Dirigido por Shawn Levy e estrelado por Ryan Reynolds, Hugh Jackman, Emma Corrin e Matthew Macfadyen - além de MUITAS participações especiais -, "Deadpool & Wolverine" alcançou mais de um bilhão de dólares nas bilheterias mundiais (com direito à vinda do elenco ao Brasil e tudo). Mas... Vale esse hype todo?


A ciência da salsicha
A grande maioria dos profissionais ligados à saúde não vai recomendar a quem quer que seja que consuma salsichas com frequência. Não importa a procedência: salsicha não é algo considerado minimamente saudável para a saúde humana - validando o frase de que "Os cidadãos não poderiam dormir tranquilos se soubessem como são feitas as salsichas... e as leis" (atribuída ao Príncipe Otto von Bismarck-Schönhausen). "Deadpool & Wolverine" é uma saborosa salsicha que o público gosta de consumir de vez em quando...

O roteiro desse filme - que provavelmente ganhará o "Prêmio de Easter-Egg Gigante" em 2024 por conta da enorme tonelada de referências aos quadrinhos, citando até nominalmente desenhistas como o lendário John Byrne ou, visualmente, imagens marcantes de Wolverine nos quadrinhos - é dividido entre Zeb Wells, Rhett Reese, Paul Wernick e os próprios Levy e Reynolds (uma vez que este último improvisa bastante em cena). Geralmente, quando diversos roteiristas contam uma mesma história em filmes, há a impressão de inconsistência se o trabalho não é bem realizado. Aqui, é operante e corresponde à expectativa de quem quer dar algumas boas risadas e talvez, quem sabe, se emocionar um pouquinho. 

Na trama, Deadpool está feliz ao lado de sua namorada e amigos, comemorando seu aniversário, quando a agencia de vigilância do continuum espaço-tempo TVA (do seriado "Loki") o convoca para consertar um problema no Universo Cinematográfico Marvel. Até que esbarra com um certo baixinho peludo chamado... Wolverine


Esse roteiro entrega fan-service até dizer chega. É como aquele amigo que quer agradar a visita mas acaba sendo um pouquinho chato. Porém, ao menos, entrega algo digno dos personagens - na maioria das vezes - e, se ninguém pode dizer que "Ah, Deadpool não faria isso ou aquilo" ou "Wolverine jamais falaria tal coisa".

E mesmo que alguém venha a reclamar sobre o que diabos era a briga entre o casal Slade Wilson e Vanessa (interpretada em pouquíssimas cenas pela brasileira Morena Baccarin) - é explicado mas de forma superficial pelo roteiro -, bem... Não é isso que quem quer assistir um filme chamado "Deadpool & Wolverine" quer ver - e não teria como ser diferente. E, ainda assim, o roteiro entrega algo relativamente satisfatório acerca de questões afetivas do ponto de vista masculino - a questão do "merecimento", "pertencimento" e da "aceitação" por parte da amada - é algo que filmes da Marvel Studios nem se aproximam. Então...

(na verdade, existe todo um mimetismo simbólico entre a relação de Slade & Vanessa ser, na verdade, sobre filmes de super-heróis não terem mais novidades para grande parte do público - e, para muitos, "Logan" foi a última vez em que valeu a pena pagar o caro preço do ingresso)


A direção - e visão - de Shawn Levy é bastante objetiva: entregar o que o povo quer assistir e ir do ponto A ao ponto B. O que tem entre isso? Participações especiais, piadas sobre como o Universo Cinematográfico Marvel está uma bagunça (a piada sobre a "moda" do multiverso é muito boa - e nem é piada, se pararmos pra pensar), referências a diversos filmes Marvel que estavam sob o guarda-chuva da extinta 20th Century Fox (hoje 20th Century Studios), dancinha à la TikTok, briga entre personagens, reconciliação e algum componente de motivação válido para que faça algum sentido esses protagonistas passarem por todo esse perrengue de forma minimamente satisfatória tanto ao grande público quanto a quem acha que o MCU está morto...

As performances da dupla Ryan Reynolds & Hugh Jackman convencem na maioria das cenas - no melhor estilo "buddy cop" - mas derrapam quando há algum componente mais dramático para ser trabalhado. Jackman se sai melhor nesse quesito mas Reynolds ainda tem dificuldade em se equilibrar nesse tênue limiar (ok, para que haja justiça, das três tentativas dramáticas, apenas UMA é bem sucedida por Reynolds). E, óbvio, o timing cômico tanto da dupla quanto da imensa galeria de coadjuvantes e participações especiais funciona a contento.

Sobre as muitas participações especiais, UMA bem específica foi de cair o queixo, mesmo para quem já imaginava que haveria diversos astros e estrelas no filme aparecendo rapidamente. Essa participação é bem rápida, talvez menos de dois minutos, mas deixou um gostinho de "quero mais". O restante é uma gigantesca homenagem a alguns atores que interpretaram personagens Marvel no passado e os defendem pela última (?) vez.


A vilã principal - Cassandra Nova, irmã do Professor Xavier (X-Men) - é interpretada por uma quase caricata Emma Corrin que apenas obedece o que está no roteiro e no que é sugerido pelo diretor, não acrescentando muito ao pouco que lhe é dado. Não faz feio nem se aproxima do que é apresentado na fase escrita por Grant Morrison com a personagem mas também não decepciona.

Outro personagem que tem muita participação importante na trama é Mr. Paradox, defendido aqui por Matthew Macfadyen de forma bem coerente com o papel. Desde o começo da trama, a audiência percebe qual seu real intento ao reunir os antagonistas que precisam colaborar para salvar seus mundos de origem - e essa percepção é mérito mais do ator do que do roteiro.


Ainda que "Deadpool & Wolverine" não tenha grandes intenções de arroubos visuais artísticos, é importante destacar que o resultado PARECE uma história em quadrinhos, algo geralmente raro em filmes desse sub-gênero - que, claro, o diretor de fotografia George Richmond (de "Kingsman - O Círculo Dourado" e "Rocketman") merece todo o crédito por isso, aliado à edição da dupla Shane Reid e Dean Zimmerman. Vale destacar também o figurino concebido por Graham Churchyard e Mayes C. Rubeo - que não será surpresa se concorrerem a prêmios nas próximas temporadas -, além da direção de arte de Tim Blake.

"Deadpool & Wolverine" pode ser considerado o melhor filme dessa "trilogia" - duvido que não haverá outros filmes com o Mercenário Tagarela -, traz de volta um grande ídolo e ainda realiza o feito inédito há alguns anos de "apaziguar" os ânimos de quem não suporta mais assistir a filmes com personagens vestindo o que se assemelha ao que antigos chamavam de "mijões" (pesquise). Esse filme é uma saborosa salsicha, de fato - e só. Vale o hype mas sem exageros.




Kal J. Moon trabalha num emprego ordinário e seu cabelo é penteado de um jeito especial - e não, não é uma peruca...

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