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CRÍTICA [CINEMA] | "Missão: Impossível - O Acerto Final", por Kal J. Moon

Dirigido por Christopher McQuarrie,  estrelado por nomes como Tom Cruise, Simon Pegg, Ving Rhames, Hayley Atwell, Vanessa Kirby, Pom Klementieff, Hannah Waddingham, Nick Offerman, Esai Morales, Rolf Saxon, Shea Whigham e Angela Bassett - dentre muitos outros -, o filme "Missão: Impossível - O Acerto Final" é o perfeito exemplo de como atualizar uma longeva franquia cinematográfica sem desrespeitar suas origens...

Blockbuster elegante
A franquia "Missão: Impossível" tenta, há anos, se diferenciar e desvencilhar de sua maior referência: a franquia "007 - James Bond". Surgida nos anos 1960 como uma série de TV de grande sucesso - criação de Bruce Geller (1930-1978) e seus asseclas -, chega às telonas em 1996, exatos 30 anos após sua estreia na telinha. E agora, quase três décadas depois, temos uma espécie de despedida da versão cinematográfica - ou, pelo menos, umas merecidas férias... 

Na trama - continuação direta de "Missão: Impossível - Acerto de Contas" -, Ethan Hunt se depara com o ultimato de um perigoso programa de inteligência artificial, que parece prever todos os seus movimentos e pode causar um desastre se cair em mãos erradas. Depois de escapar de um perigoso acidente de trem, Ethan e sua equipe percebem que a chave para controlar a inteligência artificial está escondida a bordo de um antigo submarino russo, mas um inimigo do passado de Ethan também está em busca disso. Se não conseguirem "desligar" a inteligência artificial a tempo, o planeta pode ser aniquilado por conta de uma hecatombe nuclear...

O roteiro - de autoria de Erik Jendresen (da cultuada minissérie "Band of Brothers" e do já citado filme anterior) e do próprio McQuarrie - tem mais a dizer do que somente frases de efeito, ganchos de esquerda e peripécias mil. O texto é um grande esforço para que os problemas sejam resolvidos após pensar muito a respeito (porém, com pouco tempo para tal façanha). E esse esforço se reflete em tela pois, por mais estranho que possa parecer, "Missão: Impossível - O Acerto Final" é, talvez, o exemplar da franquia com menos cenas de ação - mas, curiosamente, é também o mais intenso em matéria de inteligência de trama, tornando-o o mais "cerebral".

Tudo o que ocorre em cena é resolvido não somente com diálogo mas também com inteligência. Diversas decisões precisam ser tomadas levando em consideração que quem está do outro lado da moeda vai reagir à altura e, portanto, existe a necessidade de prever os movimentos do (s) adversário (s) - como numa tensa partida de xadrez.


Ainda sobre roteiro, mesmo que exista um ou outro furo - como não esclarecer muito bem como a inteligência artificial controla a mente das pessoas ou alguém sobreviver a uma descarga elétrica em alto-mar e sobreviver no processo -, a decisão de trazer diversos personagens e situações de outros exemplares da franquia (especificamente do primeiro, terceiro e sexto filmes - trouxeram de volta um personagem do primeiro filme que, originalmente, só apareceu por alguns segundos!), mas, de forma muito orgânica, expondo em diálogos qual a conexão de cada elemento apresentado, torna esse oitavo capítulo perfeito para quem nunca assistiu, pois estará integrado à história sem precisar maratonar quase vinte horas de Ethan Hunt e equipe salvando o mundo...

Porém, por conta de ser um texto mais rebuscado e exigente da atenção da plateia, talvez parte do público atual possa achar este filme um tanto enfadonho. Entenda: até mesmo a mais trivial conversa travada neste filme move a trama adiante mas, para muitas pessoas, ver gente conversando em ver de dar tiro e porrada não seja algo atrativo num filme.


