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CRÍTICA [CINEMA] | "Presença", por Kal J. Moon

Dirigido por Steven Soderbergh, estrelado por por nomes como Lucy Liu, Chris Sullivan, Callina Liang, Eddy Maday e West Mulholland, o filme "Presença" é mais um exemplar de que nem as melhores intenções salvam uma história mal escrita e pessimamente encenada...


Forma versus conteúdo
Num trecho de nossa crítica ao filme "Kimi - Alguém Está Escutando" diz que "Vivemos em uma sociedade (ha!) em que a mensagem transmitida deve ter a menor quantidade de obstáculos para que a audiência absorva seu conteúdo de forma mais imediata". A dupla Steven SoderberghDavid Koepp - diretor e roteirista tanto de 'Kimi' quanto de 'Presença' - aparentemente está seguindo essa regra à risca quando se trata da produção de novos filmes.

Na trama de "Presença", a bem sucedida Rebekah, seu marido e dois filhos começam a sentir uma presença estranha ao se mudarem para uma nova casa. Sob o ponto de vista da fantasma, acompanha-se como a dinâmica familiar é perturbada por um passado que os assombra, enquanto testemunham-se momentos íntimos e desconfortáveis. A fantasma tem uma estranha fixação pela filha de Rebekah e, mais do que querer algo, parece precisar de algo...


Em 'Kimi', Soderbergh tinha o desafio de filmar durante a pandemia, com elenco diminuto e produzindo diretamente para uma grande plataforma de streaming - algo que ainda era considerado uma novidade na época. Aparentemente, não havia a necessidade de que o produto audiovisual tivesse algum nível de qualidade, mas, sim, que fosse entregue de forma rápida e minimamente eficiente.

O mesmo "desafio" parece ter sido aceito em "Presença", mas agora abordando a questão do avanço tecnológico: realizar filmagens utilizando, na maioria das cenas, um drone, a fim de simular o ponto de vista de um... fantasma. Tecnicamente falando, o resultado é efetivo - mérito da direção de fotografia comandada pelo próprio Soderbergh (que assina como "Peter Andrews" - ele também assina a edição como "Mary Ann Bernard"!) -  pois, por falta de um usuário humano manipulando a câmera manualmente ou com auxílio mecânico, traz essa "artificialidade" e até uma certa "fluidez" imagética ao que poderia ser um olhar "sobrenatural" às situações apresentadas na trama.

O problema é que a premissa apresentada até se faz convidativa mas o conteúdo oferecido não vale um tostão de nossa preciosa atenção. A começar pelo elenco: a maioria aparenta dispersão em meio à tecnológica filmagem, lembrando uma peça de teatro bem qualquer nota (ou mesmo um ensaio, tentando alcançar as ânsias de seus personagens - o que, por si só, é bem pior e demonstra a falta de cuidado da direção, que não conseguiu criar uma ambientação propensa à boas performances).


A única exceção ao elenco mais perdido que deficiente visual em operação policial na periferia é a do ator Chris Sullivan (de séries como "This Is Us") - mais por conta da trama de seu personagem, que vive um dilema e precisa decidir entre separar-se de sua esposa ou manter um casamento de fachada por mais tempo. O ator entrega algo crível, de quem está passando por um problema real e ainda tem que lidar com o afastamento da esposa em relação à sua filha (e que não se sabe o motivo de tal comportamento), além, claro, de um fenômeno sobrenatural ocorrendo em seu próprio lar - sua atuação é o único motivador que torna a experiência um pouco mais palatável de se aturar.

O elenco mais jovem (Callina Liang, Eddy Maday e West Mulholland) atua como se não soubesse o que a direção precisa e entrega o pouco que pode, sem ser, necessariamente, o necessário para contar melhor essa história. E olha que os personagens desse trio são responsáveis pelo avanço real da trama e principais reviravoltas... O que dizer de Lucy Liu? Se tem uma pessoa no elenco atuando mecanicamente e apenas "garantindo o dinheiro do aluguel", é a interprete da série "Elementary" e do recente filme "Operação Natal" - e ela já não entrega uma performance digna de nota há uns bons anos...


Porém, por mais que se possa atacar o que o elenco deu de si em cena, é necessário falar do paupérrimo roteiro escrito por David Koepp (do já citado "Kimi" e da recente bomba "Indiana Jones e a Relíquia do Destino"). O veterano roteirista já foi responsável por diversos sucessos do cinema (os primeiros "Jurassic Park" - aquele, dirigido por Spielberg -, "Missão: Impossível" - aquele, dirigido por De Palma - e "Homem-Aranha" - aquele, dirigido por Raimi).

O que ocorre com a combalida atual fase do roteirista é um claro sinal da falência da indústria cinematográfica, que abarca projetos cada vez mais medíocres, mas que sejam realizados o mais rápido possível e com um conteúdo cada vez mais fácil de se digerir pela atual audiência. Mesmo assim, vale destacar a rasa ideia de que existe alguma dicotomia sobre a real identidade da figura fantasmagórica que permeia aquela moradia e "persegue" a filha daquela família. Se fosse melhor explorada - em vez de dar apenas uma dica no roteiro -, o resultado pudesse render algo bem interessante. Talvez seja o momento ideal para desfazer a parceria com Soderbergh...


"Presença" é baseado numa ideia frágil, muito mal dirigido, igualmente mal escrito e mal atuado, porém tecnicamente interessante. Mas, enquanto experiência, é como ver um aficionado por tecnologia brincando com um novo gadget. O melhor predicado a respeito da obra é durar menos que uma hora e meia...


Kal J. Moon vê algo fantasmagórico toda vez que se olha no espelho...

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