que leva o sobrenome de Bill Sienkiewicz, grande desenhista que trabalhou tanto nas páginas internas do gibi do Cavaleiro da Lua quanto em icônicas capas - como descobrimos ao final do último episódio). 

O elenco é muito esforçado e tira leite de pedra com o texto mal escrito que lhe entregam. O destaque óbvio é todo de Oscar Isaac, esse ator tremendamente azarado que fez duas produções POPs ("X-Men - Apocalipse" e a nova trilogia Star Wars) anteriormente e foi odiado em ambas com veemente força e violência, tanto por crítica quanto por público. Se aqui suas personagens (ou seriam "personalidades") não causam qualquer empatia com a audiência, a culpa, certamente, não é do ator, que se esforça ao máximo para entregar uma digna interpretação de duas personas completamente diferentes - curiosamente, o ator contou com a ajuda de Michael Benjamin Hernandez, seu irmão na vida real, nas marcações cênicas para realizar as cenas onde contracenava consigo mesmo.

O mesmo pode-se dizer de May Calamawy, a ex-esposa, arqueóloga, e, por fim, super-heroína (!), que, em todas as cenas que participa, parece uma personagem muito melhor elaborada no papel do que na tela. Porém, como apontado anteriormente, essa culpa a atriz não carrega pois entrega o que lhe foi dado.


Já Ethan Hawke aparenta um cansaço nada habitual para o papel. Sua abordagem até se destaca nos primeiros episódios mas se perde no mar de mesmice no decorrer da série (minissérie?), faltando-lhe uma certa estranheza que cairia como uma luva em atores como Benedict Cumberbatch ou Joaquim Phoenix, por exemplo (mas esses já estão estabelecidos como ícones da cultura POP em outros filmes). O veterano ator F. Murray Abraham desempenha bem o papel de voz original da entidade egípcia Khonshu, embora seu papel não seja lá dos mais memoráveis.

A direção de fotografia comandada por Gregory Middleton e Andrew Droz Palermo oscilam no quesito criatividade. Enquanto que nos dois primeiros episódios abusam, moderadamente, da angularidade, num resultado bonito de ver - emulando o melhor do que se pode esperar das histórias em quadrinhos -, depois vira "mais do mesmo", rendendo-se muito a efeitos especiais de menor orçamento e câmeras apenas operantes, nada mais do que isso, fazendo com que este seja um dos seriados mais pobres da Marvel visualmente falando (vindo de quem entregou o espetáculo visual "WandaVision", esperava-se algo bem mais elaborado).


Já o figurino de Meghan Kasperlik (que trabalhou anteriormente na minissérie "Watchmen") é correto e reproduz com precisão os trajes do perturbado super-herói dos quadrinhos originais. Os vestuários "civis" poderiam ser mais ousados mas, aparentemente, esse foi o produto audiovisual Marvel com menor orçamento (e, talvez, com menor aposta, feita apenas para apresentar o personagem para fazer alguma participação numa futura série ou filme).

Resumindo: "Cavaleiro da Lua" até entra na categoria "dá pra ver", mas só se for para maratonar. Assistir em capítulos semanais - como um filme de insuportáveis seis horas de duração dividido em seis partes - gera frustração pela total perda de tempo no investimento em algo que não entrega uma recompensa lá tão boa assim. Afinal de contas, "Pacificador" veio antes com a mesma ideia e não foi tão bem sucedido como andam enganando por aí... Assista e tire suas próprias conclusões.



Kal J. Moon não é uma pessoa real mas sim o amigo imaginário de alguém. Mas isso você já sabia...


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