Eis que finalmente assisti o filme do "Mestre da Magia Negra" ops..., digo, "Mago Supremo" Doutor Estranho.

De todos os filmes anunciados pela Marvel Studios para terceira fase de seu universo cinematográfico, Doutor Estranho era o que eu estava esperando com mais ansiedade. Especialmente por causa do personagem: O enigmático Stephen Strange, um médico extraordinário, porém narcisista que, após um acidente  automobilístico, se torna um dos seres mais poderosos da Marvel.

Publicado pela primeira vez, nos EUA, na revista Strange Tales, edição 110 de 1963, Stephen Strange caiu no gosto do público e teve sua origem contada na edição 114, em uma história de apenas 9 páginas. Desenhada por Steve "Sultão do Sobrenatural" Ditko e escrita por Stan "Vice-Rei do Submundo" Lee, esta curta apresentação de seu exórdio bastou para servir de base para o roteiro do filme, co-escrito pelo diretor Scott Derrickson em parceria com Jon Spaihts e C. Robert Cargill. Com sutis diferenças em relação ao cânone dos quadrinhos, não temo dizer que Doutor Estranho é o filme mais fiel da Marvel Studios em relação à Marvel Comics até o momento.

Dinâmico, o roteiro tem uma narrativa linear e atos enxutos. Deste modo, Doutor Estranho é ritmado e agradável de assistir. Além disso, não resta dúvidas de que a teoria do monomito, de Joseph Campbell, influenciou o modo como a jornada de Stephen Strange foi contada no filme. Porém, tal arrojo engessou um pouco a história, que não traz reviravoltas ou situações imprevisíveis.

Previsíveis também foram as piadinhas sem graça, comuns em filmes da franquia. Já imaginava que elas seriam frequentes e inconvenientes para meu desprazer. Eram tantas, que num momento chave, logo no final do filme, Stephen faz uma escolha importante para a composição do personagem, que tem a ver com a compreensão de sua função no mundo místico, com sagrado ofício, e a galera estava rindo, achando que era apenas mais uma anedota qualquer.

A também previsível participação especial de Stan Lee é legal dessa vez, por ser contextualizada. Faz referência à Aldous Huxley e tem tudo a ver com a situação que está acontecendo ao redor do velho editor da Marvel Comics.

Também sempre presentes nos longas marvetes, Doutor Estranho tem duas cenas pós-créditos. A primeira faz referência à um dos próximos filmes do Universo Cinematográfico Marvel e a segunda à sequência das aventuras de Stephen Strange, já oficialmente confirmada no final do filme. O legal é que, dessa vez, as duas cenas são animais e importantes. Coisa que não acontece desde de Os Vingadores, de 2012.


Filmado com tecnologia 3D de primeira, vale à pena assistir o longa em salas de terceira dimensão (melhor ainda se for em IMAX, XD ou assemelhadas), pois além de ter sido bem renderizado, o filme é um verdadeiro show de efeitos especiais, especialmente durante as batalhas entre os magos do bem e do mal. Só preciso deixar registrado que o trabalho de chroma key deixa um pouco à desejar, acredito que por problemas na iluminação do estúdio, que destacou os personagens do cenário virtual. Isso não acontece o tempo todo, mas rola em algumas cenas.

A direção de fotografia de Ben Davis, o mesmo de Guardiões da Galáxia e Vingadores: Era de Ultron, é bastante interessante. As locações também são bem escolhidas, em especial nas cenas em Kathmandu, no Nepal e em Hong Kong, na China.

Benedict Cumberbatch interpreta Stephen Strange. Indicado ao Oscar, versátil e  talentoso, Cumberbatch transita entre os mais variados gêneros e mídias. Apesar de sua presença constante no cinema e na TV, ainda não me cansei dele. Adorei sua encarnação de Strange, pois ele literalmente tirou o personagem das páginas dos gibis e encarnou-o.

Seu inimigo neste longa é Kaecilius, interpretado por Mads Mikkelsen, mais conhecido pelo seu papel como Dr. Lecter, na série de TV Hannibal. Com seu jeitão antipático, Mikkelsen convence como o ameaçador vilão da vez, apesar do personagem estar diferente de sua versão em quadrinhos.

Mordo, que como Zemo em Capitão América: Guerra Civil, perdeu seu título de Barão no cinema, é interpretado por Chiwetel Ejiofor, que também já foi Indicado ao Oscar de Melhor Ator, em 2013, por 12 Anos de Escravidão. Mordo é outro personagem que está diferente de seu equivalente nas HQs, e não só na questão étnica. A alteração foi positiva e contribui pra fluência do roteiro, principalmente pelo fato de que, conforme a trama é desenvolvida, essa diferença vai ficando cada vez menor.


Rachel McAdams interpreta Christine Palmer, personagem coadjuvante da revista em quadrinhos Linda Carter: Enfermeira da Noite, que era publicada no Brasil, nos anos 70, pela Editora Gorrion. Criada por Jean Thomas e Win Mortimer, Palmer fez aparições  em vários outros gibis Marvel, sempre auxiliando os heróis feridos. Foi muito interessante ver McAdams cumprindo esta mesma função em Doutor Estranho. A canadense foi indicada ao Oscar este ano por Spotlight: Segredos Revelados e já se firmou como uma das mais talentosas e icônicas atrizes de sua geração. Tomara que, como sua personagem nos quadrinhos, Rachel faça aparições em futuros filmes do Universo Cinematográfico Marvel.

Já a vencedora do Oscar, Tilda Swinton, interpreta a Anciã, ser de vida longeva e dominador dos conhecimentos ocultos do Multiverso, o conjunto de universos paralelos que pela primeira vez é citado em um filme da Marvel Studios. Sua performance é de longe a mais memorável do filme e a aparência naturalmente estranha e voz cadenciada da atriz casaram perfeitamente com a personagem, mesmo que nos quadrinhos esta seja um homem idoso. Perfeita.

Doutor Estranho é um filme com elenco de primeira, roteiro burocrático e que vai certamente agradar até o fã de gibis que achava as aventuras místicas de Stephen Strange enfadonhas. Vale conferir.



Marlo George assistiu, escreveu e tomava muito Yakult ao som de Bob Seger...