Na parte das atuações, os grandes destaques são para o veterano Ving Rhames (que participou de todos os filmes da franquia) e a também veterana Angela Bassett. Ambos são atores afrodescendentes e detém o potencial dramático da trama. Rhames entrega a mentoria necessária para que Cruise possa brilhar, com falas que são verdadeiros conselhos para a vida toda - algo emocionante de se ver.

Bassett
(cuja personagem já participou da franquia em "Missão: Impossível - Efeito Fallout" e agora é presidente dos Estados Unidos) expressa bem toda a preocupação e responsabilidade de ser a responsável pela morte de outras milhares de pessoas em prol do bem maior. Sua última cena é de marejar os olhos, por conta do impacto emocional criado anteriormente...


O que dizer de Tom Cruise? Estavam pensando nele quando criaram o velho adágio "Sabendo que era impossível, foi lá e fez". A "peripécia final" em que Cruise se mete - sim, a tal cena do avião - tem todos os elementos para um ótimo filme de ação: é tensa, narrativamente perfeita e deixa a audiência agoniada para saber o desfecho.

Mas, dito isso, talvez seja a primeira vez que enxergamos Cruise como um senhor de mais de sessenta anos de idade - ainda que Sean Connery, Roger Moore e Daniel Craig tenham feito filmes de ação após os 50, a maioria desses nomes não realizava as próprias cenas sem auxílio de dublês... E, se este oitavo filme for mesmo o último, entrega com chave de ouro no quesito cena de ação.


Ainda não se sabe o que Thomas Mapother Cruise IV fará em seguida, uma vez que, recentemente, assinou um contrato com a Warner Bros. Pictures para desenvolver projetos cinematográficos no estúdio da caixa d'água - o primeiro, provavelmente, seja o misterioso filme comandado pelo vencedor do Oscar Alejandro G. Iñárritu (mas isso ainda não é cem por cento certeza).

O restante do elenco está operante - com exceção da caricatura ambulante de Esai Morales como um dos vilões (sim, tem mais de um!) -, com um conjunto coeso de coadjuvantes, mas nada que realmente se destaque dos demais. Uma pena que a personagem de Pom Klementieff teve pouco aproveitamento, com algumas ações importantes e apenas uma cena de ação. Também vale mencionar que o personagem interpretado por Shea Whigham serve mais como retcon do que, necessariamente, acrescentar algo valioso à trama...


Nos quesitos técnicos, vale destacar a direção de fotografia comandada por Fraser Taggart (também do filme anterior), aliada à esperta edição de Eddie Hamilton (indicado ao Oscar por seu trabalho em "Top Gun: Maverick"). Em pelo menos um momento específico, ambos entregam a imagem mais poética de toda a franquia - e que simboliza que o personagem defendido por Cruise vai se arriscar ao máximo para cumprir sua missão.

Outro merecido destaque técnico vai para a inspirada e grandiosa trilha sonora composta pela dupla Max Aruj (do obscuro filme "Missão Resgate") e Alfie Godfrey (da série "A Roda do Tempo"). O ato de reinventar o clássico tema do seriado criada pelo argentino Lalo Schifrin utilizando instrumentos musicais de alguns países - como os tambores africanos ou operísticos instrumentos russos de corda - torna essa, provavelmente, a mais marcante de todos os exemplares da franquia.


"Missão: Impossível - O Acerto Final" é blockbuster com 'b' de 'bom pra cacete'. Vale assistir numa boa sala de cinema para ver o que esses realizadores fizeram. Não é o 'fast-food cinematográfico' que estamos acostumados pois esse filme é um banquete muito bem servido, com Cruise e companhia entregando entretenimento como há muito tempo não se vê - e, esperamos, que não seja pela última vez. Boa sorte aos realizadores do próximo filme do personagem criado por Sir Ian Fleming pois vão precisar...



Kal J. Moon salva o mundo todo dia pela manhã e procura não usar internet demais. O problema é que ele trabalha com isso...

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