"Me diziam, todo momento / Fique em casa, não tome vento / Mas é duro ficar na sua", já cantava Lucinha Lins em "História de uma Gata", um grande clássico da música popular brasileira, alertando para o "perigo" da domesticação de felinos, em detrimento de sua natureza "selvagem" e, naturalmente, de sobrevivência natural. E o que vemos em "Flow" é que não somente animais podem raciocinar tanto quanto humanos em situações de emergência como a necessidade pode trazer aliados onde originalmente não existiam...
Na trama, um gato solitário que tem seu lar destruído por uma grande inundação e encontra refúgio num barco habitado por diversas espécies, tendo que se juntar a elas apesar das diferenças.
O roteiro de Matiss Kaza & Gints Zilbalodis é tão bem amarrado que nem se dá ao trabalho de explicar o que aconteceu com os humanos durante a grande catástrofe que a trama aborda - até porque não há a menor necessidade, uma vez que se trata de uma jornada de sobrevivência e de como conviver em meio a diferentes (e todas as suas diferenças).
A direção de Gints Zilbalodis pega o que há de melhor no roteiro e transforma em suspense, humor e até momentos de reflexão, tudo em meio à paisagens inóspitas tomadas por águas furiosas (impossível não se lembrar das inundações que ocorreram no Rio Grande do Sul em 2024). Como dito anteriormente, não dá pra saber se a inundação matou todos os humanos - ou todos os gatos, uma vez que somente o gato protagonista aparece em tela - mas, independente disso, o ritmo adotado por Zilbalodis tem uma boa cadência da calmaria do início até às turbulências causadas pela própria natureza.
O jeito que se conta essa singular história e mostrar que qualquer sociedade - mesmo as do reino animal - tem seus líderes naturais e comandados é um achado (que não é nada novo - estão aí "A Revolução dos Bichos", livro de George Orwell ou "FormiguinhaZ", filme de Eric Darnell e Tim Johnson, que não nos deixam mentir), trazendo esse "frescor" aliado ao tema "familiar". Ver em tela bichos tão diferentes quanto uma capivara, uma garça, um cachorro e um lêmure colaborando entre si pelo simples propósito de sobreviver o máximo de tempo possível é lindo e tão atual na sociedade egoísta que temos atualmente...
(e é interessante perceber que nenhum dos animais tem nomes pois, uma vez que retornam à natureza, não há necessidade disso pois são "pobres" porém "livres")
A direção de fotografia traz toda essa gama de cores e aquela vibe meio "Discovery Channel", quase documental mas com um objetivo narrativo bem construído. A trilha sonora instrumental (composta pelo próprio Zilbalodis) evoca todos os elementos necessários nessa narrativa, com algo primordial: traz a ambiência fundamental de se estabelecer sem ser instintivamente percebida.
É uma coprodução da Letônia, Bélgica e França, tem muito menos dinheiro envolvido do que "Robô Selvagem", "Divertida Mente 2" e "Wallace & Gromit - Avengança", mas entrega algo que falta em animações recentes: personagens com que o público possa se importar (e torcer ou lamentar suas perdas), além de uma mensagem de superação porém totalmente realista a respeito das grandes catástrofes naturais. Se vencerá o cobiçado Oscar, só o tempo dirá. Mas não faltam predicados para tal façanha...
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